domingo, 11 de dezembro de 2011

Eu quero trabalhar no Vídeo Show...

- O que você quer ser quando crescer?
- Psicóloga.
- É? E você sabe o que uma psicóloga faz?
- Ela ajuda as pessoas que estão tristes a ficarem melhor.

Assisti, espantada, a essa entrevista em um desses documentários da tevê a cabo. Houve outras, mas chamou-me a atenção o fato daquela criança de cinco anos querer ser... PSICÓLOGA. Eu nunca tinha visto uma criança querer ser psicóloga, muito menos com cinco anos. Nenhuma criança no meu tempo queria isso e muito menos tentava explicar o que era. Tirando as campeãs bailarina e cantora, a gente brincava de ser vendedora, dentista, secretária, mas de psicológa, jamais. Aliás, eu nem sabia o que era.
Na verdade, assim que fui alfabetizada, respondi a um questionário em que constava a pergunta fatídica "o que você vai ser quando crescer". Eu respondi, mal terminada a "Caminho Suave" que queria ser "escritora". Dois anos depois eu acrescentei que queria ser escritora e "trabalhar no Vídeo Show".

Tássia Camargo (lembram?) a primeira apresentadora do Vídeo Show
O Vídeo Show passava aos domingos e era uma espécie de Fantástico à tarde, um show de variedades com imagens interessantes, inclusive as antigas, do arquivo da Globo. Aliás, esta era a parte que eu mais gostava: o arquivo.


O primeiro logo da Globo
Todas aquelas cenas de novelas antigas de quando eu nem era nascida, aqueles comerciais da Kolinos, da Varig e dos cobertores Paraíba de 1900 e guaraná com rolha... Ah, como eu gostava daquilo. Tanto gostava que cheguei a decorar algumas cenas de "Selva de Pedra" e "Irmãos Coragem", sem nunca ter assistido na íntegra. Minha memória afetiva era a do Vídeo Show.

Depois o programa passou a ser ao sábados e cada vez mais trazia reportagens sobre os programas da Globo e seus bastidores. O principal  quadro das coisas antigas era o "Túnel do Tempo". O que você estava assistindo no dia 29 de Junho de 1979? Impossível não lembrar da Cissa Guimarães e sua voz sussurrada "direto do túnel do tempo".

Aliás, outra das coisas que eu gostava muito era um quadro do "Qual é a música" do eterno Silvio Santos que se chamava "Vitrola Musical". A vitrola tocava umas músicas cheias de chiado para que o Silvio perguntasse: "Fulano de tal, de quem é essa voz??"


Silvio Santos, o pândego

Geralmente era um povo do além (Aracy de Almeida, Orlando Silva, Emilinha Borba, Linda Batista, etc). Foi assim que eu aprendi a reconhecer os cantores do rádio, grandes vozes que fizeram sucesso nos anos 40. Silvio costumava ser sádico: "Esta música foi gravada antes de 1943 ou depois de 1943?" Eu vibrava quando acertava. A princípio, no chute. Depois fui aprendendo.

O tempo passou, o Vídeo Show passou a ser diário e caiu em qualidade e neurônios. Seu Silvio continua firme e forte no seu domingão o quanto pode. E eu, voltando ao diálogo que inicia este post, tornei-me psicóloga ao crescer, o projeto da menininha de cinco anos que não quer ver as pessoas tristes. Minha escolha pela psicanálise me faz lembrar de uma frase que a psicanalista Diana Corso escreveu dia desses:

"Psicanálise não deixa de ser uma oficina de escrita: diários prolixos, contos arrebatados, meticulosas novelas de fôlego. Edito, apenas."
 
 
Não me tornei escritora, nem trabalho no arquivo do Vídeo Show. Sendo uma boa editora das pequenas ficções humanas, dou-me por satisfeita. E feliz pelas crianças, hoje, terem curiosidade em saber o que, afinal, faz um psicólogo.

4 comentários:

Anônimo disse...

ola Leticia !! sempre acompanho seu blog e acho otimo!!! Alem de psicanalista vc com certeza seria uma excelente critica de cinema e televisao. Erica Camargo

Letícia disse...

Olá, Erica! Obrigada! Volte...

bjos

Rebeca disse...

Achei uma graca!!! Tb gostava muito do Video Show.
Teu blog foi minha melhor descoberta na blogosfera hj!

Beijao

Letícia disse...

Rebeca, querida, seja bem vinda!

Grande beijo