domingo, 31 de julho de 2011

Nasceu na beira de cachoeira?

- Nasceu na beira de cachoeira?
Aqui no interior a gente costuma lançar esta pergunta quando alguém fala aos altos brados. Em cidade de ascendência italiana como a nossa, é comum ouvir gente gritando e falando "cas mão". Ou seja, quase todo mundo aqui nasceu na beira de cachoeira. Em algumas circustâncias, consigo achar graça. Em outras, não.

Eu já tinha ouvido falar que com a idade nossa audição vai ficando mais sensível. Quem nunca teve uma avó ou tia que foi embora do casamento ou formatura porque tinha "aquela música alta"? Será, santo Deus, que eu já cheguei neste nível?

Sinceramente, à parte minha sensibilidade aguçada, penso  que as pessoas estão berrando mais. Eu não estou interessada em saber como anda a vida conjugal do casal hospedado no quarto ao lado do meu, mas acabo sabendo. Também não quero saber dos negócios do cara do restaurante que negocia o preço do carro ao celular. E nas agruras da família gralha que se comporta como se só existisse ela na praia.
No prédio em que moro, as pessoas não costumam apertar o interfone. Elas berram do lado de fora da janela. Juro. E os moradores respondem, pela janela também. E isso após a meia noite, de madrugada. É como se apenas eles habitassem o prédio.

Fazendo uma "interpretação selvagem" acredito que esta gritaria toda é sintoma. Os limites entre mim e o outro, hoje,são muito indefinidos. Na verdade, pouco me importa o outro e é por isso que eu grito e dou risada no avião enquanto as pessoas querem dormir. Gritar é uma forma grotesca de ocupar espaço. Ou mesmo de mostrar o quanto estou indiferente às outras pessoas. Aliás, sequer as noto.
Isso, de alguma maneira, aparece nas novelas. "Insensato Coração", por exemplo, é insuportavelmente gritada. A novela me cansa. Em "O Astro", está a rainha das gritonas: Regina Duarte.


Regina Duarte, gritando "monssssssstroooooo" desde a década de 70
Concluindo: as pessoas andam mais egoístas e autocentradas ou eu estou ficando velha e ranzinza até com a ficção? Talvez as duas coisas. No entanto, muita gente anda confundindo espontaneidade e emoção genuína com grosseria. E taí algo que eu, provavelmente, não aprenda a suportar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Meia noite em Paris

Tem algum lugar que você gostaria de morar e só visitou uma vez? E uma época que você acredita ser o melhor tempo do mundo para viver? Foi com essas questões que saí do cinema ao assistir "Meia noite em Paris", o último filme de Woody Allen. Como o meu saudosismo às vezes beira a chatice crônica, eu me identifiquei com o protagonista, vivido por Owen Wilson, ator especialista em viver bobalhões de bom coração.

Eu nasci em uma cidade muito pequena do interior paulista. No entanto, sou filha de um piloto de avião que, nascido na mesma cidade, voou e fez laços afetivos em inúmeros países do mundo. Hoje, trabalho em uma cidade um pouco maior, mas ainda nas proximidades de minha cidade natal. Embora sempre quisesse, jamais arrisquei ir muito longe. É comum haver um sentimento de inadequação, de ser estrangeira entre tudo o que me é mais familiar. Também é assim com o tempo. Aos onze anos, me foi pedido durante uma aula de redação que escolhesse uma figura, entre tantas, que melhor me representasse. Eu escolhi uma velhinha.

Sentía-me tão velha que chegava a chorar de saudade de coisas jamais vividas, de um tempo em que eu nem nascida era. E desenhava casas no meio da neve que seria a cidade em que era bom morar. "Ah, aquela época que era boa", falava a vovozinha de onze anos de idade.

O personagem do Owen Wilson, Gil Pender é um pouco assim. Pensa ele que se fosse morar em Paris, sairia de sua vida medíocre e teria grandes inspirações respirando o ar encantado da cidade luz. E seria ainda melhor se vivesse nos anos 20, os anos loucos, os anos em que viveram lá os gênios Fitzgerald, Picasso, Dalí, Hemingway...


Será que em Paris a vida de Gil seria tão melhor assim? E os anos 20 será que eram assim tão melhores do que os anos 2000? Talvez. De igual maneira eu penso: e se eu tivesse nascido em uma cidade maior? E se vivesse nos anos 50 em Hollywood? O objeto perdido ou distante costuma ter um valor inflacionado. Tendemos a desprezar o presente e idealizar o passado ou o futuro. E assim, o tempo passa.

Ora essa, e o que Gil Pender fez, afinal? Assista o filme para saber. Os amantes do cinema de  Woody Allen talvez considerem o filme um tanto quanto comercial e torçam o nariz, mas ainda assim vale a pena. E todo filme que faz pensar um pouquinho é um bom filme, na minha opinião. Rendeu até um post.

domingo, 17 de julho de 2011

Cinco anos...


Cinco anos pode ser bastante tempo. Ou não.
Há cinco anos dei início a este "humirde" blog. Tinha outro nome e um template tenebroso. Havia alguns visitantes e atualizações quase diárias e compulsivas. Não coincidentemente, iniciei meu processo de análise pessoal na mesma época. Percebi a "coincidência" um tempo depois.

Em uma época de blogs confessionais (os tais diários virtuais) e  "flogões", quis fazer algo menos pessoal em 2006.  Meu objetivo era falar de televisão e cinema. De qualquer forma, imaginava que ninguém fosse ler. Não era hábito no meu círculo de amigos alguém escrever um blog. E amigos costumam fazer uma certa caridade conosco, dar aquela forcinha básica. Qual não foi minha surpresa quando pessoas, até então desconhecidas, começaram a aparecer por aqui.

Depois de cinco anos, alguns visitantes permanecem. Outros, que iniciaram seus blogs na mesma época, estão em grandes portais e continuam escrevendo um monte, agora com maior visibilidade. Muitos sumiram neste espaço virtual de meu Deus. Nunca vi seus rostos; apenas avatares e um nick que, antes de sumirem, tornaram-se figuras familiares e afetivas. Através deste espaço, descobri blogueiros "gêmeos de alma", aprendi muito, apaixonei-me por textos e por figuras incríveis atrás dos textos.

Era a época do orkut, aquele espaçozinho azul-argentina que motivou amor e ódio. O blog acompanhou meu nascimento no orkut, o primeiro orkuticídio e a ressurreição. Em tempos atuais de twitter e facebook, meu perfil no orkut continua lá, sobrevivente, em um espaço que parece uma casa de praia abandonada. Há os testemunhos de outros tempos e anúncios que parecem propaganda de verões antigos. Falta só o requeijão estragado na geladeira, o shampoo vencido e a coragem de cometer o orkuticídio novamente e, desta vez, definitivo.

Cinco anos, como disse, pode ser bastante tempo. E é, quando percebo que não me reconheço em muitos textos meus. Não é, quando percebo que continuo a mesma em muitas coisas, apesar do tempo passado. De qualquer forma, achei que seria uma razão para comemorar. Eu continuo aqui. Como blogueira bissexta, mas continuo. Não achei que fosse durar tanto. Que venham os próximos cinco. Afinal, embora os 140 caracteres sejam mais do que suficientes para uma psicanalista, para uma noveleira e cinéfila, é muito pouco.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Todos queremos ser jovens...

Trabalho com adolescentes há mais de dez anos. No período do ano que estou com eles, tento conectá-los com gerações anteriores através de imagens e música. Vejo também nesta oportunidade uma forma de resgatar uma certa dívida simbólica com os jovens que viveram antes deles, uma vez que abriram portas para muitas das coisas vividas hoje. É interessante (e melancólico) observar como a chamada geração Y olha a geração 80, por exemplo, como uma época  longínqua, quase pré-histórica. De fato é, se observarmos as revoluções por minuto que ocorreram desde então. Este vídeo sintetiza isso tudo de forma emocionante, mesclando imagens e ícones de várias gerações. Desfrutem!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

No ar, mais um campeão de audiência...

Eu não me lembro quando "O Astro" passou na tevê pela primeira vez. No entanto, dois anos depois, outro grande sucesso de Janete Clair fez novamente sucesso na Globo. Em 1979, entrou no ar "Pai Herói", herdeira do horário de Dancin´Days. Além da famosa autora, repetiam-se nos papéis centrais Elizabeth Savalla que interpretou a bailarina Carina, e Tony Ramos, que fez André. E devido ao carisma do par central, é a primeira novela da qual tenho uma lembrança bem nítida.

                                                       o amor rasgado de "Pai Herói"

Em "O Astro", eles foram Lili e Márcio Hayalla. Ambos com poucas novelas no currículo, o casal virou queridinho do horário nobre, tornando-se quase os novos "Tarcísio e Glória". Eu me lembro muito do olhar do Tony Ramos. Era muito pequena na ocasião de "Pai Herói", mas poderia dizer que Tony Ramos foi o primeiro homem que eu quis casar (tá, sou velha). O outro da mesma época foi o Sidney Magal, mas esta já é uma outra história.
A cena abaixo é considerada antológica na teledramaturgia brasileira. Em "O Astro", Tony Ramos, como Márcio, o filho do milionário Salomão Hayalla, abre mão do dinheiro do pai. Ele faz uma cena muito semelhante a do filme "Irmão Sol, irmã Lua" de Franco Zefirelli fazendo alusão a São Francisco de Assis. É o primeiro nu masculino em uma novela brasileira e a apresentação dos pêlos de Tony Ramos ao grande público.




Tony Ramos, muito jovem, consegue transmitir toda a inocência de Márcio no olhar. Foi o primeiro de muitos mocinhos "puros de coração" que ele viria a interpretar.
Lembro-me  de que eu queria ser Elizabeth Savalla (tá, sou velha 2) para poder beijar o Tony. E ainda por cima, em "Pai Herói" ela era uma bailarina, tudo o que eu mais quis ser até os meus cinco anos.

Na nova versão de "O Astro", o papel de Márcio será de Thiago Fragoso, que eu adoro. Pelas chamadas que foram ao ar até agora, acho que ele segura bem. Difícil, uma vez que mais do que o mistério do "quem matou Salomão Hayala", a  novela é muito lembrada pela sensibilidade do filho único e sensível do milionário. E por Tony Ramos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vida deveria ter trilha sonora?

Diana Corso, uma psicanalista de quem gosto muito por tudo o que já escreveu, é agora colaboradora da revista "Vida Simples" (excelente publicação, mas que, a despeito do nome, é bem carinha...rs). No artigo deste mês de Julho, discorreu ela sobre os aspectos inconscientes das músicas que nos invadem a mente sem mais nem menos. Escreveu lindamente sobre uma música que repetidas vezes lhe vinha e que, ao prestar atenção, percebeu que tinha muito a ver com os sentimentos vividos no momento.
No (quase) finado orkut havia uma comunidade muito bacana (aliás, um dia participar de comunidades do orkut já foi bem bacana...rs) chamada "Vida deveria ter trilha sonora". Eu diria, fazendo coro com Diana Corso que, não só deveria, como já tem. No entanto, depois do artigo dela, resolvi ouvir melhor a minha trilha.

As músicas que invadem a minha mente (ao acordar, na clínica, nos momentos mais bizarros) são, invariavelmente, bregas. E como todo brega, são dramáticas.

Há mais ou menos um mês, era uma música do Zezé e Luciano "Muda de vida". Eu nem conhecia a música direito, tive que pesquisar. A música fala de uma pessoa que manda um recado a um alguém: "Muda de vida ou vai me perder, seja comigo o que sou com você. Você está perdida e não sabe o que quer. Muda de vida!!". Não levei ao pé da letra, mas fez sentido no momento em que vivia, ansiosa por uma mudança (inclusive de casa, veja só). A voz de Zezé era imperativa o dia todo e gritava nos meus ouvidos "Muda de vida!!". Detalhe: eu tenho pavor de Zezé di Camargo e Luciano.
MUDA DE VIDAAAAAAA!!!

Ao término de relacionamentos sofridos, a trilha piora. Vai de KLB a Leandro e Leonardo (por que sertanejos, meu Deus, por quê???). A mais recorrente é "que estou morrendo, morrendo por dentro... é tanta saudade morando em meu peito (...)". Às vezes a língua muda e os sucessos são internacionais, mas a breguice continua. Que tal acordar com Bonnie Tyler: "and I need you tonight, and I need you more than ever"? "Total eclipse of the heart" gritada às sete da manhã. E taí uma música para cantar gritando. Assim como "I wanna a hero", variação igualmente gritada da mesma cantora.

Uma conclusão bem grosseira é a óbvia. Sou hiperbólica com os meus afetos, ainda que não os demonstre tanto assim. Minha trilha sonora escolhida inconscientemente a dedo me mostra isso. Não acordo jamais com uma música do Chico Buarque. No entanto, me intriga a última música insistente que me perseguiu dia desses. Estava na melancólica cidade de Praga e de repente:

"Tira a calça jeans, bota um fio dental, morena você é tão sensual"
Recuso-me, terminantemente, a tentar interpretar. E, pelamor de Deus, Zezé di Camargo até vai, mas "Os morenos"?



Escrevi também sobre trilhas sonoras (e o brega) aqui: http://letrasdelets.blogspot.com/2009/09/ja-fui-inumeras-festas-do-cafona-ou.html