quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Você prefere filme DUBLADO?!


Li, recentemente, que tem crescido o número de salas de cinema no Brasil que exibem filmes dublados. E não são só os infantis. Dia desses, ao apresentar um filme para um grupo de adolescentes, eles logo se manifestaram: "Ah, mas não é dublado?". Du-bla-do. "Ué - brinquei - vocês não sabem ler?". Por que catzo alguém prefere uma dublagem a là Fucker and Sucker à voz (e interpretação) originais do ator? Sim, Letícia, alguns adultos não sabem mais ler. Ou lêem pior. Ou tem preguiça do combo "assistir filme + ler legenda". E aí Botucatu, que mal tem um cinema, passou a exibir o único filme da semana DUBLADO. Análises e críticas sociais à parte, eu me lembrei que existem, sim, filmes que eu aprecio com dublagem. E isso teria mais a ver com a memória afetiva do que propriamente com a dificuldade em ler legendas.

 Scarlett, me beije, me beije!


"E o vento levou" (1938) é um desses classicões que foram exibidos pela primeira vez na televisão nos anos 80 e reprisado ad eternum depois. A primeira vez que ouvi a voz original do ator Clark Gable, eu estranhei. Para mim, a voz dele era aquela rouca que pedia a Scarlett que o beijasse. E como esquecer da voz (dublada) da escrava Mammy, correndo atrás da patroa (Dona Scarlett, dona Scarlett!)? Em relação às séries, Macgyver sempre terá a voz do He-Man e o Alf (o E-Teimoso), a voz do seu Peru (Orlando Drummond).

O mais engraçado é assistir filmes dos anos 50 que foram dublados nos anos 70 e trazem gírias, portanto, da época da dublagem ("podiscrê" e "prafrentex", por ex). Ou uma interpretação empolada que, de fato, combina com a época do filme ("Puxa, rrrrrrrapaz, que garota!"). Isso sem contar a tradução dos títulos. Nos anos 50, a tradução era dramática, sendo comum palavras como por exemplo, suplício ("Almas em Suplício", "O suplício de uma saudade"). Quem, hoje em dia, usa a palavra suplício, minha gente?

Descobri, dia desses, que "pantera" é uma gíria dos anos 70 que diz respeito às mulheres entre 30 e 40 anos muito bonitas e "fatais". Gata seria a adolescente bonitinha; pantera, a sua versão mais velha. Gata ficou, mas pantera virou gíria datada. No entanto, foi esse o nome que deram para o seriado "Charlie´s Angels" que virou "As panteras". "Good morning, angels" virou "Bom dia, panteras!" 

"As panteras" e sua versão setentinha
 Em resumo, filme dublado costuma ser um horror, mas tem lá o seu charme quando é "vintage". Algumas dublagens ficaram tão clássicas que é possível lembrar frases inteiras com a voz do dublador. Impressionante como voz e música podem trazer memórias afetivas tão intensas. Saudades da voz grave que dizia "versão brasileira, Herbert Richers". Tempos bons.

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