sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Feliz Natal!

Eu tinha entre cinco e seis anos quando descobri que Papai Noel não existia. Minha família e eu viajamos para outra cidade e, nas vésperas de Natal, meu pai pediu para que eu escolhesse um presente. Acabei pedindo uma boneca que era minha segunda opção, uma vez que a primeira (o "Bebezão") o Papai Noel iria trazer. Qual não foi minha surpresa quando, voltando para casa, eu constatei que não havia ganhado o Bebezão. Meu pai, que mentia muito mal, explicou-me que o Papai Noel tinha visto que eu já tinha ganhado uma boneca e achou que eu não precisasse. A mentira, é claro, não colou. Como o Papai Noel tinha adivinhado? Além de voar, velhinho, pelo mundo todo, ele ainda era vidente? A sensação com a descoberta foi única. Triste por perder o Papai Noel, feliz por estar mais próxima do mundo dos adultos. "Eu sou inteligente" - pensei. Triunfante, eu contei para minha irmã, que era menorzinha. Ela chorou. Eu explicava meu raciocínio. Ela gritou e chamou pelo meu pai que disse que eu era uma boba e não sabia de nada. Mais calma e feliz, minha irmazinha repetiu: "você não sabe de nada". Mais tarde, ela me deu razão, mas chorou de novo. Desde então, tem sido assim. Há sempre um conflito entre acreditar em coisas bonitas e alentadoras e confiar no meu raciocínio e nas evidências. 



Não sou uma pessoa de fé. No entanto, já frequentei a igreja católica com disciplina, participei de novenas,  fiz várias promessas, chegando a pagar penitências. Bem pequena eu frequentava a igreja sozinha, o que fazia com que meu pai me chamasse de "carolinha". Participei de grupo de jovens.Em determinada época usei a pulseira de Nossa Senhora desatadora de nós, que arrebentou enquanto eu atendia uma criança. Os tais "nós", contudo, continuaram. Como tenho família espírita, gosto muito de ouvir as primas e tia falar do Evangelho do Espiritismo. Amigas trazem relatos emocionados, que comovem. Ouço com carinho, gosto de ouvir. Admiro a pessoa de Chico Xavier. Além disso, adoro falar: "Fique com Deus, Deus te acompanhe". Para mim, é como um afago. E é sincero.

Quando surgiam notícias de cartomantes novas, geralmente em ruas íngremes, numas quebradas ("essa é boa, menina, acerta tudo, só tem horário para o ano que vem"), eu sempre ia. Pagava. Elas erravam tudo. Sempre. Algumas diziam que eu estava com a energia "carregada" e que voltasse outro dia, pois não conseguiam ver nada. Às vezes eu voltava. E pagava de novo. E elas erravam de novo. "Só com você ela erra, Letícia". Pois é, só comigo.

Mapa astral eu fiz três vezes. Viajei para fazer. Eram três horas de consulta e eu ainda ganhava as fitas cassete para ouvir depois. Eu sempre perdia as fitas. Nada fazia sentido nos tais mapas, mas eu tentava encontrá-lo em vão. O horóscopo eu leio todo mês. Otimistas, eles sempre me falam de viagens ao exterior (que eu adoro) no final do ano. Nunca viajei para o exterior em finais de ano. Provavelmente, nem eu, nem muitos outros taurinos. Eu adoro estórias bonitinhas embora eu não me convença muito com elas.

Percebo que o triunfo diante da descoberta da inexistência do Papai Noel tem se repetido ao longo da vida. Sempre há a ambivalência entre a satisfação de sentir-se muito esperta e o querer acreditar mais um pouquinho (em um pai que protege, nas conjunções astrais, no bom velhinho, em estórias bonitas). Fico contente que haverá crianças no meu Natal, pois assim poderei brincar um pouco de faz de conta. Aí tudo é possível. Feliz Natal.

5 comentários:

Leleaqui disse...

Que texto lindo Lê!!!
Beijo

Anônimo disse...

hej!

lembrei-me do comentário de um jovem e recém-aposentado piloto de motovelocidade: só contos de fadas têm finais perfeitos; a realidade é bem mais dura.

e como às vezes comenta um amigo do trabalho: tudo bem que seja difícil, mas também não precisa ser *tanto*.

Letícia disse...

A gente vai dando um jeito, né? Seja com cartomantes e afins, seja com senso de humor, seja com fantasia!

Anônimo disse...

bom dia! =]

você falando de fantasia fez com que me lembrasse de uma música que gosto muito, de uma banda muito querida. um trecho em particular: so many journeys end here / but the secret's told the same / life is just a candle / and a dream... must give it flame.

Anônimo disse...

Nao sei o que eh pior: se descobrir que Noel nao existe ou se nunca ninguem ter se preocupado em criar um "conto de fadas" para vc.