quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sessenta anos de telenovela

Neste mês a telenovela brasileira fez 60 anos. Pode-se dizer que ela é uma senhora respeitável e mantêm-se firme e forte no imaginário popular. Há pelo menos trinta anos as acompanho e, assim como milhares de brasileiros, costumava fazer uma associação entre o momento de vida que atravessava e a novela exibida na ocasião. Houve um tempo em que as trilhas sonoras de personagens marcantes também embalavam cenas do nosso cotidiano. Ficção e vida real se entrelaçavam, de fato. Talvez as novelas de hoje não sejam tão marcantes, uma vez que você a esquece assim que sua sucessora entra no ar. Há alguns anos atrás, você ouvia a música e sabia de quem era o tema. Além disso, era comum haver um luto maior quando o último capítulo de uma (boa) novela era exibido.

Resolvi fazer uma pequena listinha (já que estamos na época das listas) de nove novelas que marcaram minha vida de alguma forma. Talvez não sejam as melhores, em se tratando de teledramaturgia, mas foram as minhas. Vamos a elas:

Pai Herói (1979) - Janete Clair



Já escrevi sobre a novela aqui. André Cajarana (Tony Ramos) é o mocinho que busca a verdadeira história de seu pai, já morto.É a primeira novela de que tenho lembranças nítidas, e eu sequer sabia ler. A abertura era bem marcante e trazia um quebra-cabeças com a figura de um pai dando as mãos para um filho pequeno. A trilha sonora da novela, que trazia desde hits disco a uma balada francesa ("Allouette") me emociona até hoje. Sonhava com o dia em que pudesse ir para a discoteca, lugar em que iam minhas primas, já moças. O primeiro elogio de um menino que recebi foi durante "Pai Herói". Disse ele: "Você é mais bonita que a Carina". Carina era a mocinha interpretada por Elizabeth Savalla. Não existia, na época, elogio melhor.

Guerra do sexos (1983) - Silvio de Abreu

 O  primeiro grande sucesso de Silvio de Abreu, que já havia escrito "Jogo da vida" e "Pecado Rasgado", todas das sete. Silvio de Abreu ainda é um grande apaixonado pela cidade de São Paulo, cenário da maior parte de suas obras.  A primeira vez que fui a São Paulo foi durante a exibição de "Guerra dos sexos", ambientada lá, especialmente no shopping Eldorado, que também tinha o "Parque da Mônica". O caos paulistano, os parques e shoppings, novidades para uma menina do interior, me foram apresentados pelo olhar de Silvio de Abreu. A novela, de temática feminista, era engraçada e tinha um apelo grande com as crianças. E Maitê Proença parecia ser a mulher mais linda do mundo.

Maitê e seu cabelo pigmaleão

Vereda Tropical (1984) - Carlos Lombardi e Silvio de Abreu

A única novela do Lombardi que eu gostei do início ao fim (ainda que não tenha sido totalmente escrita por ele). Tinha a cantina italiana da dona Bina (Georgia Gomide), tinha o Mario Gomes que jogava futebol (o Luca), tinha o Jonas Torres antes de ser o Bacana, tinha o Marcos Frota de Super Téo. Também era uma novela fácil das crianças gostarem. Jonas Torres era o menino disputado por uma mãe solteira e batalhadora (Silvana, de Lucélia Santos) e o avô rico dos "cabelo fofo de algodão" (seu Oliva, de Walmor Chagas). O drama da mãe pobre que queria criar seu filho comovia, embora, no geral, a novela fosse muito leve e engraçada. Mario Gomes chegou a gravar um disco e cantar no Chacrinha por conta de seu sucesso como Luca.

Ti ti ti (1985/86) - Cassiano Gabus Mendes

Cassiano Gabus Mendes, um dos meus novelistas favoritos. "Ti ti ti" marcou minha pré-adolescência. Já estava também mais vaidosa e começava a me interessar por moda, um dos temas principais da novela. Eu realmente acreditei que o Boka Loka faria o garoto que eu gostava me tirar para dançar no bailinho de garagem. Pura ilusão.Victor Valentim me enganou.  A trilha sonora que contava com a cortante "Lover Why" embalou meu primeiro amor não correspondido. Este, a gente nunca esquece.

Roque Santeiro (1985/86) - Dias Gomes e Aguinaldo Silva

Era a novela das oito, enquanto "Ti ti ti" era exibida às sete. Cheguei a usar uma faixa igual a da Porcina. Foi também a época em que fui ao show do Menudo e assisti a alguns shows do primeiro Rock in Rio na tevê. A temática política, abordada na novela, não era muito clara para mim. No entanto, conseguia entender a hipocrisia que reinava naquela cidade pequena. Asa Branca poderia ser muito bem a cidade em que eu morava na época. De fato era um microcosmo em que a gente podia enxergar figuras muito familiares do nosso convívio. Comecei a me interessar por política aí. Noveleira não necessariamente é um ser alienado, mesmo aos 11 anos de idade.

Vale Tudo (1988/89) - Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Leonor Basséres


A franjinha "fashion" de Lídia Brondi

Vale Tudo foi exibida durante a minha oitava série. Tenho o ano todo registrado em uma agenda que eu NÃO joguei fora (me internem). Tomei meu primeiro porre com licor de chocolate (duas taças, três?) e me chamaram de Heleninha Roitman. Cortei a franja como Solange Duprat (Lídia Brondi), mas não conseguia colocar aqueles palitos no cabelo. Cássio Gabus Mendes, que fez o Afonso, era o meu mocinho preferido de novelas, apesar de não ser lindo. Aliás, eu nunca gostei muito dos lindos. Até hoje é assim. Odiava Maria de Fátima com todas as minhas forças, mas tinha simpatia pela dona Odete. Mandei carta para a promoção do caldo Maggi da galinha azul, mas não adivinhei que a assassina era a Leila (Cássia Kiss). Aliás, não lembro quem eu achava que era. Ainda bem, porque cultura inútil tem limites.

Mulheres de Areia (1993) -  Ivani Ribeiro

Segundo ano de faculdade. Queria chegar logo da aula para não perder a novela. Os efeitos especiais que faziam Glória Pires (Ruth e Raquel) contracenar com ela mesma eram novidade na época.
Foi um tempo em que virei "bicho grilo". As saias longas e shorts coloridos com keds brancos faziam o maior sucesso pela USP afora. Os olhos pintados de cajau como os da Malu (Viviane Pasmanter) também. Guilherme Fontes (pasmem!) era o galã da vez. Eu preferia o Leonardo Vieira, que despontava como estrela na novela das oito dos idos de 93 ("Renascer"). A fita K7 com "Easy" (do Faith no more) eu escutei até gastar. Acabou cozinhando dentro do toca-fitas do carro sob o sol escaldante de Ribeirão Preto.

Éramos Seis (1994) - (adaptação de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho da obra de Maria José Dupré)

Tentativa de resgate do núcleo de teledramaturgia do SBT que deu certo. A novela ganhou o APCA de melhor novela do ano. Era para estrear um dia depois da morte de Ayrton Senna, estréia que foi adiada. Toda a programação da tevê só falava de Senna, inclusive em busca de audiência.
Eu, como fã do livro, assisti a novela do início ao fim. Cheguei a escrever uma carta para o Tarcísio Filho, que interpretou o Alfredo, para elogiar sua atuação. A cena em que o personagem se despede de sua mãe Lola (Irene Ravache) antes de partir para a guerra me fez chorar litros.

Laços de família (2000) - Manoel Carlos

É minha Helena preferida de Manoel Carlos, já falei aqui no blog. Muitos achavam que Vera Fisher não daria conta, mas ela fez bem o papel, ainda que com os seus sussuros de hábito ("Eduuuuuuuuuu..."). O tema de Helena cantada por Daniela Mercury ("Como vai você", de Antônio Marcos) marcou especialmente a minha vida. Também foram marcantes as sátiras feitas pelo Casseta e Planeta, com Bussunda trajando os vestidos com estampa de onça da "dona Helena". Helio de la Peña fazia a Zilda, a empregada de mil e uma utilidades.

O ano 2000 foi um ano em que trabalhei muito, vivi muito e amei também. Pensei até em me mudar para o Rio de Janeiro, a terra de Manoel Carlos, mas fiquei por aqui mesmo.

Bem, são essas. Escolhi nove novelas, a maioria globais e entre os anos 70 e 80, os anos de auge das novelas brasileiras (e também quando eu tinha mais tempo de assistir televisão). E você, qual novela marcou sua vida? Quer dar sua opinião aqui no blog?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Eu quero trabalhar no Vídeo Show...

- O que você quer ser quando crescer?
- Psicóloga.
- É? E você sabe o que uma psicóloga faz?
- Ela ajuda as pessoas que estão tristes a ficarem melhor.

Assisti, espantada, a essa entrevista em um desses documentários da tevê a cabo. Houve outras, mas chamou-me a atenção o fato daquela criança de cinco anos querer ser... PSICÓLOGA. Eu nunca tinha visto uma criança querer ser psicóloga, muito menos com cinco anos. Nenhuma criança no meu tempo queria isso e muito menos tentava explicar o que era. Tirando as campeãs bailarina e cantora, a gente brincava de ser vendedora, dentista, secretária, mas de psicológa, jamais. Aliás, eu nem sabia o que era.
Na verdade, assim que fui alfabetizada, respondi a um questionário em que constava a pergunta fatídica "o que você vai ser quando crescer". Eu respondi, mal terminada a "Caminho Suave" que queria ser "escritora". Dois anos depois eu acrescentei que queria ser escritora e "trabalhar no Vídeo Show".

Tássia Camargo (lembram?) a primeira apresentadora do Vídeo Show
O Vídeo Show passava aos domingos e era uma espécie de Fantástico à tarde, um show de variedades com imagens interessantes, inclusive as antigas, do arquivo da Globo. Aliás, esta era a parte que eu mais gostava: o arquivo.


O primeiro logo da Globo
Todas aquelas cenas de novelas antigas de quando eu nem era nascida, aqueles comerciais da Kolinos, da Varig e dos cobertores Paraíba de 1900 e guaraná com rolha... Ah, como eu gostava daquilo. Tanto gostava que cheguei a decorar algumas cenas de "Selva de Pedra" e "Irmãos Coragem", sem nunca ter assistido na íntegra. Minha memória afetiva era a do Vídeo Show.

Depois o programa passou a ser ao sábados e cada vez mais trazia reportagens sobre os programas da Globo e seus bastidores. O principal  quadro das coisas antigas era o "Túnel do Tempo". O que você estava assistindo no dia 29 de Junho de 1979? Impossível não lembrar da Cissa Guimarães e sua voz sussurrada "direto do túnel do tempo".

Aliás, outra das coisas que eu gostava muito era um quadro do "Qual é a música" do eterno Silvio Santos que se chamava "Vitrola Musical". A vitrola tocava umas músicas cheias de chiado para que o Silvio perguntasse: "Fulano de tal, de quem é essa voz??"


Silvio Santos, o pândego

Geralmente era um povo do além (Aracy de Almeida, Orlando Silva, Emilinha Borba, Linda Batista, etc). Foi assim que eu aprendi a reconhecer os cantores do rádio, grandes vozes que fizeram sucesso nos anos 40. Silvio costumava ser sádico: "Esta música foi gravada antes de 1943 ou depois de 1943?" Eu vibrava quando acertava. A princípio, no chute. Depois fui aprendendo.

O tempo passou, o Vídeo Show passou a ser diário e caiu em qualidade e neurônios. Seu Silvio continua firme e forte no seu domingão o quanto pode. E eu, voltando ao diálogo que inicia este post, tornei-me psicóloga ao crescer, o projeto da menininha de cinco anos que não quer ver as pessoas tristes. Minha escolha pela psicanálise me faz lembrar de uma frase que a psicanalista Diana Corso escreveu dia desses:

"Psicanálise não deixa de ser uma oficina de escrita: diários prolixos, contos arrebatados, meticulosas novelas de fôlego. Edito, apenas."
 
 
Não me tornei escritora, nem trabalho no arquivo do Vídeo Show. Sendo uma boa editora das pequenas ficções humanas, dou-me por satisfeita. E feliz pelas crianças, hoje, terem curiosidade em saber o que, afinal, faz um psicólogo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Tudo o que eu queria te dizer...

"Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer hoje". Esta máxima é recorrente contra os procrastinadores de plantão que somos todos, uns mais, outros menos. Em contrapartida, fala a favor dos impulsivos que telefonam (ou tuítam) bêbados de madrugada. Soninha Francine, que é colunista da revista Vida Simples, problematiza esta afirmação em sua coluna deste mês. Embora às vezes a espera possa ser fatal, adiar pode ser uma benção. A decisão, no entanto, de quando fazer uma coisa ou outra não é tão fácil assim. Palavra dita não volta atrás. Mas o tempo perdido também não.

Uma das coisas bacanas do (quase) finado orkut, eram as comunidades. Depois virou uma várzea, mas no início era um espaço interessante para trocar informações e conhecer pessoas. Uma das comunidades era uma que falava de escritos não enviados ("Escrevi, mas não mandei"). O pessoal relatava cartas ou e-mails escritos e não mandados; alguns pediam opinião e depois compartilhavam as repercussões. Quem aqui nunca apertou a tecla send e se arrependeu que atire a primeira pedra. Eu sou do tempo do correio e já cheguei a pensar em interpelar o carteiro para que a carta não chegasse. Em tempos de internet e sms, a coisa é muito mais fatal.


Martha Medeiros, outra das escritoras super citadas, escreveu um livro interessante sobre o tema. É um livro de cartas ("Tudo o que eu queria te dizer") e traz diversos tipos delas: de filha para mãe, de fã para ídolo, de amante ressentida, etc. Todas são fictícias, mas é fácil se identificar em ao menos uma delas.

O efeito de uma mensagem, ainda mais escrita, nunca é completamente previsível. Como se escreveu? Como será lida e em quais circunstâncias? Sophie Calle, uma escritora francesa, enviou a carta de rompimento de seu ex-namorado para 107 mulheres para que elas dissessem o que achavam e como a interpretavam. Das mais diversas opiniões, ela fez uma exposição de arte. Na FLIP de 2009, ela e o ex se encontraram pela primeira vez pós-carta em uma mesa para um confronto. Foi o máximo que vi de onde uma carta escrita poderia chegar. E de como palavras ditas de forma infeliz podem ter um eco absurdo.

Enfim, uma tática interessante (e conhecida) é mandar para si mesma o e-mail (carta, sms, whatever) e ler um dia depois. Escritos sob forte emoção podem soar ridículos e malucos para quem lê e não está na mesma vibe. Já escrevi um e-mail de madrugada que começou cordial, evoluiu para uma série de impropérios e terminou com um obrigada. Não ganhei tempo com ele, não me aliviou em nada e a palavra escrita foi e não voltou. Há coisas que devem ser ditas sim, aqui, agora e para o destinatário correto. Há aquelas que podem esperar. E outras tantas, bem... guarde-as ou jogue-as fora se não servirem mais.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mais Almodóvar...

Este é um post antigo que escrevi a propósito de "Fale com ela", de 2006. O blog no qual eu publiquei o texto original está com acesso difícil. Na época, eu escrevi sobre meus diretores favoritos, entre os quais o cineasta espanhol.

Grandes diretores: Pedro Almodóvar

Almodóvar é diretor, ator, roteirista e cantor, dos mais famosos da Espanha desde Carlos Saura e Luis Buñel, referências importantes do cinema espanhol. Seus filmes têm uma marca intensa; há toda uma galeria de personagens "almodovarianos" facilmente reconhecíveis.

Comecei a assistir a seus filmes com "O matador" (1986) e "Áta-me" (1990), ambos com seu ator-fetiche da época: Antonio Banderas, que, aliás, perdeu muito de seu encanto ao "migrar" para Hollywood e casar-se com Melanie Grifith.
Almodóvar costuma tratar os dramas humanos elevados à décima potência, especialmente os do universo feminino. No entanto, seus últimos filmes têm perdido um pouco das "tintas fortes" (leia-se muito sexo, diálogos picantes, humor cáustico e violência) e se tornado mais dramáticos, ternos e auto-biográficos. Embora não tenha visto "Volver" (2006), o mais recente, com Penélope Cruz, gostei muito de alguns dos seus últimos. "Tudo sobre minha mãe" (1999) e "Fale com ela" (2002) são obras primas.



Antes de assistir ao filme, li que "Fale com ela" era um drama "almodovariano" que tratava do universo masculino, após um filme muito "feminino" que havia sido "Tudo sobre minha mãe". Na verdade, eu ainda acredito que Almodóvar fala também da mulher neste, mas através dos olhos e do entendimento de dois homens distintos, mas sensíveis e (por que não?) femininos. Os homens deste filme fogem completamente do estereótipo do macho latino.

A primeira cena do filme dá a idéia do que virá depois. Dois homens sentam-se lado a lado para assistir a um espetáculo de dança. No espetáculo, duas mulheres expressando muito sofrimento dançam e um homem tenta ter acesso às duas, sem sucesso. Enquanto a peça corre, um dos homens da platéia (o jornalista Marco -Darío Grandinetti) chora copiosamente enquanto é observado com curiosidade pelo enfermeiro Benigno (Javier Cámara). Acredito que a temática do filme seja justamente esta: a dificuldade do acesso ao amor de uma mulher e ao que uma mulher deseja. Enquanto Marco, após uma decepção amorosa, ira se envolver com uma mulher fálica, uma toureira com sucessivas relações fracassadas, Benigno está há quatro anos cuidando e amando uma mulher em coma após um acidente de carro. Com esta mulher, aliás, ele mal havia trocado algumas palavras, antes do acidente ocorrer. A vida desses dois homens irá se cruzar novamente ao longo do filme, bem como suas tentativas de amar e compreender as mulheres.


Segundo a psicanalista Sylvia Loeb, (...)"Freud via as mulheres como enigmas de difícil resolução, não conseguia compreendê-las, comparava-as a um imenso continente africano, exótico, diferente, intangível.Um dia, desanimado, perguntou-se: " O que quer uma mulher?" Questão à qual jamais logrou responder satisfatoriamente.Almodóvar responde a essa questão no próprio título de seu extraordinário filme: "fale com ela", diz Almodóvar a Freud: fale com ela."

Curiosidades:


- Este filme foi indicado ao Oscar de melhor direção, mas apenas ganhou o de melhor roteiro, em 2003.


- Caetano Veloso, amigo pessoal de Almodóvar, aparece cantando em cena, neste filme. A música é "Cucurucucu Paloma".


- Há uma outra música, lindíssima ("Por toda minha vida", de Tom e Vinícius) cantada por Elis Regina que serve de pano de fundo para uma grande cena do filme.

domingo, 20 de novembro de 2011

A "Tarântula" de Pedro Almodóvar


"Nossa, de onde alguém tira um roteiro desses? Só poderia ser o Almodóvar..."

Esta foi a primeira frase que disse ao sair do cinema depois de assistir "A pele que habito". No entanto, o roteiro não era de Almodóvar. "A pele que habito" é a adaptação do romance "Tarântula", do francês Thierry Jonquet. Trata-se de um filme com cores fortes, mas menos alegre e infinitamente mais tenso dentro da filmografia de Almodóvar. No entanto, estão lá a paixão, o drama, as belas canções, Marisa Paredes e Antonio Banderas, marcas registradas dos bons filmes do diretor espanhol.

Pelas mãos do diretor que o lançou, Banderas interpreta um soturno cirurgião plástico, um misto de médico e monstro vingador. Ele mantêm aprisionada uma mulher misteriosa e belíssima (Elena Anaya) dentro de uma mansão em Toledo. Alternam-se por ela repulsa, desejo e ternura. Quem, afinal, seria essa mulher?

Um mérito de Almodóvar é tornar os personagens principais incrivelmente humanos, por mais perversos que eles possam parecer. A miséria humana é mostrada de forma explícita e, embora muitas vezes nos sintamos muito distantes daquela realidade, não é difícil nos identificarmos com ela. O livro de Jonquet  mostra os personagens de forma muito mais repugnante. É o ódio em primeiro plano, e não o desejo.

No entanto, justiça seja feita ao livro: ele mantêm, tanto quanto o filme, um bom suspense. Eu já sabia o final e, ainda assim, o lia sobressaltada. "Tarântula", o nome do livro, é a forma como a prisioneira fala de seu algoz. "A pele que habito", o nome do filme, fala muito mais sobre o seu enredo do que possa parecer. O título conta a história. Almodóvar, definitivamente, é gênio.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O amor depois dos sessenta

Isabella Rosselini, a bela filha da atriz Ingrid Bergman e do cineasta Roberto Rosselini, foi "o rosto" da Lâncome por uma década (1982-1992).

Modelo, logo ela se tornou estrela de cinema, atingindo o estrelato dirigida por aquele que seria seu marido, o genial (e louco!) David Lynch em "Veludo Azul"(1986). Isso porque ela já havia sido casada com Martin Scorsese.
Lindíssima, mas de uma beleza nada óbvia, Isabella Rosselini permaneceu na Lâncome até uma idade mais madura. Ela sempre se declarou contra procedimentos estéticos invasivos como cirurgias plásticas, permitindo-se envelhecer naturalmente.

O resultado disso pode ser observado em um filme delicioso que está em cartaz: "Late Bloomers", que ganhou o horroso subtítulo em português "O amor não tem fim". No longa, Isabella interpreta (pasmem!) uma mulher à beira dos sessenta anos e enfrentando as dificuldades inerentes à idade. Quem faz companhia a ela é o outrora super sexy William Hurt que já chegou, olhem só, aos 61 anos. É incrível pensar que são ambos hoje sexagenários.

Os dois atores interpretam um casal que está junto há trinta anos e que se depara com o envelhecimento. Enquanto o arquiteto Adam segue em negativa procurando trabalhar com uma equipe de pessoas mais jovens, Mary se apavora e tem uma hiper reação aos primeiros sinais de esquecimento. A difícil lida com a entrada nos sessenta provoca um afastamento do casal.

No entanto, fiquem tranquilos: o filme é uma comédia, embora trate de questões bem sérias e atuais. Hoje, quem chega aos 60, não está mais no fim da vida. Chamar de terceira idade ou melhor idade, só depois dos 65. No entanto, as duas expressões são péssimas e dispensáveis. Pensar que os sessentões de hoje estavam no auge nos anos 80 dificulta associar essas pessoas à velhice. Pior ainda se forem os outrora símbolos sexuais Isabella Rosselini e William Hurt (aliás, quem aí lembra de "Corpos Ardentes"?).

A comédia inova por tratar-se de um filme de amor de sessentões. Pensar que existe vida amorosa e sexual após os sessenta é um alento. E, sim, Isabella Rosselini continua sexy mesmo com rugas e alguns quilos a mais. E William Hurt continua me despertando os piores (melhores) sentimentos.

domingo, 6 de novembro de 2011

Cenas de um Relacionamento


Não se engane pelo pôster ou pelo título. "Namorados para sempre" (Blue Valentine - 2010) é um doloroso soco no estômago. O título em inglês (algo como "namorado triste") seria mais pertinente. Para mim, que há posts reclamo da previsibilidade das comédias românticas (ou dramáticas), este filme é um alento. Ou não.

Michelle Williams não deu sorte, assim como Nicole Kidman, ao ser indicada ao Oscar no mesmo ano que Natalie Portman com seu "Cisne Negro". É como se ninguém pudesse bater Natalie. Já comentei aqui sobre Nicole, mas Michelle Williams também tem uma atuação emocionante neste filme sobre a deterioração de um casamento. Fazendo um paralelo, ambas interpretam mulheres que sofrem ao se depararem com o naufrágio da união amorosa. Se em "Reencontrando a felicidade", o desencadeador do sofrimento do casal é a perda de um filho, em "Namorados para sempre" este fator não é tão claro. Nos dois filmes, as esposas mostram-se mulheres insatisfeitas, amarguradas e infelizes, ao lado de maridos um tanto quanto sensíveis e desorientados no sentido do que fazer para satisfazê-las. Ao mesmo tempo que facilmente elas podem ser vistas como garotas bacanas que se transformaram em bruxas malvadas, por outro, não é difícil entender porque elas chegaram a esse ponto.

"Namorados para sempre" é dirigido de forma quase documental, com longos closes no casal de protagonistas.  A beleza incomum de ambos fica em segundo plano, tamanha é a miséria humana que invade a tela. Ryan Gosling, que interpreta o doce Dean, é uma surpresa boa. Como eu não conhecia o ator, é como se ele fosse o próprio Dean. A química com Michelle Williams (nos bons e nos maus momentos) chega a ser impressionante.

"Blue Valentine" é um bom filme.Talvez não seja o ideal para assistir em um dia dos namorados, no entanto. É triste constatar que muitas vezes, a mesma característica que encanta quando a paixão acontece, é a mesma que pode causar repugnância, tempos depois. Remeteu-me a outro belo filme ("Foi apenas um sonho"), mas este é assunto para outro post. Será que eu volto para as comédias românticas?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Elia Kazan, o cineasta do desejo

A 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo apresenta, entre outros filmes clássicos, uma seleção de um dos meus diretores preferidos: o controverso Elia Kazan.

Kazan era um cineasta turco, que dirigiu várias obras inesquecíveis em Hollywood como "Uma rua chamada pecado "(1951) e "Sindicato de Ladrões" (1954), além do belíssimo "Vidas Amargas" (1955) que marcou a estréia de James Dean no cinema.Como ex-comunista, denunciou colegas de seu ex-partido no Comitê de Investigações sobre Atividades Anti-Americanas, o que teria marcado sua vida para sempre (ele ficou conhecido como delator e traidor pelos colegas). Ao receber um Oscar em homenagem a sua carreira em 1999, metade do auditório o aplaudiu e metade ficou em silêncio, em franco sinal de protesto.Os brasileiros devem se lembrar desta cena, pois foi no mesmo Oscar que nossa querida Fernanda Montenegro concorreu para melhor atriz.

A obra de Kazan é marcada pela sensualidade, tanto que ficou conhecido por ser o cineasta "do desejo" (e da impossibilidade deste). Contrapôs como ninguém os conflitos individuais e a história, mostrando em seus filmes como os fatos históricos interferem nos dramas pessoais, não sendo mero fundo cenográfico, como na maioria dos filmes.

Além do diretor ser um dos meus preferidos, assim também  é o filme que comentarei a seguir:

O Clamor do sexo - Splendour in the grass (1961)



Este é um filme para guardar; talvez um dos que marcaram mais intensamente minha vida. Mesmo para quem não gosta de filmes clássicos, vale a pena tentar assistí-lo porque não envelheceu, nem parece datado. Além disso, o casal protagonista (Natalie Wood e Warren Beauty) é lindíssimo, talvez dos mais belos da história do cinema, competindo de perto com Alain Delon e Romy Schneider. É, inclusive, histórico, pois marca a estréia do jovem Beatty na tela grande.

A história se passa nos anos 20, antes da Grande Depressão Americana no conservador estado do Texas, EUA. O filme é, basicamente, a história de amor e desejo de dois adolescentes, contrapondo-se às tradições, interesses e valores morais de uma época. A temática passa longe de ser simples. Elia Kazan trabalha o roteiro de forma densa e complexa. Algumas cenas originais do filme foram cortadas, por serem consideradas fortes demais para a época. Consta que o primeiro beijo "francês" (de língua) em um filme hollywodiano foi dado por Warren Beatty e Natalie Wood.

O título do filme em português não tem nada a ver com o original em inglês. "Splendour in the grass" ou "Esplendor na relva" é o título original, que aliás faz parte do poema lido por Natalie Wood em uma das cenas mais comoventes do filme.
O filme ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962.

 A fofoca dos bastidores é de que Natalie Wood teria se apaixonado perdidamente por seu colega de cena (Beatty) e deixado o marido (Robert Wagner) para viver sua paixão. Beatty, que foi um garanhão por anos em Hollywood, logo enjoou de Natalie, abandonando-a. A atriz, abalada, teria tentado o suicídio. Mais tarde, ela voltaria com o ex-marido, com que ficou até o fim da vida.

* Este post foi adaptado de outro, que  já foi publicado em 2006 no meu antigo blog, citado aí do lado. Elia Kazan, cinco anos depois, ainda figura como meu diretor do coração.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Você ainda aguenta uma comédia romântica?

Minha teimosia taurina me impele a locar comédias românticas mesmo elas sendo irritantes. Assisti a tantas que adivinho as frases, a hora da cena do aeroporto, o momento em que o cara galinha se transforma em príncipe porque encontrou seu "verdadeiro amor". O objetivo das locações é sempre o mesmo: um filme leve para um dia preguiçoso; algo como uma revista CARAS cheia de figuras para você NÃO pensar. O duro é que eu me irrito e não relaxo. Assim como assistir a novelas, que eu adorava. Os clichês, enfim, tem me tirado do sério. Até os da revista CARAS.

Voltando às comédias românticas, existem as variações. Por exemplo, a comédia dramática. Há momentos engraçadinhos, mas o objetivo mesmo é que você chore. Neste gênero estão os péssimos (desculpem) "Doce Novembro" e "P.S. Eu te Amo". Estes estariam na categoria de "filme de doença", também comentado neste post. Ou a moça ou o rapaz do jovem casal tem uma doença grave e blá, blá, blá. Love Story rules.

Daí que eu resolvi assistir "Sobre amor e outras drogas" (2010), filme sobre o qual havia lido críticas bem ácidas e alguns elogios. É "um filme de doença" e é também um filme em que o cara garanhão transforma-se em moço "bão" porque encontrou o verdadeiro amor. No entanto, embora longo, eu não estava rezando para o filme acabar logo.

Muito, acredito, deve-se ao casal protagonista Anne (fofa) Hathaway e Jackie Gyllenhaal. Os dois tem uma química danada e você esquece que ele já tinha sido o marido gay atormentado dela em "O segredo de Brokeback Montain" (aliás, um dos melhores filmes de amor já feitos). Além disso, gostei da crítica nada sutil à indústria farmacêutica de forma geral e à abordagem do mal de Parkinson, uma doença neurológica degenerativa, que, no filme, acomete precocemente a mocinha Maggie.

Eu já havia jogado a toalha em relação às comédias românticas, mesmo com elencos carismáticos. Anne Hathway provou-me o contrário.Sou ainda capaz de sorrir com clichês sem me irritar. No entanto,tenho saudades de Norah Ephron e Meg Ryan. Não existe comédia romântica melhor do que "Harry e Sally". "500 dias com ela" chega bem perto, mas não ganha.

domingo, 11 de setembro de 2011

O homem do futuro

"O homem do futuro" é um filme despretensioso. Não vá, como eu, assistí-lo em um sábado à noite, em um shopping lotado de adolescentes. Não é, necessariamente, um filme para assistir no cinema. Desfrute-o no conforto da sua casa, em meio às lembranças (bacanas ou nem tanto) que, inevitavelmente surgem, em especial para aqueles que não eram mais bebês em 1991. E aí você evita os púberes que ficam gritando para a Alinne Moraes tirar a roupa logo.


Com certeza você já viu filmes similares, especialmente americanos, que brincam com essa estória de viajar no tempo. Impossível não se lembrar de Marty McFly e seu DeLorean viajando para 1955, a época em que seus pais eram jovens. Alguns diálogos do filme de Cláudio Torres remetem imediatamente à trilogia de "De volta para o futuro" que, afinal, já é um super clássico dos anos 80. No entanto, os longínquos anos dourados, mesmo em 1985, era uma época interessante de revisitar, com o surgimento do rock´n roll, a repressão sexual pré-pílula e todos aqueles vestidos rodados e topetes com gel. A década de 90, revisitada em "O homem do futuro", embora seja um tempo que tranformou a forma como a gente se relaciona hoje, não é uma época fácil de identificar. Quando eu penso na forma como nos vestíamos, por exemplo, eu lembro disso:


Os cabelos já não eram tão armados e não havia tanto exagero como nos anos 80, mas estavam lá as horríveis calças semi- bags,os vestidos colados no corpo, os blazers imensos e as camisas coloridas por cima das camisetas também imensas. Fomos perdendo o exagero ao longo da década cuja moda é chamada hoje de minimalista.

Em "O homem do futuro", o diretor optou por filmar quase todas as cenas de 1991 em uma festa à fantasia, onde a reconstituição de época não foi necessária. A música-tema do filme, não por acaso, uma vez que trata justamente do tempo, é "Tempo Perdido", do Legião Urbana. No entanto, a música é de meados dos anos 80. "Creep", a música que embala o romance de Zero e Helena é linda e fala justamente de um cara que não se encaixa, um esquisito (como o personagem). Wagner Moura, que também canta, deu uma roupagem sexy à canção melancólica do Radiohead, lançada em um CD de 1992. É da década de 90, mas virou hino dos solitários de várias gerações.

Preciosismos de época à parte, o filme cumpre o que propõe. É leve, nos remete a uma familiaridade gostosa (com nosso passado, com outros filmes bem conhecidos) e tem Alinne Moraes e Wagner Moura, maravilhosos. Wagner Moura é propositalmente caricato nos três personagens que compõe, mas emociona muito com seu Zero quase adolescente. Como não há maquiagem para rejuvenescê-lo, o ator convence que tem vinte anos com o olhar. É um olhar que você só consegue ter aos 18, 20 anos. Cosméticos e um bom trato podem te manter com a pele boa e o corpinho em forma, mas aquele encantamento diante das coisas e que pode ser visto através dos olhos, não volta mais. Procure lá nas suas fotos mais antigas que você acha. E assista "O homem do futuro" para ver o menino Wagner Moura. Bom ator é isso.

sábado, 3 de setembro de 2011

Muito depois do "Cachorrinho Samba"...

"Como chora essa menina! Que livro é este que você está lendo?"
Depois de toda a coleção do Monteiro Lobato, tudo que eu sabia de literatura eram os livrinhos do Cachorrinho Samba (na Floresta, na Fazenda, no escambau). Maria José Dupré era a autora dos livros que tinham como protagonista o famoso cachorrinho.


A autora, no entanto, era mais reconhecida por outra obra: "Éramos Seis", que contava a história de uma família de classe média baixa de São Paulo entre os anos 20 e 40. A forma como ela narra a passagem do tempo, o crescimento dos filhos e as perdas inerentes à vida da personagem principal, dona Lola, é dolorosamente realista e triste. Eu tinha dez anos quando o li, e até hoje tenho o livro com as páginas manchadas pela choradeira.

que capa de livro é esta, minha gente?
O livro foi adaptado por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho nas duas versões mais famosas para a televisão. Foram elas em 1977, na Tupi,  com Nicete Bruno interpretando Lola e, em 1994, no SBT, com Irene Ravache.

Lembrei de "Éramos seis" ao concluir um romance bastante elogiado do último ano: "Um dia", do inglês David Nicholls. Mais do que a história de amizade e amor entre Emma e Dexter, o livro, assim como "Éramos seis", fala sobre a passagem do tempo, os projetos de vida renunciados, a diferença entre o que éramos e o que nos tornamos. O livro atravessa os vinte anos de um passado recente, dos anos 80 aos 2000.

Penso que assim como muitos identificaram-se com a mãe brasileira Lola, é fácil nos achar em Emma Morley, a inglesa protagonista de "Um dia". A personagem é palpável, real, humanamente neurótica. Tão humana que nos tornamos amiga dela ao longo da leitura de mais de 400 páginas, quase uma cúmplice. Igualmente neurótico é seu amigo  de tantos anos, o vaidoso e narcisista Dexter. O livro é capaz de te envolver de tal forma, que emociona. A relação entre os dois é viva, com poucas pitadas de romantismo (aliás, bem poucas), mas de um amor realista, possível, repleto de altos e baixos.

Outro mérito do livro é a viagem no tempo que ele promove. Das cartas manuscritas e fitas K7 às máquinas digitais e celulares, a história atravessa as décadas que tiveram, de fato, revoluções por minuto. As músicas e programas de cada época, assim como os acontecimentos políticos de nossa história recente são inseridas de forma natural, sem parecer um emaranhado de citações.

No entanto, há algo ainda no livro que me remete a "Éramos Seis". Não chore, se for capaz. Prepare o lencinho, senão para a leitura, para o filme que vem aí. Aguardemos ansiosamente por Anne Hathaway.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O que você faria?

"Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais"(...). "Tocando em frente" é uma música linda do Renato Teixeira, também muito cantada por Almir Sater. Esta frase é citada à exaustão nos facebooks e twitters da vida, e já foi, em algum tempo, também muito escrita nas famosas "agendas". Eu mesma já a escrevi muitas vezes, algumas até sem pensar no seu real sentido.

Recentemente, a citei no meu mural do face. Uma amiga querida, então, escreveu logo abaixo: "Eu não. Ando rápido porque já andei muito devagar". Foi aí que pensei: "de onde tirei a idéia de que já tive pressa? eu raramente tenho pressa". Aliás, meu apelido de criança era "Letícia, já vou indo" por conta do meu ritmo, digamos assim, vagaroso.


O livrinho que inspirou meu "delicado" apelido
O tempo é algo que tem me intrigado ultimamente. Ele passa rápido (o velho clichê), em contraposição ao modo como levo a vida. Vinte anos que, na minha adolescência, eram muita coisa, passam assim, rapidinho. Outro dia estava dançando "London, london" em um bailinho de garagem. E isso já faz mais de vinte anos. Os vestibulandos de hoje nasceram no ano em que o Senna morreu. E eu já estava na faculdade.´

Paulinho Moska tem uma bela música que se chama "O que você faria"?, música, aliás, que foi tema de uma novela curtinha da Globo: "O fim do mundo", a última do Dias Gomes:

Ia manter a sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia


Na novela, diante do fim do mundo iminente, os personagens mudavam, resolviam velhas pendências, cometiam ousadias, apressavam decisões. Com a perspectiva próxima, novamente, de mais uma destas  datas apocalípticas (o ano de 2012), me vi ouvindo a música do Paulinho Moska e  perguntando o que eu faria se fosse verdade. Mudaria algo? Provavelmente, sim.

Será que a gente precisa saber que vai morrer amanhã para "apressar o rio"? Será que a máxima da vida deve ser que "a pressa é a inimiga da perfeição"? É medo ou procrastinação? Urgência não precisa implicar em desespero. E algumas coisas, definitivamente, não podem esperar, embora talvez o mundo não acabe amanhã.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O final da novela das nove

E Ana Paula Arósio escapou de boa heim, minha gente? Marina Drummond deve ter sido a mocinha mais chata de novelas ever.  Paola Oliveira pode ser ladra de maridos, mas não merecia um papelzinho tão chinfrim.E a Arósio lá no sítio dela, curtindo o marido e os cavalos, certíssima.

Devaneios à parte, vamos aos trabalhos. Gilberto Braga jogou uma pá de cal nas minhas esperanças de um bom novelão. Insensato Coração foi uma das novelas mais sangrentas  já exibidas na Globo, a ponto de eu deixar de assistir muitos capítulos por conta da violência e da gritaria.  E, embora os autores se repitam em suas tramas, a ponto de terem uma marca registrada, eu não reconheci Gilberto Braga em uma de suas características mais interessantes: a qualidade dos seus diálogos. Afinal, todo o resto estava lá: um vilão carismático, a classe média carioca, uma trilha sonora antiguinha e o fatídico "quem matou".

"Vale Tudo", a obra prima braguiana, foi reprisada recentemente com grande sucesso. Eram outros tempos, é bem verdade. O elenco era menor, as cenas (e os diálogos) mais longos e a internet não fazia sombra para a audiência. "Insensato Coração" tentou inovar (e tornar a trama mais ágil) com personagens que entraram e saíram, com subtramas que iniciavam e terminavam com a participação deles, a exemplo das séries americanas. Alguns disseram a que vieram, outros não fariam a menor falta. E, ao contrário de "Vale Tudo", a maioria dos personagens tinham a profundidade de um pires.

A abordagem da temática homossexual começou corajosa. Gilberto Braga abordou o tema em vários dos seus trabalhos anteriores ("Brilhante", "Vale Tudo","Paraíso Tropical", apenas para citar algumas), mas não de forma tão ampla. Uma pena que a emissora cortou cenas e inibiu o crescimento da participação do casal gay fofo da trama (Eduardo e Hugo). O casal acabou virando um casalzinho asséptico e assexuado, assim como foi o casal gay de "Paraíso Tropical", do mesmo autor. País estranho este em que um beijo entre homens choca a audiência, mas a prostituição gradual de Natalie Lamour (Deborah Secco) e a violência gratuita de Vinícius (Thiago Martins), não. Aliás, justiça seja feita: os dois atores roubaram a cena da novela muitas vezes. Deborah Secco tem alguns vícios que se repetem em personagens diferentes, mas ela é carismática e motivou muitos dias a minha ida a academia durante os últimos meses. E eu fiquei realmente com medo do Thiago Martins.

O personagem Leo não me cativou, sorry. Gabriel Braga Nunes não tem o carisma de Fábio Assunção (o "Renato Mendes"), nem de Wagner Moura (o "Olavo Novaes"). E esses últimos tinham mais humor e "sex appeal". Norma tinha tudo para ser uma senhora personagem, ainda mais nas mãos de Glória Pires. A vingança de Norma foi o ponto de virada da novela. "Insensato Coração" virou a "novela da Norma". No entanto, achei a morte dela desnecessária. Ela poderia ser humana (ter características vis e boas), mas não tão incoerente. Norma tinha crises de consciência, não era um Leo. Aí passou a não ter, virou uma criminosa fria. O "quem matou" poderia ser com Leo, por exemplo. Assim como Odete Roitman, tinha uma pá de gente querendo acabar com ele. Para Norma, os autores precisaram criar praticamente todos os suspeitos em um capítulo. E a respeito da assassina atrapalhada Wanda, não tenho muito a comentar. O expediente da pessoa enlouquecer no final do capítulo é algo que me irrita um pouco.


Marina e Pedro: o casal impróprio para diabéticos

E por fim, voltamos à mocinha. Já disse em inúmeros posts, e repito: mocinha de novela não precisa ser idiota e cenas de amor não precisam ser ridículas. Paola Oliveira é linda e chatinha, mas a personagem foi mal escrita. E Gilberto Braga escreveu Solange Duprat de "Vale Tudo"! É claro que tínhamos Lídia Brondi, mas ela não tinha que recitar frases que mais pareciam retiradas de "A moreninha". E Eriberto Leão, meu querido, volte para as novelas do Benedito Rui Barbosa. Você é bom de peão, em cima de um cavalo e com sotaque caipira.

domingo, 14 de agosto de 2011

Lerê, lerê...

Embora tenha ouvido e estudado a respeito, eu fui somente ter acesso aos efeitos do comunismo no Leste Europeu quando visitei algumas cidades, há alguns meses atrás. E conheci mulheres jovens que, até a adolescência, nunca tinham ouvido falar dos Beatles ou Elvis Presley, por exemplo.
Qualquer manifestação da subjetividade era reprimida; qualquer adoração religiosa ou cultivo de ídolos que não fossem os seus governantes era proibida. Cabeças de santos foram cortadas, muitas igrejas e templos destruídos. Poesias, canções que não fossem relacionadas à exaltação dos governos ditatoriais não podiam existir. Hoje, mais de vinte anos após a queda do Muro de Berlim, símbolo máximo da Europa comunista, uma certa melancolia  ainda pode ser percebida em cidades como Budapeste e Praga.
No entanto, ainda na década de oitenta, uma novela brasileira conseguiu ultrapassar a cortina de ferro. Ela foi talvez, a novela mais vista no mundo todo: "A escrava Isaura", de 1976. Hoje, talvez eu possa entender melhor o fenômeno.
Arrisco-me a dizer que mais do que  Pelé,  futebol e Carnaval, em Budapeste, os brasileiros são associados a Isaura (Lucélia Santos). Você fala que é do Brasil e eles dizem "Isaura", com aquele sotaque engraçado. Conversando com nossa guia, ela me explicou que a figura de Isaura foi a primeira a despertar paixão nos húngaros depois de muito tempo. "Não somos um povo muito apaixonado", ela disse, "especialmente depois de anos de guerra e repressão, mas a novela brasileira mudou um pouco isso". Devemos lembrar que o romance de Bernardo Guimarães, que deu origem à novela, é a história de uma escrava branca, doce e pura de coração que é vítima de seu senhor, devasso e cruel. O senhor Leôncio (Rubens de Falco) faz, durante a novela, as maiores maldades com Isaura, inclusive assediando-a, mas ela resiste e suporta. Em uma das frases do romance, diz ela que Leôncio é dono do seu corpo, mas não do seu coração:“ Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.”


A guia de Budapeste contou-me que era comum inclusive pessoas céticas e intelectuais juntarem dinheiro para comprar a liberdade da escrava Isaura enquanto a novela passava por lá. A visita de Lucélia Santos ao país foi um fenômeno. Pessoas saíram de casa com um frio de vinte graus negativos para poder ver a atriz. 

Pensava comigo: o que tem a "Escrava Isaura" como novela para fazer tanto sucesso assim em países tão longínquos como Hungria, Rússia e a China? Parecía-me uma história comum, um folhetim como tantos outros. Entendi, enfim, que uma história abolicionista brasileira tinha, de fato, muito a ver com o desejo de liberdade de muitos povos entregues a seus "senhores", tão cruéis como o assustador Leôncio. Parece que a novela, mais do que entretenimento, trazia um sopro de esperança através da identificação com a escrava. E também eu, depois desta experiência de viagem, passei a ver  a novela (primeira escrita por Gilberto Braga) com outros olhos e outros afetos.

domingo, 7 de agosto de 2011

O delicioso cinema dos anos 90

Naquele mecanismo comum que a gente tem de idealizar o passado, eu achava, nos anos 90, que filme bom eram os velhões, sejam os da era dourada de Hollywood, sejam os da nouvelle vague francesa. No entanto, eu nunca fui tanto ao cinema como naquela década. As boas salas de cinema ainda não tinham sido abocanhadas pela Igreja Universal e uma penca de filmes bons inovavam em estética e roteiro.

A década já começou "matando a pau" com thrillers como o eletrizante "O silêncio dos inocentes"(1991) e o polêmico "Intinto Selvagem"(1992). A partir da cruzada de pernas de Sharon Stone, a atriz tornou-se conhecida do grande público e foi considerada a mais bela mulher do mundo, com seus traços absolutamente simétricos. Após a brega e hiperbólica década de 80, chique era ser minimalista como Sharon e seus visuais limpos e sem frufrus.

Filmes sobre amizades intensas entre duas mulheres (com conotação implícita ou explicitamente sexual) invadiram os cinemas. Foi a década dos clássicos "Tomates Verdes Fritos"(1991) e de "Thelma e Louise"(1991), além do assustador "Mulher solteira procura"(1992). A temática feminista  presente nos dois primeiros filmes já havia sido abordada de outra maneira em "Acusados" (1988) na década anterior. No entanto, "Thelma e Louise", além de render indicações ao Oscar para suas duas protagonistas (Geena Davis e Susan Sarandon) o fez de forma mais marcante, com cenas que se tornaram antológicas. Isso, além de apresentar um novo galã: Brad Pitt.

Steven Spielberg, o diretor que já estava entre os jovens prodígios nos anos 70 e 80, inova com um longa metragem dos bons: "A lista de Schindler" (1993) que fez muitos chorarem no cinema. O filme, praticamente todo filmado em preto e branco faz uma abordagem mais crua do massacre dos judeus durante a segunda guerra. Gerou um documentário e várias controvérsias. A trilha, que conta com o conhecido John Williams era maravilhosa e cortante. Talvez este tenha sido um divisor de águas na carreira de Spielberg que também dirigiu o também vencedor de Oscars "O resgate do soldado Ryan" no final da década.

No entanto, foi em 1994 que a cerimônia do Oscar teve dois favoritos, inovadores a sua maneira. Foi o ano de "Pulp Fiction" e "Forrest Gump". Era um tanto óbvio que a conservadora Academia de Artes Cinematográficas não daria o Oscar ao sangrento e genial "Pulp Fiction", mas valeu a expectativa. Foi o filme que me apresentou a Quentin Tarantino e ressuscitou meu ídolo de outras épocas, John Travolta. A fábula de Forrest Gump acabou levando a melhor. A história do cara comum  e limítrofe que atravessa as décadas do século XX interagindo com personagens icônicos sem se dar conta foi, de fato, encantadora. E consagrou Tom Hanks que já ganhara o Oscar no ano anterior pelo igualmente inovador "Philadelphia", que abordava os preconceitos enfrentados por um portador do vírus da AIDS e homossexual. Todos estes filmes tinham trilhas sonoras pra lá de caprichadas.



Uma Thurman seduzindo John Travolta em "Pulp Fiction"
Enquanto isso, o polonês Kieslowski apresentava sua trilogia (Trois Couleurs: Bleu, Blanc et Rouge) e Almodóvar conquistava o público mundial com seus "Áta-me", "Kika" e "Carne Trêmula", além da visão maravilhosa de Antonio Banderas. Até o cinema nacional dá uma garibada e nos mostra no mesmo ano "Carlota Joaquina" (1995) e "O quatrilho", além de fechar a década com o sensível "Central do Brasil" (1999).

Hoje, os anos 90 já são passado. Nada como o tempo para valorizar o que se passou. E no caso, o cinema foi bom mesmo. E a época também. Saudades imensas do cine Bristol de Ribeirão Preto que, por sinal, virou igreja.

domingo, 31 de julho de 2011

Nasceu na beira de cachoeira?

- Nasceu na beira de cachoeira?
Aqui no interior a gente costuma lançar esta pergunta quando alguém fala aos altos brados. Em cidade de ascendência italiana como a nossa, é comum ouvir gente gritando e falando "cas mão". Ou seja, quase todo mundo aqui nasceu na beira de cachoeira. Em algumas circustâncias, consigo achar graça. Em outras, não.

Eu já tinha ouvido falar que com a idade nossa audição vai ficando mais sensível. Quem nunca teve uma avó ou tia que foi embora do casamento ou formatura porque tinha "aquela música alta"? Será, santo Deus, que eu já cheguei neste nível?

Sinceramente, à parte minha sensibilidade aguçada, penso  que as pessoas estão berrando mais. Eu não estou interessada em saber como anda a vida conjugal do casal hospedado no quarto ao lado do meu, mas acabo sabendo. Também não quero saber dos negócios do cara do restaurante que negocia o preço do carro ao celular. E nas agruras da família gralha que se comporta como se só existisse ela na praia.
No prédio em que moro, as pessoas não costumam apertar o interfone. Elas berram do lado de fora da janela. Juro. E os moradores respondem, pela janela também. E isso após a meia noite, de madrugada. É como se apenas eles habitassem o prédio.

Fazendo uma "interpretação selvagem" acredito que esta gritaria toda é sintoma. Os limites entre mim e o outro, hoje,são muito indefinidos. Na verdade, pouco me importa o outro e é por isso que eu grito e dou risada no avião enquanto as pessoas querem dormir. Gritar é uma forma grotesca de ocupar espaço. Ou mesmo de mostrar o quanto estou indiferente às outras pessoas. Aliás, sequer as noto.
Isso, de alguma maneira, aparece nas novelas. "Insensato Coração", por exemplo, é insuportavelmente gritada. A novela me cansa. Em "O Astro", está a rainha das gritonas: Regina Duarte.


Regina Duarte, gritando "monssssssstroooooo" desde a década de 70
Concluindo: as pessoas andam mais egoístas e autocentradas ou eu estou ficando velha e ranzinza até com a ficção? Talvez as duas coisas. No entanto, muita gente anda confundindo espontaneidade e emoção genuína com grosseria. E taí algo que eu, provavelmente, não aprenda a suportar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Meia noite em Paris

Tem algum lugar que você gostaria de morar e só visitou uma vez? E uma época que você acredita ser o melhor tempo do mundo para viver? Foi com essas questões que saí do cinema ao assistir "Meia noite em Paris", o último filme de Woody Allen. Como o meu saudosismo às vezes beira a chatice crônica, eu me identifiquei com o protagonista, vivido por Owen Wilson, ator especialista em viver bobalhões de bom coração.

Eu nasci em uma cidade muito pequena do interior paulista. No entanto, sou filha de um piloto de avião que, nascido na mesma cidade, voou e fez laços afetivos em inúmeros países do mundo. Hoje, trabalho em uma cidade um pouco maior, mas ainda nas proximidades de minha cidade natal. Embora sempre quisesse, jamais arrisquei ir muito longe. É comum haver um sentimento de inadequação, de ser estrangeira entre tudo o que me é mais familiar. Também é assim com o tempo. Aos onze anos, me foi pedido durante uma aula de redação que escolhesse uma figura, entre tantas, que melhor me representasse. Eu escolhi uma velhinha.

Sentía-me tão velha que chegava a chorar de saudade de coisas jamais vividas, de um tempo em que eu nem nascida era. E desenhava casas no meio da neve que seria a cidade em que era bom morar. "Ah, aquela época que era boa", falava a vovozinha de onze anos de idade.

O personagem do Owen Wilson, Gil Pender é um pouco assim. Pensa ele que se fosse morar em Paris, sairia de sua vida medíocre e teria grandes inspirações respirando o ar encantado da cidade luz. E seria ainda melhor se vivesse nos anos 20, os anos loucos, os anos em que viveram lá os gênios Fitzgerald, Picasso, Dalí, Hemingway...


Será que em Paris a vida de Gil seria tão melhor assim? E os anos 20 será que eram assim tão melhores do que os anos 2000? Talvez. De igual maneira eu penso: e se eu tivesse nascido em uma cidade maior? E se vivesse nos anos 50 em Hollywood? O objeto perdido ou distante costuma ter um valor inflacionado. Tendemos a desprezar o presente e idealizar o passado ou o futuro. E assim, o tempo passa.

Ora essa, e o que Gil Pender fez, afinal? Assista o filme para saber. Os amantes do cinema de  Woody Allen talvez considerem o filme um tanto quanto comercial e torçam o nariz, mas ainda assim vale a pena. E todo filme que faz pensar um pouquinho é um bom filme, na minha opinião. Rendeu até um post.

domingo, 17 de julho de 2011

Cinco anos...


Cinco anos pode ser bastante tempo. Ou não.
Há cinco anos dei início a este "humirde" blog. Tinha outro nome e um template tenebroso. Havia alguns visitantes e atualizações quase diárias e compulsivas. Não coincidentemente, iniciei meu processo de análise pessoal na mesma época. Percebi a "coincidência" um tempo depois.

Em uma época de blogs confessionais (os tais diários virtuais) e  "flogões", quis fazer algo menos pessoal em 2006.  Meu objetivo era falar de televisão e cinema. De qualquer forma, imaginava que ninguém fosse ler. Não era hábito no meu círculo de amigos alguém escrever um blog. E amigos costumam fazer uma certa caridade conosco, dar aquela forcinha básica. Qual não foi minha surpresa quando pessoas, até então desconhecidas, começaram a aparecer por aqui.

Depois de cinco anos, alguns visitantes permanecem. Outros, que iniciaram seus blogs na mesma época, estão em grandes portais e continuam escrevendo um monte, agora com maior visibilidade. Muitos sumiram neste espaço virtual de meu Deus. Nunca vi seus rostos; apenas avatares e um nick que, antes de sumirem, tornaram-se figuras familiares e afetivas. Através deste espaço, descobri blogueiros "gêmeos de alma", aprendi muito, apaixonei-me por textos e por figuras incríveis atrás dos textos.

Era a época do orkut, aquele espaçozinho azul-argentina que motivou amor e ódio. O blog acompanhou meu nascimento no orkut, o primeiro orkuticídio e a ressurreição. Em tempos atuais de twitter e facebook, meu perfil no orkut continua lá, sobrevivente, em um espaço que parece uma casa de praia abandonada. Há os testemunhos de outros tempos e anúncios que parecem propaganda de verões antigos. Falta só o requeijão estragado na geladeira, o shampoo vencido e a coragem de cometer o orkuticídio novamente e, desta vez, definitivo.

Cinco anos, como disse, pode ser bastante tempo. E é, quando percebo que não me reconheço em muitos textos meus. Não é, quando percebo que continuo a mesma em muitas coisas, apesar do tempo passado. De qualquer forma, achei que seria uma razão para comemorar. Eu continuo aqui. Como blogueira bissexta, mas continuo. Não achei que fosse durar tanto. Que venham os próximos cinco. Afinal, embora os 140 caracteres sejam mais do que suficientes para uma psicanalista, para uma noveleira e cinéfila, é muito pouco.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Todos queremos ser jovens...

Trabalho com adolescentes há mais de dez anos. No período do ano que estou com eles, tento conectá-los com gerações anteriores através de imagens e música. Vejo também nesta oportunidade uma forma de resgatar uma certa dívida simbólica com os jovens que viveram antes deles, uma vez que abriram portas para muitas das coisas vividas hoje. É interessante (e melancólico) observar como a chamada geração Y olha a geração 80, por exemplo, como uma época  longínqua, quase pré-histórica. De fato é, se observarmos as revoluções por minuto que ocorreram desde então. Este vídeo sintetiza isso tudo de forma emocionante, mesclando imagens e ícones de várias gerações. Desfrutem!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

No ar, mais um campeão de audiência...

Eu não me lembro quando "O Astro" passou na tevê pela primeira vez. No entanto, dois anos depois, outro grande sucesso de Janete Clair fez novamente sucesso na Globo. Em 1979, entrou no ar "Pai Herói", herdeira do horário de Dancin´Days. Além da famosa autora, repetiam-se nos papéis centrais Elizabeth Savalla que interpretou a bailarina Carina, e Tony Ramos, que fez André. E devido ao carisma do par central, é a primeira novela da qual tenho uma lembrança bem nítida.

                                                       o amor rasgado de "Pai Herói"

Em "O Astro", eles foram Lili e Márcio Hayalla. Ambos com poucas novelas no currículo, o casal virou queridinho do horário nobre, tornando-se quase os novos "Tarcísio e Glória". Eu me lembro muito do olhar do Tony Ramos. Era muito pequena na ocasião de "Pai Herói", mas poderia dizer que Tony Ramos foi o primeiro homem que eu quis casar (tá, sou velha). O outro da mesma época foi o Sidney Magal, mas esta já é uma outra história.
A cena abaixo é considerada antológica na teledramaturgia brasileira. Em "O Astro", Tony Ramos, como Márcio, o filho do milionário Salomão Hayalla, abre mão do dinheiro do pai. Ele faz uma cena muito semelhante a do filme "Irmão Sol, irmã Lua" de Franco Zefirelli fazendo alusão a São Francisco de Assis. É o primeiro nu masculino em uma novela brasileira e a apresentação dos pêlos de Tony Ramos ao grande público.




Tony Ramos, muito jovem, consegue transmitir toda a inocência de Márcio no olhar. Foi o primeiro de muitos mocinhos "puros de coração" que ele viria a interpretar.
Lembro-me  de que eu queria ser Elizabeth Savalla (tá, sou velha 2) para poder beijar o Tony. E ainda por cima, em "Pai Herói" ela era uma bailarina, tudo o que eu mais quis ser até os meus cinco anos.

Na nova versão de "O Astro", o papel de Márcio será de Thiago Fragoso, que eu adoro. Pelas chamadas que foram ao ar até agora, acho que ele segura bem. Difícil, uma vez que mais do que o mistério do "quem matou Salomão Hayala", a  novela é muito lembrada pela sensibilidade do filho único e sensível do milionário. E por Tony Ramos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vida deveria ter trilha sonora?

Diana Corso, uma psicanalista de quem gosto muito por tudo o que já escreveu, é agora colaboradora da revista "Vida Simples" (excelente publicação, mas que, a despeito do nome, é bem carinha...rs). No artigo deste mês de Julho, discorreu ela sobre os aspectos inconscientes das músicas que nos invadem a mente sem mais nem menos. Escreveu lindamente sobre uma música que repetidas vezes lhe vinha e que, ao prestar atenção, percebeu que tinha muito a ver com os sentimentos vividos no momento.
No (quase) finado orkut havia uma comunidade muito bacana (aliás, um dia participar de comunidades do orkut já foi bem bacana...rs) chamada "Vida deveria ter trilha sonora". Eu diria, fazendo coro com Diana Corso que, não só deveria, como já tem. No entanto, depois do artigo dela, resolvi ouvir melhor a minha trilha.

As músicas que invadem a minha mente (ao acordar, na clínica, nos momentos mais bizarros) são, invariavelmente, bregas. E como todo brega, são dramáticas.

Há mais ou menos um mês, era uma música do Zezé e Luciano "Muda de vida". Eu nem conhecia a música direito, tive que pesquisar. A música fala de uma pessoa que manda um recado a um alguém: "Muda de vida ou vai me perder, seja comigo o que sou com você. Você está perdida e não sabe o que quer. Muda de vida!!". Não levei ao pé da letra, mas fez sentido no momento em que vivia, ansiosa por uma mudança (inclusive de casa, veja só). A voz de Zezé era imperativa o dia todo e gritava nos meus ouvidos "Muda de vida!!". Detalhe: eu tenho pavor de Zezé di Camargo e Luciano.
MUDA DE VIDAAAAAAA!!!

Ao término de relacionamentos sofridos, a trilha piora. Vai de KLB a Leandro e Leonardo (por que sertanejos, meu Deus, por quê???). A mais recorrente é "que estou morrendo, morrendo por dentro... é tanta saudade morando em meu peito (...)". Às vezes a língua muda e os sucessos são internacionais, mas a breguice continua. Que tal acordar com Bonnie Tyler: "and I need you tonight, and I need you more than ever"? "Total eclipse of the heart" gritada às sete da manhã. E taí uma música para cantar gritando. Assim como "I wanna a hero", variação igualmente gritada da mesma cantora.

Uma conclusão bem grosseira é a óbvia. Sou hiperbólica com os meus afetos, ainda que não os demonstre tanto assim. Minha trilha sonora escolhida inconscientemente a dedo me mostra isso. Não acordo jamais com uma música do Chico Buarque. No entanto, me intriga a última música insistente que me perseguiu dia desses. Estava na melancólica cidade de Praga e de repente:

"Tira a calça jeans, bota um fio dental, morena você é tão sensual"
Recuso-me, terminantemente, a tentar interpretar. E, pelamor de Deus, Zezé di Camargo até vai, mas "Os morenos"?



Escrevi também sobre trilhas sonoras (e o brega) aqui: http://letrasdelets.blogspot.com/2009/09/ja-fui-inumeras-festas-do-cafona-ou.html

domingo, 5 de junho de 2011

Luto e Melancolia na tela grande

Sigmund Freud escreveu dois textos belíssimos que reli dia desses. Mesmo aqueles que não simpatizam muito com a obra do "pai da psicanálise" irão apreciar sua escrita acessível e literária. "Luto e Melancolia" (1917) e "Sobre a transitoriedade" (1915) são textos curtos escritos em um momento de transição da teoria psicanalítica. A grosso modo, ambos versam sobre perdas e a forma como lidamos com elas.

Lembrei dos textos ao assistir um filme recente ("Reencontrando a felicidade"- 2010) que trata de um tema espinhoso: a perda de um filho pequeno em uma morte trágica. Nicole Kidman e Aaron Eckhart interpretam o casal que tem de juntar os pedaços juntos após a dor imensurável da perda de um filho. Nicole foi indicada ao Oscar deste ano como melhor atriz por este papel. No entanto, foi eclipsada por Natalie Portman que acabou levando o prêmio. O ano foi de Natalie e seu "Cisne Negro", sem dúvida. No entanto, Nicole Kidman também merecia. Sem um pingo de botox, todas as expressões foram possíveis em sua interpretação de uma mãe amargurada. Ela, que em outros tempos brilhou com a melancólica Virgínia Woolf no denso "As horas"(2002), faz agora uma mãe em luto. Não assistia a um filme tratar de forma tão realista a dor do luto desde o tristíssimo "O quarto do filho"(2001).

O que é perdido quando se perde um objeto de amor? Além do objeto de afeto, o que se vai? "Reencontrando a felicidade " tangencia essas questões, questões estas que foram aprofundadas nos textos do tio Freud. Há que se estar inspirado para assistir, sem dores muito recentes. No entanto, para quem  aprecia um bom drama e não tem medo de chorar no cinema, vale a pena. Nicole Kidman prova que está em excelente forma. E Sigmund Freud também.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um tapa na cara da sociedade!

Uma das cenas mais marcantes do cinema é a de Scarlett O´Hara arrancando um rabanete(!) da terra e jurando não mais passar fome novamente.

Ainda que jure por Deus, ela acrescenta que poderia roubar, matar e caluniar para que isto não acontecesse mais. A cena em que ela toma emprestada a cortina verde para fazer um lindo vestido marca o início da reviravolta de Scarlett na trama. Alguns dizem que "E o vento levou" é das histórias de amor mais lindas do cinema. Não é.  O filme é a história de uma mulher linda, forte e egoísta. Scarlett não amava nem Ashley e nem Rett Butler. Scarlett só amava a si mesma e sua terra: Tara.
Lembrei de Scarlett ao assistir a nova história de Norma (Glória Pires) em "Insensato Coração". A novela começou meio capenga mas, ao que parece, começa a reagir. Não há audiência que resista a uma história de vingança e recomeço, especialmente quando envolve humilhação. Embora o brasileiro seja, em sua maioria, criado na religião judaico-cristã, muito pouca gente gosta de oferecer a outra face. O tema da vingança (especialmente a feminina) tem lugar cativo na teledramaturgia nacional. E é legitimada, ainda que seja aos moldes de Scarlett: roubando, matando e caluniando.

Um dos clássicos do terror adaptados para o cinema foi "Carrie, a estranha" (1976). A paranormal Carrie (Sissy Spacek) era uma adolescente atormentada por uma mãe fanática religiosa e seus colegas da escola. Na festa de formatura, ela começa sua vingança. Silvio de Abreu fez sua versão de Carrie com Regina Duarte e seu banho de lixo em "Rainha da Sucata" (1990). A moça pobre se vinga mais tarde tornando-se milionária (a tal rainha do título) e casando-se com sua paixão adolescente que a teria humilhado tanto (Edu Figueroa, de Tony Ramos). Walcyr Carrasco escreveu sua Carrie: a doce Ana Francisca (Mariana Ximenes) de "Chocolate com Pimenta" (2003). Aguinaldo Silva, por sua vez, adaptou a já antológica Tieta (1989).

Ah, que sucesso faz o "tapa na cara da sociedade" ou, mais ainda, no algoz, geralmente um homem (seja o pai, o canalha, o playboy). Incrível como nessas colunas sentimentais apresentadas em vários portais observa-se imenso número de comentaristas que palpitam quando uma leitora sofredora abre seu coração. Se foi enganada e deixada, o conselho vem quase em uníssono: vingue-se, depois siga em frente.
Não, a vingança não é uma característica feminina. No entanto, mulheres ainda assistem muita novela e adoram uma reviravolta, especialmente quando envolvem um banho de loja. É bom ser Cinderela e Tieta de vez em quando, ainda que seja só na ficção. Isso desde Scarlett O´Hara e o vestido verde de cortina.

Scarlett e seu milagre de alta costura