quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Enjoy the silence...

 Após anos em análise, um paciente continua indo ao consultório e deitando-se no divã para contar seus problemas, mesmo após a morte de seu analista. Esta piadinha (sem graça) retrata bem o senso comum a respeito do que acontece nos consultórios de psicanálise: muita falação e choro de um lado e silêncio sepulcral do outro. Exageros à parte, o silêncio é sim, importante e tem funções. Nos consultórios e na vida, é preciso saber administrar o silêncio. E não é fácil.

Nos últimos tempos tem havido um elogio da falação incessante. É urgente expor o que se pensa, mesmo que ninguém esteja minimamente interessado nisso. Você entra no twitter e no facebook e é como se estivesse no meio do burburinho. Reclamações, indiretas, ataques, críticas políticas, lamentações, declarações de afeto e do que se comeu no almoço. Nos sites, muita gente comenta sem nem  ler direito o texto. Muitas vezes, critica-se o autor de um artigo que defende exatamente o que o comentarista acredita. Há uma confusão importante entre falar, escrever (de forma catártica, muitas vezes) e, de fato, comunicar alguma coisa.

Na verdade, há coisas que não precisam ser ditas. Inclusive, perdem a beleza se assim forem. Aliás,  a linguagem nem sempre é capaz de "dar conta" de alguns afetos. Não há momentos em que ficamos mudos diante de algo que nos toma? Susto, choque, tristeza, alegria intensa? É o famoso momento-clichê do "simplesmente faltam palavras para descrever". E faltam mesmo.

 "The human heart has hidden treasures,
In the secret kept, in the silence sealed,
The thoughts, the hopes, the dreams, the pleasures,
Whose charms are broken, if revealed."
(Charlotte Brönte)


Em outras situações, é preciso falar para não enlouquecer. É comum, por exemplo, uma certa verborragia diante de uma emoção forte, o tal falar sem parar, sobre o mesmo assunto. Apaixonados se comportam assim. Pessoas que passaram por situações traumáticas também. É aí que as palavras transbordam e chegam a derramar.




"Words are very
Unnecessary
They can only do harm."

 
A música do Depeche Mode é linda mas, a bem da verdade, silêncio e palavras em excesso podem fazer mal, fora ou dentro dos consultórios. No entanto, para dosar bem uma coisa e outra, é preciso treinar a escuta do outro (s), algo que tem sido artigo raro  por aí. Ouvir bem, ouvir com cuidado, falar idem: taí um excelente presente de Natal. Um presente que não tem preço.

3 comentários:

Anônimo disse...

saber ouvir é tarefa hercúlea. às vezes você simplesmente desiste porque a contraparte adota umas posturas que te deixam com aquela cara de _WTF_, e aí a amizade se enfraquece e leva junto o debate...

mas mudando o rumo da prosa, você citou uma música muito boa, de uma banda igualmente boa. a cena insólita daquele caminhar na neve transmite uma tranquilidade sem par.

e ainda sobre música: não sei se você se liga em trilha sonora (na verdade trilhas são meio complicadas, em particular essas orquestradas), mas achei muito peculiar a faixa de encerramento do "sessão de terapia". procura depois por "dj shadow - what does your soul look like part II" e me diz o que achou. :)

Letícia disse...

Eu gosto muito do Depeche Mode. Adoro trilhas sonoras, inclusive as antigas e as do cinema europeu, sempre mto melancólicas. A trilha de Sessão de Terapia achei muito bonita, especialmente triste. Qto a sua sugestão, achei diferente. Não sei se gostei ou não, preciso ouvir novamente...rs. Um abraço, volte!

Anônimo disse...

esse disco do dj shadow (preemptive strike) tem umas faixas que eu gosto demais (in/flux, hindsight, organ donor e algumas das partes de "what does your soul look like?"). na verdade o que imagino que aconteceu foi que o shadow "sampleou" a bateria que é utilizada em uma das faixas da trilha do seriado. :) agora fiquei curioso pra ver de quem é a autoria da faixa...

almoçando há pouco, lembrei-me de uma ocasião em que fiquei muito surpreso. assistia a um episódio de sex and the city e de repente escuto "mogwai - close encounters"! eles fizeram parte da trilha de "the fountain" - do biruta do darren aronofsky (pi, que eu acho muito legal - e tem faixas do autechre na trilha sonora; e o "felicíssimo" requiem for a dream, tendo algumas faixas da trilha remixadas pelo paul oakenfold).

quando você fala do cinema europeu, eu me arrisco a dizer que não só no cinema, mas nas artes de um modo geral, o velho mundo não parece ter aquela preocupação exacerbada com vendável, como se não houvesse uma obsessão pelo rótulo de "blockbuster". você também vê isso?