segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

Anônimo disse...

Para uma mulher, o desejo não sofreria esta cisão: é um mesmo homem que ela ama e deseja. Esse amálgama com o amor é que dá ao desejo feminino seu caráter inefável e nebuloso. É normal uma mulher não saber exprimir o que sente. A feminilidade é frágil e vacilante, carecendo sempre de uma identificação que a represente. E, neuroticamente, a mulher tenta inventar uma causa que possa tapar o vazio que ela mesma consiste. Isto nos remete ao que Lacan chama de posição histérica, na qual há o repúdio da posição de objeto sexual que lhe destina a fantasia masculina; a histérica não quer ser objeto sexual de um homem. Na falta de um ponto de apoio para uma identificação especificamente feminina, ela aborda a sexualidade à maneira do homem ( na ostentação fálica ) e tenta também sustentar-se pelo culto de uma feminilidade misteriosa, encarnada no corpo de outra mulher.

Ju disse...

Drumonnd : só sei sentir e sinto tão fundo e me identifico e maravilho com suas linhas, que sequer tangencio qualquer explicação.
Bjs
Amei!!