quinta-feira, 8 de maio de 2014

Maio

Há um céu muito azul em Maio. E um ar gelado. Outono, quase virando inverno. Um ano quase chegando ao meio. Mês das mães, mês das noivas, mês da maior parte dos taurinos e de um tantinho de geminianos. Mês em que nasci.



Quando criança, Maio era um mês bom para fazer aniversário, pois o Carnaval tinha passado e ainda as férias de Julho estavam longe. Não era Outubro que tinha o dia das crianças, nem Dezembro que tinha o Natal. O maior sofrimento era o medo de tomar ovada na saída e do famigerado "com quem será" depois dos parabéns. Mas aí o tempo passa e as angústias são outras, bem diferentes.

Uma vez, perguntaram ao ator Paulo Autran, numa dessas entrevistas bestas da vida, como era, afinal fazer 80 anos. "Eu não sei, ele disse". E acrescentou que, internamente, era o mesmo homem, apesar das dificuldades físicas consequentes da idade. E, de fato, é isso mesmo. Como é fazer trinta anos? Como é fazer quarenta? Trata-se de uma experiência subjetiva. Quando completei vinte e cinco anos, entrei em crise porque estava fazendo "um quarto de século". Uma bobagem sem tamanho abandonada aos trinta, que adorei completar, com muita festa. 

Penso que em muitas coisas mudamos ao longo do tempo (ainda bem) mas tantas outras permanecem. O gosto musical pode melhorar, o paladar apurar, mas estão lá aquele senso de humor característico, uma certa doçura, o hábito de passar talco depois do banho, de tomar água ao acordar. O que dá, de fato, a noção de realidade do passar dos anos é o primeiro "senhora" (ou senhor) que ouvimos no supermercado, a pouca tolerância com festas de república (ainda mais se forem no vizinho), a ressaca que dura uma semana depois de uma noitada, a gíria datada, a memória que já conta décadas, os filhos dos amigos (ou os seus) que estão maiores que você e a lembrança de que sua dissertação de mestrado foi gravada em disquete.

Outra índice da passagem do tempo são as perdas. Perda do viço da pele, perda de cabelo, de amigos, de amores, dos pais. Lembro-me daquele personagem, o Benjamim Button que, aparentemente tem a benção de rejuvenescer ao invés de envelhecer com os anos. A aparente benção não o impede de perder as pessoas que ama. Disso, não nos livramos, a não ser que a morte nos apanhe cedo.

O bom da passagem do tempo é que, se perdemos juventude, também podemos perder encanações bestas. As perdas ao longo da vida ajudam a perceber o que é, de fato, importante. Algumas dores vão embora.  Com outras tantas, aprendemos a lidar melhor. Que este mês de Maio possa trazer boas surpresas de aniversário. E que comemorar o novo ano seja, de fato, uma festa.