sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

E se vivêssemos todos juntos?

Dia desses li uma entrevista de Fernanda Montenegro  à Folha de São Paulo que muito me comoveu. Aos 83 anos, ela compartilhou a tristeza que é acompanhar a partida dos amigos e colegas que foram testemunhas de sua juventude (além do marido Fernando Torres, Raul Cortez, Ítalo Rossi e Sérgio Britto). Perder, aos poucos, representantes de sua geração seria entrar em contato com a própria finitude. A geração de Fernanda Montenegro e, especialmente, a subsequente (a que está na faixa dos 70, hoje) são gerações emblemáticas e marcadas no imaginário popular como "jovens". São aqueles que tinham vinte e poucos nos anos 50 e 60, as décadas mais joviais do século XX. Caetano, Gil, Chico, Jô Soares, Marieta Severo entre outros tantos compõem o time de célebres desta época. Foi com este espírito nostálgico que fui assistir ao filme "E se vivêssemos todos juntos"(Stéphane Robelin), um longa que tem cinco atores velhos entre seus protagonistas. Jane Fonda, um ícone dos anos 60 (a eterna "Barbarella") é uma das atrizes "velhas"; a outra é Geraldine Chaplin. 



Jane Fonda com Barbarella, no final dos anos 60
O enredo trata da história de cinco amigos de longa data que estão envelhecendo juntos (dois casais e um solteirão bon vivant). Ao darem-se conta da debilitação da saúde, eles resolvem morar juntos, a fim de se ajudarem e cuidarem um do outro. Há várias passagens engraçadas, mas o choro veio fácil por quase todo o tempo. O curioso é que os sexágenários companheiros de sala riam às gargalhadas, fazendo parecer que eu estava em uma apresentação de stand up.
Ao sair com olhos inchados do cinema, tive algumas reflexões:

1) Chega de usar o termo "melhor idade". É velhice e pronto. É como chamar gordo de "fortinho" e negro de "moreno". Pavor eterno de eufemismos. Se você precisa amenizar uma característica é porque a considera um defeito. E nenhum destes é, ponto.

2) A velhice é democrática. Ela pode demorar mais ou menos para chegar, mas vem para todos (até para Jane Fonda!), a não ser que você faça o James Dean e morra aos 24. Também a diferença entre belos e feios não é tão abissal na velhice como é na juventude. Sua tia, por exemplo, que sempre teve uma beleza daquelas medianas pode ser hoje, aos 70, muito mais interessante que as musas Claudia Cardinale ou Brigitte Bardot com a mesma idade.


Claudia Cardinale, hoje

3) O tempo pode modificar muita coisa (ou relativizar). Em quarenta ou trinta anos, um passado pode parecer melhor do que de fato, foi. Também algo que parecia muito grave na juventude (como uma infidelidade, por exemplo) pode se tornar insignificante perto de questões como a proximidade da morte ou a perda gradativa da saúde.

4) Casais longevos parecem uma realidade cada vez mais distante, ao contrário de décadas atrás. O projeto de vida de envelhecer junto do parceiro (a), embora legítimo, tem sido cada vez mais difícil de levar a cabo. Em um tempo em que a escolha dos objetos de afeto tem sido cada vez mais narcisista, estar junto da mesma pessoa por décadas tornou-se quase uma utopia. Envelhecer junto implica em suportar a vulnerabilidade do outro, a decadência física, a insegurança e o medo, além de encarar o próprio envelhecimento. Vive-se tempos de muita valorização da potência, da juventude e da beleza. Comprometer-se em um casamento ou um namoro longos implica em renunciar (se o compromisso implicar em fidelidade) a tantos outros possíveis parceiros "muito mais interessantes" por aí. Se, por um lado, não se vive hoje a obrigação de estar com alguém com quem não se quer estar (o que é ótimo), uniões se desfazem facilmente visando a busca da tal "felicidade lá fora".

E, por último, mas não com menos importância: fico feliz com tantos filmes recentes abordando a velhice. Bons atores trabalhando e bons enredos. Além disso, os personagens dos filmes sempre fazem sexo, o que não deixa de ser uma quebra de tabu. Existe sim, sexualidade além dos 70 anos. Ainda bem.

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