domingo, 4 de janeiro de 2015

Faltam palavras para descrever...

"E nem falamos sobre o livro...", questionou Maitê Proença a um encantado Roberto D´Avila, ao fim de uma entrevista recente. "O livro é interessante, mas você é mais", respondeu ele, prontamente. Não li "Todos os vícios", a última obra de ficção de Maitê, mas acredito nas palavras do jornalista. Maitê é um daqueles personagens que não cabem em um filme de duas horas, ou em qualquer livro de 200, 300, 400 páginas. Assim como Tim Maia, personagem da principal polêmica televisiva deste ano que acabou de começar. O filme mediano sobre o cantor, lançado em 2014 nos cinemas, foi transformado em uma espécie de "docudrama" pela Globo e exibido agora, nos primeiros dias de 2015. Se Maitê não cabe em uma obra de ficção, muito menos o hiperbólico Tim Maia. Houve questionamentos por parte da família, dos fãs e do cineasta Mauro Lima, que teve toda a sua obra recortada pela Globo. Roberto Carlos, contratado da emissora, foi claramente protegido. "Vilão" e algoz de Tim na versão exibida nos cinemas, transformou-se naquele cara bacana que lançou o cantor, pela versão televisiva. Polêmicas à parte, Maitê e Tim Maia me fizeram pensar sobre a vida real e ficção. A bem da verdade, é meio óbvio que narrativas nunca darão conta da riqueza de uma vida. E sempre, sempre serão versões. Muitas vezes, bem pífias.

Olhando para um passado próximo, 2014 foi um daqueles anos surpreendentes impossíveis de prever. Teve Copa do Mundo, mas teve também o inesquecível 7 x 1 . Perdemos o "palhaço" Robin Williams de forma melancólica. O pacato Eduardo Coutinho, que  muitas vezes mostrou o quão extraordinária pode ser a vida de gente comum, morreu em circunstâncias cinematográficas. José Wilker e Eduardo Campos foram embora sem qualquer aviso prévio. E teve uma corrida presidencial brasileira, a mais emocionante (e irritante) dos últimos tempos. Como narrar um ano destes? Quem queria ser mãe e teve, enfim, o primeiro filho, pode contar de uma maneira. Quem perdeu alguém querido, de outra. E Dilma, Aécio, Marina e Felipão, de outras ainda. Felipão, especialmente, que viu um jogo que ninguém viu. As estórias e a História (também, por que não?) depende de quem conta.




E o Tempo, ah, esse danado... Ele dá outra cor para as estórias todas. Pode tornar uma lembrança melhor, pior ou insignificante conforme ele passa. Transforma sapos em príncipes, e príncipes em sapos. Torna grandes tragédias comédias esquecíveis; perdoa incompreendidos, santifica os mortos. O tempo modifica as versões que temos sobre os fatos (históricos ou não) e também sobre nós mesmos. Afinal, nem era tão feia e rejeitada assim, não fui tão fracassado, não estava tão gordo, gostava mesmo dela, tinha talento... Era feliz e não sabia!

E foi assim que Tim Maia e Maitê Proença me inspiraram a desejar um feliz ano novo. Que 2015 traga novas (e deliciosas) versões sobre a vida. Que possamos perdoar mais (nós e os outros) e que possamos construir nossas pequenas ficções cotidianas da melhor forma possível.