quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Qualquer semelhança...

Em 1988, Gilberto Braga criou uma personagem icônica que, entre os noveleiros, até hoje dá o que falar. Interpretada por Beatriz Segall, a vilã Odete Roitman marcou uma época.Era o final dos anos 80 e vivíamos tempos de abertura política após um longo período ditatorial. Os índices de desemprego preocupavam e a inflação, plano econômico após plano econômico, era galopante. A desigualdade social, que até hoje marca a população brasileira, era abissal. Odete Roitman era a encarnação do rico arrogante, que desprezava os hábitos brasileiros e tinha horror a pobres e nordestinos ("não quero ouvir sotaque de outros estados perto de mim" - disse ela em uma de suas primeiras falas, que tornou-se clássica). Lembrei da lendária Odete ao ler, repetidas vezes, comentários preconceituosos e elitistas no facebook, por ocasião das eleições. Engraçadas ao serem proferidas por uma personagem carismática de novela, frases muito parecidas, quase trinta anos depois, ditas por amigos seus, chegam a assustar. Beatriz Segall chegou a declarar, na época de Vale Tudo, que não queria uma personagem caricata, ela queria que Odete Roitman fosse uma personagem crível, que você pudesse encontrar  entre pessoas do seu convívio. Tanto tempo depois, vejo o quanto ela tinha razão. Não há nada de ficção na dona Odete que ela interpretou, com perfeição.