domingo, 4 de dezembro de 2011

Tudo o que eu queria te dizer...

"Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer hoje". Esta máxima é recorrente contra os procrastinadores de plantão que somos todos, uns mais, outros menos. Em contrapartida, fala a favor dos impulsivos que telefonam (ou tuítam) bêbados de madrugada. Soninha Francine, que é colunista da revista Vida Simples, problematiza esta afirmação em sua coluna deste mês. Embora às vezes a espera possa ser fatal, adiar pode ser uma benção. A decisão, no entanto, de quando fazer uma coisa ou outra não é tão fácil assim. Palavra dita não volta atrás. Mas o tempo perdido também não.

Uma das coisas bacanas do (quase) finado orkut, eram as comunidades. Depois virou uma várzea, mas no início era um espaço interessante para trocar informações e conhecer pessoas. Uma das comunidades era uma que falava de escritos não enviados ("Escrevi, mas não mandei"). O pessoal relatava cartas ou e-mails escritos e não mandados; alguns pediam opinião e depois compartilhavam as repercussões. Quem aqui nunca apertou a tecla send e se arrependeu que atire a primeira pedra. Eu sou do tempo do correio e já cheguei a pensar em interpelar o carteiro para que a carta não chegasse. Em tempos de internet e sms, a coisa é muito mais fatal.


Martha Medeiros, outra das escritoras super citadas, escreveu um livro interessante sobre o tema. É um livro de cartas ("Tudo o que eu queria te dizer") e traz diversos tipos delas: de filha para mãe, de fã para ídolo, de amante ressentida, etc. Todas são fictícias, mas é fácil se identificar em ao menos uma delas.

O efeito de uma mensagem, ainda mais escrita, nunca é completamente previsível. Como se escreveu? Como será lida e em quais circunstâncias? Sophie Calle, uma escritora francesa, enviou a carta de rompimento de seu ex-namorado para 107 mulheres para que elas dissessem o que achavam e como a interpretavam. Das mais diversas opiniões, ela fez uma exposição de arte. Na FLIP de 2009, ela e o ex se encontraram pela primeira vez pós-carta em uma mesa para um confronto. Foi o máximo que vi de onde uma carta escrita poderia chegar. E de como palavras ditas de forma infeliz podem ter um eco absurdo.

Enfim, uma tática interessante (e conhecida) é mandar para si mesma o e-mail (carta, sms, whatever) e ler um dia depois. Escritos sob forte emoção podem soar ridículos e malucos para quem lê e não está na mesma vibe. Já escrevi um e-mail de madrugada que começou cordial, evoluiu para uma série de impropérios e terminou com um obrigada. Não ganhei tempo com ele, não me aliviou em nada e a palavra escrita foi e não voltou. Há coisas que devem ser ditas sim, aqui, agora e para o destinatário correto. Há aquelas que podem esperar. E outras tantas, bem... guarde-as ou jogue-as fora se não servirem mais.

2 comentários:

Marcia Cardoso disse...

Lê, adorei o texto !!
Você sabe bem que na arte de escrever emails no auge da emoção eu sou boa (ou não...rs).
O bom de se escrever, pelo menos para mim, é liberar os sentimentos, sejam eles positivos ou não.
Depois de clicar o send , é esperar a resposta ou a ausência dela, que não deixa de ser uma resposta também.
Beijos

Anônimo disse...

Bem propício ao meu momento...