terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Minhas dez novelas do coração (2001-2010)

Gosta de listinhas? Final de ano é uma época de fazer listas: do que foi feito no último ano, do que pretendemos alcançar no ano que vem. Bóra falar de tevê? Embora ande meio decepcionada com meus teledramaturgos preferidos, resolvi fazer minha listinha de dez mais. Com vocês, as dez melhores novelas da década, na opinião da humilde blogueira.


10) "O Clone"(Glória Perez, 2001) - Para muitos, a melhor novela da década, do que discordo veementemente. O mundo acabara de ver as torres gêmeas serem bombardeadas por dois aviões e os árabes taxados como inimigos públicos número um , devido ao terrorista Osama Bin Laden. E lá vem Glória Perez nos apresentar Jade, a marroquina muçulmana com sotaque de garota de Ipanema, que se apaixona por um ricaço brasileiro, o Lucasssssss. E dá-lhe ponte aérea Brasil-Marrocos como se fosse Rio-São Paulo. A novela virou febre (de pulserinhas da Jade a expressões ditas por Nazira). Giovana Antonelli fez moda com seu cabelão, a dança do ventre e os olhos pintados de cajau. Houve também a grata surpresa de Débora Falabella e sua Mel. Fantasiosa em demasia para o meu gosto, mas a parte dramática teve bons momentos.Tio Ali ( Stênio Garcia) e suas pérolas virou meu ídolo.
09) "Da cor do pecado" (João Emanuel Carneiro, 2004) - Um bom novelão das sete, talvez a melhor da década. João Emanuel brinca com os elementos clássicos do folhetim, sempre com um bom núcleo de comédia. Foi a primeira novela global com uma protagonista negra: Thaís Araújo. Reynaldo Gianechinni viveu os gêmeos Paco e Apolo e havia a família Sardinha, uma família que quase virou série independente, tamanho o sucesso.
08) "Senhora do Destino" (Aguinaldo Silva, 2004) - Fora "Tieta", uma adaptação da obra de Jorge Amado, foi a única novela de Aguinaldo Silva de que realmente gostei. A Maria do Carmo de Suzana Vieira era uma chata, mas tínhamos a Nazaré Tedesco de Renata Sorrah. Suas cenas com Elizângela, a antiga companheira de "vida fácil" Djenane, foram antológicas. Leandra Leal deu show como sua enteada, ao lado do doce Leonardo Vieira. Última novela de Raul Cortez, já bastante doente. José Wilker arrancou risadas com seu bicheiro "do bem" Giovanni Improta ("o tempo ruge e a Sapucaí é grande").
07) "Mulheres Apaixonadas" (Manoel Carlos, 2003) - A última novela decente de Manoel Carlos. Um milhão de personagens intercalavam suas histórias com a de Helena, a diretora do colégio particular Era. Única Helena de Cristiane Torloni, que era uma chata. Destaque para as meninas fofas que se amavam (Aline Moraes e Paula Picarelli), a doce Salete (Bruna Marquezine), a "Helouquisa" (Giulia Gam) e o MADA, a politicamente incorreta Dóris (Regiane Alves) e a maravilhosa estréia de Dan Stulbach e sua raquete do mal.
06) "Caminho das Índias" (Glória Perez, 2009) - Ganhou o Emy de melhor novela do mundo. Nada desprezível, não? Como sempre, Glorinha fez aquela misturêra básica: esquizofrenia, psicopatia, costumes indianos, etc, etc. Conseguiu fazer uma trama bem amarrada, apesar das licenças poéticas exageradas. Primeira vez que eu gostei de uma mocinha da Glória Perez: Juliana Paes fez muita gente chorar com sua Maya. E o Raj de Rodrigo Lombardi roubou a cena e a mocinha do esquecido Bahuan de Márcio Garcia.
05) "A lua me disse" (Miguel Falabella, 2005) - Miguel Falabella em boa forma, embora a novela não tenha sido aquele sucesso todo. Última novela das seis que assisti. Falabella é nosso Pedro Almodóvar com suas mulheres escandalosas e cheias de cores. Havia o homem travestido, a cantora de bar, a índia e as negras arrogantes. Nada politicamente correto. Arlete Salles era Ademilde, a mulher lutadora que havia sido abandonada pelo noivo e buscava um amor pela internet. Wagner Moura era o melhor mocinho de todos, com seu doce Gustavo. E Adriana Esteves era a mocinha destemida. Uma delícia de novela, ri demais.
04) "Paraíso Tropical" (Gilberto Braga, 2007) - A novela começou devagar, mas engrenou bem depois, caindo no gosto do público. Foi o ano de Wagner Moura. Além do herói Capitão Nascimento, ele arrebatou a mulherada com seu vilão deliciosamente canalha Olavo Novaes. Uma dupla inesquecível com a Bebel, de Camila Pitanga ("na minha cara está escrito: CAL-ÇA-DA!") roubou a cena da novela, que ainda contou com Alessandra Negrini, com suas gêmeas Paula e Thaís.
3) "Belíssima" (Silvio de Abreu, 2005) - O tema era a beleza e a tragédia. Tanto é que a novela, não por acaso, começa na Grécia. O mote condutor era a rivalidade entre a rica e malvada Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e sua neta Vitória (Cláudia Abreu). O laço familiar que as unia só é descoberto nos últimos capitulos. Destaque também para o ambivalente André Santanna de Marcelo Antonny e para a família grega espalhafatosa que contava com Irene Ravache, Lima Duarte e Cláudia Raia. Primeiro papel cômico de Gianechinni, o Paschoal.
2) "Celebridade" (Gilberto Braga, 2003-2004) - A trama era inspirada no clássico filme "A Malvada". Dissimulada aspirante a atriz (Anne Baxter) toma o lugar de sua ídola no teatro (Bette Davis). Sai Anne Baxter, entra Claudia Abreu. Sai Bette Davis, entra Malu Mader. O fio condutor da novela é o sentimento tão universal da inveja. Claudia Abreu também roubou a cena de Malu, lindíssima como a produtora Maria Clara Diniz. Márcio Garcia segurou bem o papel de comparsa de Laura, o Michê. E como era irresistível o personagem Renato Mendes, de Fábio Assunção...
1) "A favorita" (João Emanuel Carneiro, 2008) - Que beijinho doce tinha Flora. Tanto que Patrícia Pillar enganou meio mundo como sendo mocinha da novela. Na verdade, a mocinha era a espalhafatosa Donatella de Cláudia Raia, que comeu o pão que o diabo amassou. João Emanuel inovou em muita coisa na elaboração do roteiro da "Favorita", primando pela coerência dos personagens. Mariana Ximenes, Cauã Reymond, Glória Menezes, Elizângela e impagável Ary Fontoura estavam ótimos. Isso sem contar a dupla de protagonistas. Flora foi a pior vilã de todas, pois odiava a própria filha, um tabu, mesmo entre vilãs de novela.

Concordam com a lista? Comentem aí! Há novelas boas de outras emissoras, mas como não as assisti, não posso opinar. Convenhamos que os últimos anos não foram os melhores da teledramaturgia.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Há um moreno na sua vida...

Que atire a primeira pedra a mulher que nunca foi a uma cartomante (ou ao menos sentiu-se tentada a ir). Desde os 15 já ouvimos falar de alguma "boa" que acerta tudo ("não tinha como ela saber, juro") e que geralmente mora numas quebradas, em alguns cantos da cidade que sequer imaginávamos existir. Além de ler cartas, algumas lêem a mão, são benzedeiras e ensinam simpatias. Mil e uma utilidades, portanto. Outras, dizem, falam sobre você mesmo que  não esteja presente (é só levar uma peça de roupa, por exemplo). Algumas tem fila de espera ("só tem horário pra Agosto do ano que vem!") e Fulana de Tal vem do Cafundó do Judas para consultar com essas tais. Pois é, quem é que não quer saber do futuro?

No entanto, não precisa ir a uma delas para que ela, a vidente, saiba que você sofre de amor. Cartomante que é cartomante fala do triângulo amoroso. Ele vai largar de você para ficar com ela ou vai largar dela para ficar com você? Há sempre uma outra e ela tem inveja de você, cuidado. É que você tem "estrela", gera muita inveja mesmo.

Uma carta vai chegar e vai haver uma festa. Há sempre um moreno ou um loiro, ou os dois. Um deles usa uniforme (tanto faz se de carteiro, médico ou militar). De qualquer forma, chegará um novo homem em sua vida, esqueça o do triângulo amoroso se ele te faz sofrer.
Brincando com essas inseguranças femininas e outras questões mais complexas, Woody Allen fez seu último filme ("Você vai conhecer o homem dos seus sonhos" - You Will Meet a Tall Dark Stranger). Extremamente irônico e cáustico, o diretor nos faz rir, às vezes de forma melancólica, de nós mesmos e deste mundo cão. Curiosamente, às vezes cartomantes são necessárias para que acreditemos, de fato, que  nossa estrela vai brilhar. E que mesmo os mais realistas e céticos fazem-se enganar sem precisar delas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO

"Você acha que ele está como você por conta de sua inteligência?" - pergunta alguém a Jenny (Carey Mulligan), a personagem central de "Educação"(2009). Taí uma pergunta que me instigou, entre tantas deste filme. Identifiquei-me, em certo aspecto com Jenny, a adolescente que queria ser adulta, ávida por cultura e novas experiências. Jenny é aluna de um colégio conservador na fria Inglaterra pré Beatles e Rolling Stones que se envolve com um homem com o dobro de sua idade.
A estética sessentinha (do início dos anos 60) é encantadora, assim como a trilha sonora. O roteiro foi escrito por Nick Hornby (Alta Fidelidade), um cara que já provou entender das inseguranças dos rapazes na faixa dos 30-40 e que se arriscou a escrever sobre uma menina adolescente. Na verdade, ele se baseou em um artigo auto-biográfico da jornalista Lynn Barber, e é bem difícil (pelo menos para mim) identificar o seu estilo no filme. No entanto, ele ajudou a escolher algumas músicas da trilha, outra de suas especialidades, vide a maravilha que é a coletânea de Alta Fidelidade, uma pequena obra prima.
Jenny é uma adolescente nerd que vive um dilema: o que escolher, a carreira na universidade de Oxford ou uma vida cheia de ousadias e novidades junto a um homem bem mais velho que ela? A estreante Carey Mulligan lembra (de longe) a doce Audrey Hepburn e já virou queridinha dos fashionistas com seus vestidinhos retrô.
O título que o filme teve na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi "Sedução". O título em inglês é "An education", mais próximo do título definitivo que ganhou no Brasil. Voltando a pergunta que dá início a este post, o longa questiona o quanto tem valor, de fato, a educação formal de uma mulher nos anos 60 e (por que não) hoje também .Jenny, ao que parece,  acreditava que David, o charmoso trintão, gostava dela por ela ser culta, ouvir música francesa e ser especial. Seria isso, de fato? Ou o encanto estaria no fato dela ter apenas16 anos? Um filme com um enredo aparentemente simples mas que faz pensar. Sobre meninas, mulheres, relações, escolhas e renúncias.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre o casamento de Danielle Winitts e outras histórias...

Lya Luft escreveu sobre o assunto na VEJA de hoje. Que assunto? O machismo, olha só. Algo que parece tão anos 50 e está aí, tão atual. Em conversa com um motorista de táxi, ela ouviu dele, um tanto quanto estupefata comentários de que existem mulheres para casar ("limpinhas", que cuidam dos filhos e colocam a comida na mesa na hora certa) e mulheres para se divertir (meninas bonitas, mais sexualizadas). Ouviu também que homem é homem, sabe como é. Precisam se divertir de vez em quando. Ou seja, a mulher "limpinha" em casa não basta.
Não precisa conversar com um taxista para ouvir coisas semelhantes. Já ouvi algo parecido de amigos bem bacanas. Na internet, muitas vezes uma terra de ninguém, sob a proteção do anonimato lê-se coisas bem menos abonadoras a respeito das mulheres. Todos os comentários querendo colocá-las no seu devido lugar (seja qual for ele).
Por exemplo: em um site destes, de fofoca, durante esta semana pipocou a notícia de que Danielle Winitts iria se casar com Jonatas Faro, bem mais jovem do que ela. Entre vários comentários revoltados, um deles pedia para que "essa senhora de idade se comportasse, pois mulheres velhas como ela deveriam se dar ao respeito e estar no bingo (!)". Outro, antecipava o fim próximo do namoro-casamento, pois afinal, ela tinha pago para o garoto estar com ela,  pois era uma "baranga velha e rodada". Detalhe: Danielle Winitts tem 36 anos.
O fato de surgirem boatos a respeito da infidelidade da atriz com o primeiro marido (o modelo Cássio Reis) só agrava a ira e faz dela a Geni da vez. Vagabunda, joguem pedra nela. Como ousa gozar a vida, ainda mais com um cara mais jovem?
Sei lá, em tempos ditos tão mais democráticos, ainda me choca ler comentários deste tipo, do mesmo que fizeram de Geise Arruda no fatídico caso Uniban. Foi vaiada, ameaçada de estupro por um bando de estudantes? Ora essa, ela provocou, onde já se viu ir vestida daquele jeito na faculdade? Eliza Samudio foi assassinada cruelmente pelo goleiro Bruno e sua gangue. O próprio advogado do acusado se pronunciou: ora essa, quem ela era? Maria-chuteira, garota de programa, atriz pornô. Ué, merece ser assassinada por conta disso? Tem menos direito à vida do que uma freira, por exemplo?
Eu achava que o feminismo, 40 anos depois, era uma bandeira um tanto quanto antiquada e cafona nos dias de hoje. Estava errada. A mulher desejar e fazer do seu corpo e desejo o que bem entender ainda é uma afronta. Mulheres assim não são mulheres limpinhas com quem se casa e "se respeita". Danielle, Geise e Eliza não são mulheres que admiro, mas estão no seu direito de fazerem o que bem quiserem sem serem apedrejadas por isso. Pelo visto, muita gente discorda.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vale Tudo, again.


Bóra eu falar novamente da dona Odete e cia. Meses atrás narrei um diálogo de "Vale Tudo" reproduzido por mim e um grande amigo em um restaurante (loucos). Como se não bastasse a tamanha loucura e saudosismo nossos, eis que a novela retorna em reprise (Canal Viva) e vira febre novamente, com os gritos de Raquel Acioly, as bebedeiras de Heleninha e a franja de Solange Duprat. E, é claro, as frases politicamente incorretas de Odete Roitman.
Gilberto Braga, para quem lê este humilde blog, é recorrente em minhas recordações saudosistas. Esqueça os fúteis do Leblon de Manoel Carlos, pois é Gilberto Braga que retrata melhor o que há de mais cáustico e podre entre os ricos cariocas. Seus mocinhos são enfadonhos, mas os vilões são os melhores. Haja visto a própria Odete, Felipe Barreto, Renato Mendes, Laura Prudente da Costa e Olavo Novaes. Seus vilões tinham humor.
Voltando a Vale Tudo, novela de 1988/89, algumas coisas continuam bem atuais, mas muito envelheceu. Não sei se é por conta das imagens antigas, mas algumas cenas estão muito escuras. Tudo era mais pobre, até a casa dos ricos não tinha tanto luxo como hoje. A corrupção continua uma praga que corrói o país, mas o desemprego, o horror dos anos 80, não está mais tão assustador. A classe C e D pode comprar mais e ter acesso a bens de consumo inimagináveis naqueles tempos. Além disso, viagens internacionais que eram quase inacessíveis naquela época, estão bem mais próximas da classe média. Isso tudo, fruto de uma economia estável, algo que era bem distante da realidade em 88. Um luxo, para o rapaz rico (Tiago, filho de Marco Aurélio) era ter uma extensão telefônica no quarto, além de uma televisão. Eram tempos sem computador e celular. Ah, e um grande presente era dar um disco de vinil.
Alguns golpes da vilãzinha Maria de Fátima não seriam necessários.O golpe da simulação de incêndio na revista Tomorrow  para roubar a agenda de Solange, por exemplo. Ela queria apenas o nome do cabeleireiro de uma atriz famosa. Hoje é fácil saber disso pelas revistas, pois os próprios "hair stylist" são celebridades. O mundo todo mudou e é globalizado.
Pessoalmente, minha posição também é outra em relação à novela. Para mim, na época, Raquel, a mãe de Fátima, era uma senhora. Hoje, vejo Regina Duarte quase como uma menina, muito jovem, pois estou mais próxima da idade dela na época (40)  do que a idade de Glória Pires (25, uma garota). Em 1988, eu  estava no início da adolescência, sonhando com a viagem de formatura. Tenho todo este ano registrado em diário e a impressão é de que foi ontem que eu tinha um abrigo colorido da Benetton, parecido com o de Flávia Monteiro. Assistindo, hoje, à novela, vejo que não foi. Já faz 22 anos. Uma verdadeira viagem no tempo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Julie e Julia



"Julie e Julia" tinha tudo para ser um filme "menor", mas não é. Também tem cara de filme "para mulheres", mas não é o caso. Com um roteiro bem amarradinho, ele conta a história de duas mulheres separadas no tempo, mas unidas por uma paixão: a culinária. No entanto, mais do que terminar de assisti-lo e ter vontade de cozinhar, eu senti vontade de fazer muitas coisas. De começar e terminar projetos,sejam eles quais forem.

É incrível como nos filmes americanos as pessoas estão sempre trabalhando. Cozinhando, cuidando do jardim, costurando, escrevendo, os personagens estão às voltas com algo enquanto desenvolvem o enredo do filme. Nas novelas brasileiras, o cenário sempre é a mesa do café, o jantar, a rua, a praia. Não sou uma apaixonada pelos filmes americanos atuais, mas, curiosamente, eles me incitam o desejo de trabalhar.

As duas personagens citadas acima (e baseadas em pessoas reais) tinham vários pontos contra para realizarem seus projetos. E foram em frente. Contavam, sim, com dois maridos maravilhosos (uns santos, vamos combinar) e que tinham uma enorme paciência com tamanha obstinação.

Talvez por ser um tanto quanto atrapalhada com tarefas domésticas (embora eu me vire), sou profunda admiradora daquelas que possuem talento para tanto. Acreditem, há pessoas que são artistas em arrumar uma cozinha e lavar bem a pia. De varrer bem um chão. De passar um pano como ninguém. De dar aquele pontinho imperceptível na camisa rasgada. De consertar um casaquinho de crochê. De engomar uma camisa como ninguém. Para mim, elas são mágicas. Adoro pessoas que criam. Seja na costura, na cozinha, na jardinagem. Minhas plantinhas não sobrevivem por um mês.

Concluindo: este post é um elogio a quem conclui projetos, grandiosos ou não. E também (as feministas que me perdoem) às mulheres que sabem cuidar bem de uma casa. Enquanto aprendo como se faz, escrevo. É o que, afinal, eu consigo produzir

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O que aconteceu com Geraldo Vandré?

Por desinformação ou, talvez, por alguma informação errada, eu acreditava que Geraldo Vandré, grande artista da MPB, estava morto. Foi com bastante surpresa que descobri, através de um intervalo da Globo News que ele estaria vivo e que, depois de 40 anos, voltaria a falar com a imprensa. Era o programa "Dossiê Globo News".
Geraldo Vandré, para quem não sabe, compôs a obra-prima "Disparada" e o hino de uma geração: "Caminhando (Para não dizer que não falei das flores)". É dele a célebre frase "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Tinha em Vandré, desde a adolescência, a imagem do grande poeta e do engajado político, daquele que não se calava diante do que acontecia no seu país. Lembro-me de meu querido professor de História falando do sofrimento do artista, que teria passado por torturas físicas e psicológicas terríveis por conta de uma canção.Talvez viesse daí a idéia de que ele estivesse morto.
Assisti à entrevista com um aperto no peito. Estava lá um senhor de cabelos brancos de postura encolhida e olhar distante, vestindo uma camiseta com o emblema da Força Aérea Brasileira. Poucas vezes alterou-se durante as perguntas. Não expressava dor, melancolia, raiva, irritação ou doçura. Parecia não haver ninguém naquele corpo. Ele vive sozinho hoje, aos 75 anos com, ao que parece, ajuda da FAB, honorários de sua produção artística e aposentadoria de quando era funcionário público. Não se casou, não teve filhos e tem poucos amigos. Cuida da mãe que ainda é viva.
Ao falar da comoção causada por sua canção emblemática (Caminhando) no Maracanãzinho, ele pede: "deve ter o VT lá na sua estação, eu queria ver". O VT não foi encontrado.
Nega que foi militante e que suas músicas eram de protesto, inclusive "Caminhando". Disse não ter sido maltratado pelas Forças Armadas. Alega não ter gravado mais porque o Brasil ,depois que voltou do exílio não é o mesmo Brasil de 1968. Repete várias vezes algumas frases, há algum resquício de uma pessoa diferenciada intelectualmente aqui e ali, mas é só. O raciocínio parece não chegar a lugar nenhum.
Teria sido Vandré uma criação? O que aconteceu com ele? Uma geração inteira projetou demais em sua figura ou ele perdeu-se em algum lugar? Houve de fato, tortura? Se sim, o que foi feito de Vandré? Utilizo uma frase do próprio para terminar este post: "Vandré foi exilado em 68 e nunca mais voltou".

* Vale apena assistir a esse emocionante vídeo com cenas da época, embaladas por aquela que foi o hino nacional de uma geração.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma noite em 67...


Ainda que você não seja saudosista como eu, vá assistir "Uma noite em 67". Uma preciosidade e tem que assistir no cinema mesmo. Eu me senti nos auditórios da Record, tive vontade de bater palmas, gritar e cantar junto, torcer e vaiar. Tá, sou louca, mas que vale a pena, vale. Na televisão, não adianta, não tem o mesmo efeito.
Logo no início do documentário, você vê Edu Lobo cantando o seu "Ponteio" e a platéia enlouquecida, gritando o nome de Edu. A platéia, esta que era um personagem a parte, capaz de descompensar Sérgio Ricardo e seu violão. Pobre Sérgio Ricardo, que ficou marcado pela vaia por toda uma vida.
É muito engraçado ver os pra lá de grisalhos Roberto, Caetano, Gil e Chico como moleques. Eram uns meninos, fazendo piadas nos bastidores, brincando com o nervosismo. Todo mundo já foi menino e iniciante um dia, até mesmo Roberto, Caetano, Gil e Chico. E Roberto, ah o Roberto, o que o tempo fez dele?
Triste é constatar que um dos nossos maiores letristas, Chico Buarque, é um homem de poucas, muito poucas palavras. Sabia que eram poucas, não sabia que eram tão poucas. Ele diz não se lembrar da letra de "Roda Viva", uma das minhas canções preferidas, das mais lindas. Ele só se lembra do refrão e olhe lá. Percebi que sinto mais falta da juventude de 67, eu, que nem era nascida, do que ele, que compôs um dos hinos daquela geração. Talvez eu sinta falta de uma passado que não existiu, de uma juventude aparentemente tão mais colorida, criativa e aguerrida do que a minha. Idealizada, sem dúvida.

O cinema estava cheio, entre jovenzinhos e pessoas bem mais velhas. Comprei o último ingresso e a sessão seguinte estaria igualmente lotada. Bom revisitar um tempo em que festivais de boas canções faziam as vezes de Big Brother.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

De outro mundo...

Há exatos 27 anos, meu pai saiu para um vôo e não voltou mais. Lembro da capa de uma revista Manchete (a revista preferida dele) que estava na sala durante aqueles dias tristes. Tinha o Michael Jackson na capa. Preto.

Penso que meu pai foi embora desta vida sem ver uma série de coisas. Não viu o crescimento da AIDS (aliás, ele nem sabia o que era a doença, provavelmente), não descobriu que Rock Hudson era gay, não acompanhou a queda do muro de Berlim pela tevê, não viu o Brasil ser tetra, penta. Não conheceu os Ronaldinhos, nem o Senna.Também não chegou a ver o movimento pelas Diretas-Já, a eleição de Tancredo, a posse do vice, o plano Cruzado, o Cruzado novo, o Collor vencendo o Lula, mas saindo mais cedo. Meu pai trouxe para nós um Atari importado quando ninguém tinha, e também um aparelho de fax. No entanto, não chegou a imaginar o que seria a internet e nunca, nunca teve um celular. No mundo das revistas Playboys do meu pai (e ele tinha muitas), não existia photoshop. Lá estavam as musas das pornochanchadas brasileiras e também estrelas de novela. Meu pai não chegou a ver o renascimento do cinema nacional. Naqueles anos, filme brasileiro era ruim.

Anos 70 e começo de 80 para mim são sinônimos de infância. Infância com meu pai. Depois disso, parece que passei para outra dimensão, entrei em outra etapa, outra história. Dia desses, minha mãe me olhou com cara de surpresa: "Filha, seu pai não chegou nem a ver o Movimento das Diretas". Ah, quantas coisas ele deixou de ver. Olhando assim, penso que ele viveu em outro mundo mesmo. Um mundo que acabou.

* texto originalmente publicado no meu antigo blog.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quem tem medo de Elizabeth Taylor?

Arthur Xexéo, grande jornalista, comentou dia desses em um programa de tevê a respeito de um novo filme biográfico. Tratava-se de um filme sobre Elizabeth Taylor e sua história conturbadíssima com Richard Burton. A princípio, ele disse ter pensado tratar-se destes filmes bem ralé, com atores desconhecidos e roteirinho pobre. Aliás, destes, encontra-se aos montes por aí, é verdade. Ao saber que o longa seria dirigido por Mike Nichols, mudou de idéia e ficou interessado.


Mike Nichols, para quem não sabe, dirigiu Liz Taylor e Richard Burton quando os dois fizeram o premiadíssimo “Quem tem medo de Virginia Wolf?”. O filme foi rodado em 1966 e ele, enquanto diretor, deve ter acompanhado de perto a relação apaixonada e bélica do casal. Este filme aliás, trata da história de um casal em crise. Reza a lenda que, em meio as filmagens, não se sabia quando eram os personagens e quando eram os próprios atores que brigavam.

Pois bem, Mike Nichols na direção, quem colocar no elenco? Diretor estelar, elenco estelar. Mas quem interpretaria Elizabeth Taylor? Entre as mais cotadas estariam Angelina Jolie e Catherine Zeta-Jones. Para o charmoso galês Richard Burton, pensaram no quase sósia (e igualmente charmoso) Clive Owen e no fofíssimo Colin Firth. Perguntei para minha mãe, fã de Liz, o que ela achava das escolhas. Sábia, disse ela: Angelina Jolie é linda, mas é Angelina Jolie. Não é Elizabeth Taylor. De fato.

Arthur Xexéo estava animadíssimo com a possibilidade, e eu também. Eis que vem Elizabeth Taylor, a própria, e joga um balde de água fria em todo mundo. A bocuda Liz, que também tem twitter, tuitou dia desses que antes que ela morresse, ninguém iria interpretá-la, além dela mesma. Que sobre Richard e ela, ninguém iria filmar nada. Tempos incríveis esses nossos que eu recebo notícias da minha atriz vintage favorita por ela mesma. E, realmente, não existe ninguém igual Elizabeth Taylor. Angelina Jolie é Angelina Jolie. E ponto final.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Reserva pra mim um hotel limpinho...

Tenho um grande amigo que, como eu, deleita-se com novelas antigas, especialmente as clássicas. Já fui Maria de Fátima e ele, Raquel Accioly na reprodução involuntária de uma cena de "Vale Tudo" durante um almoço. A gente se acabou de rir, mas o povo ao redor pensou, realmente, que estávamos brigando. Ainda mais que, aproveitando estarmos inspirados por Regina Duarte, lembramos de uma outra briga dela, como Malu, em Malu Mulher. Regina, nos dizeres de José Simão, já foi "a gralha das oito", seja como Raquel, as Helenas, Malu ou Porcina. Ninguém berrava como Regina. É o nosso momento terapêutico.
E voltando a "Vale Tudo", novas cenas foram acrescentadas no youtube por gente que gosta muito de novela. A grande Beatriz Segall, a respeito de sua personagem icônica Odete Roitman, disse, em entrevista que o grande sucesso de uma vilã deve-se à naturalidade com que se constrói o personagem. Ela, a personagem, não acha que é má. Ela realmente acredita que seu jeito de ver as coisas são óbvias e correspondem à verdade. Odete Roitman falava os maiores absurdos e acreditava naquilo, o que torna tudo muito engraçado. Você chega a concordar com ela.
Quer relembrar as pérolas de Odete? Vejam só como ela era profética:

as melhores cenas de Odete Roitmann

E reparem na simplicidade dos cenários e das roupas. A Globo e o mundo todo era mais pobrinho. Inclusive as vilãs de Gilberto Braga.

domingo, 16 de maio de 2010

O segredo dos seus olhos

"Brasileiro não tem memória", dizem muitos. Eu concordo em partes quando converso com pessoas que nem sabem que houve uma ditadura no Brasil, ou que elogiam Fernando Collor e Sarney. Em contrapartida, sinto que nossos vizinhos chilenos e argentinos sofrem de reminescências. A impressão que tenho é que são povos mais melancólicos, passionais, saudosistas. Fazendo uma comparação grosseira, o ritmo símbolo do Brasil é o samba, enquanto que o da Argentina, por exemplo, é o trágico tango.Tudo isso para falar do filme mais emocionante que assisti nos últimos, sei lá, dez anos. "O segredo dos seus olhos" (2009), filme argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro merece, de fato, todas glórias que recebeu. Há uma melancolia cortante que percorre todo o filme, apesar de te fazer rir com gosto em muitos trechos.

Os dois personagens masculinos principais sofrem com suas lembranças, associadas às mulheres que amaram e com as quais não puderam vivenciar e concluir uma história. O pano de fundo é o cinzento ano de 1974, auge da ditadura argentina (e também brasileira). O filme trata de histórias dolorosamente interrompidas. Em suma, trata-se de um filme de amor, ainda que seja também um drama e um bom suspense. Riso e choro se alternam na sala de cinema.

Apesar da estrela do filme ser o ótimo Ricardo Darín  (ator fetiche do diretor Juan Jose Campanella), a fragilidade impressa  por Pablo Rago comove. Aliás, esta ator participou de outro grande filme argentino, ganhador do Oscar de 86, o belíssimo "A história oficial", também passado nos tempos da ditadura. É um legítimo filme "de cinema", para assistir no escuro, olhando para uma tela grande, sem pausas para recuperar o fôlego. Vale a pena.

domingo, 11 de abril de 2010

Ti ti ti, a volta

Ti ti ti (1985), novela do grande Cassiano Gabus Mendes estará de volta em breve, em um remake, adaptada por Maria Adelaide Amaral. Trechos da novela original estão no youtube e fica difícil imaginar uma regravação tão boa quanto à original. Cassiano Gabus Mendes foi autor de grandes novelas das sete (novelas leves, de humor) e tem no seu currículo obras-primas como "Que rei sou eu?"(1989), "Elas por elas" (1982) e "Locomotivas" (1976).
Luiz Gustavo, irmão de Cassiano, deve a ele certamente três dos maiores papéis de sua vida: o anti-herói Beto Rockfeller (de novela do mesmo nome), o detetive atrapalhado Mário Fofoca (de "Elas por elas") e o adorável fracassado Ariclenes Martins, o Victor Valentim de Ti ti ti.  Nesta última, ele era o antagonista de Reginaldo Faria, seu inimigo de infância, que interpretava André Spina, o Jacques L`Eclair. Os dois eram estilistas de alta costura que duelavam pelas madames paulistanas. Na época, dizia-se que a rivalidade dos dois personagens teriam sido inspirados em Clodovil e Dener, grandes costureiros dos anos 70 e 80.

A novela era engraçada e original. Malu Mader, uma adolescente de 18 anos na época dá um banho de interpretação como a voluntariosa Valquíria, filha de Jaques L´Eclair. O romance proibido dela com Luti (Cássio Gabus Mendes), o filho de Ariclenes, era uma delícia, com uma química que foi repetida anos depois (em Anos Rebeldes). Aliás, o núcleo jovem era todo bom e contava também com a estreante Beth Goffman, a doidinha Eduarda, que fazia parte da turma da Lazinha. Onde vão encontrar um elenco jovem tão bom hoje?
Havia também Miriam Rios, que fazia parte do núcleo dramático da novela. Ela se envolvia com o cafajeste Pedro Spina, interpretado por Paulo Castelli (por onde anda o ator, aliás?). O tema dos dois (Lover Why?), assim como o de Luti e Val eram músicas que não faltavam nos bailinhos de garagem.
Eu sei que tenho meu lado saudosista exagerado, mas comparar o ano de 1985 em matéria de novelas com o ano de 2010 dá vontade de chorar. Além de "Ti ti ti", estavam no ar, ao mesmo tempo, a clássica "A gata comeu" no horário das seis e a campeã de audiência "Roque Santeiro" no horário das oito. Bons tempos da tevê aberta. É ou não é pra ter saudade?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Post antigo

Reli o que escrevi sobre Marcelo Dourado no início do BBB7, antes do fenômeno Alemão. Para quem se interessar, aqui. Eu atualizava o blog muito mais vezes...rs...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Por uma certa complexidade no BBB...

Psicólogos com pecha de intelectual tem uma certa vergonha de assistir ao BBB. No máximo, dizem que vão assistir para “analisar o comportamento humano”. É mais ou menos a mesma coisa que dizer que compra a Playboy para ler a entrevista. Ora se eu posso, de brincadeira, fazer psicanálise da revista Caras, por que não posso analisar o BBB? Poucos confessam, no entanto, que o envolvimento acontece, e, quando menos se espera, desce uma lágrima num paredão desses da vida. BBB é paixão. E identificação.

Eu começo o ano tendo como meta (é só ler posts antigos deste mesmo blog) não assistir mais ao BBB porque perco meu precioso tempo. Bobagem. Tal como uma mulher de malandro que jura nunca mais cair naquela conversinha barata, estou eu ouvindo “isso aqui é um jogo” e “estou sendo eu mesmo” novamente.

Posso dizer que não gosto dos participantes unâmimes. E, para minha decepção, raramente torci por mulheres. E antes que me acusem de machista, é só dar uma olhadinha nos meus posts anteriores. Eu não me vejo nas mulheres dos BBBs, ainda que algumas sejam interessantes. Por alguma razão, identifico-me predominantemente com os homens. E todos que torci não eram queridos do povão e muito menos do Boninho. Aliás, nem aquele que venceu era preferido da galera.

Sabrina (BBB3) era engraçada, uma adorável sem-noção que abusava dos biquínis minúsculos e tinha hábitos de higiene duvidosos. Grazi Massafera (BBB5), talvez a mais bem sucedida de todos os BBBs, era “a fofa”. Cadê a neurose da Grazi? Linda demais, perfeita demais. Tenho predileção pelos explicitamente neuróticos, humanos, e Grazi, ao menos no BBB, não era.

Há que se ter uma certa complexidade, além de jogar bem. Assim como Jean Massumi, o cabeça estrategista do BBB3 e o médico e louco Marcelo Arantes, do BBB8, só para citar alguns. Ah, e o fenômeno Alemão só foi possível de existir por conta do ressentido e carismático antagonista: Alberto Cowboy.

Agora, diante de um BBB 10 multicolorido, alguém desperta interesse? Tudo parece demais superficial e óbvio. Por ora, fico feliz de reencontrar Marcelo Dourado, o lutador machista, típico macho alfa. Ele, outrora lindo de doer, está lá cansado de guerra, um tanto quanto perdido diante de uma turma tão jovem. Sensível algumas vezes, totalmente inadequado e non sense em outras. Dourado, disputado por Juliana e Antonella no BBB4 é o dono das cenas mais calientes de todos os BBBs juntos. Por ora, é o meu preferido, na ausência de um neurótico mais interessante. Ou neurótica, quem sabe.