domingo, 5 de junho de 2011

Luto e Melancolia na tela grande

Sigmund Freud escreveu dois textos belíssimos que reli dia desses. Mesmo aqueles que não simpatizam muito com a obra do "pai da psicanálise" irão apreciar sua escrita acessível e literária. "Luto e Melancolia" (1917) e "Sobre a transitoriedade" (1915) são textos curtos escritos em um momento de transição da teoria psicanalítica. A grosso modo, ambos versam sobre perdas e a forma como lidamos com elas.

Lembrei dos textos ao assistir um filme recente ("Reencontrando a felicidade"- 2010) que trata de um tema espinhoso: a perda de um filho pequeno em uma morte trágica. Nicole Kidman e Aaron Eckhart interpretam o casal que tem de juntar os pedaços juntos após a dor imensurável da perda de um filho. Nicole foi indicada ao Oscar deste ano como melhor atriz por este papel. No entanto, foi eclipsada por Natalie Portman que acabou levando o prêmio. O ano foi de Natalie e seu "Cisne Negro", sem dúvida. No entanto, Nicole Kidman também merecia. Sem um pingo de botox, todas as expressões foram possíveis em sua interpretação de uma mãe amargurada. Ela, que em outros tempos brilhou com a melancólica Virgínia Woolf no denso "As horas"(2002), faz agora uma mãe em luto. Não assistia a um filme tratar de forma tão realista a dor do luto desde o tristíssimo "O quarto do filho"(2001).

O que é perdido quando se perde um objeto de amor? Além do objeto de afeto, o que se vai? "Reencontrando a felicidade " tangencia essas questões, questões estas que foram aprofundadas nos textos do tio Freud. Há que se estar inspirado para assistir, sem dores muito recentes. No entanto, para quem  aprecia um bom drama e não tem medo de chorar no cinema, vale a pena. Nicole Kidman prova que está em excelente forma. E Sigmund Freud também.