quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sobre príncipes, contos de fadas e estórias de infância

Muito já se escreveu sobre o impacto de grandes acontecimentos na vida de pessoas comuns. É muito frequente a gente se lembrar do que fazíamos em nosso prosaico cotidiano em dias que ficaram memoráveis para o mundo . Por exemplo: onde você estava quando o Senna morreu? Com quem estava no tetracampeonato? E, mais longe: quantos anos tinha quando o homem pisou na lua?

Eu, a despeito da minha memória ridícula para coisas um tanto quanto inúteis me lembro, às vezes, até da roupa que vestia na ocasião. Tenho, por exemplo, a lembrança nítida do impacto que tive ao ver a princesa Diana entrar na igreja. Não, eu não achei cafona aquele vestido que mais parecia um repolho. Eu achei lindo. E a princesa Diana era a mulher mais bonita do universo. Afinal, ela era uma princesa de verdade. E eu, uma criança.

O casamento da Diana aparece em minha memória como uma coisa tão antiga que ela fica lá nas gavetinhas da infância com meu pai. E elas são muito vívidas, embora eu tenha vivido pouco com ele. Já disse em outro post e repito aqui, que meu pai adorava revistas, especialmente a Manchete, que tinha fotos imensas. E era por lá que eu acompanhava a saga de Diana, a primeira princesa de verdade que eu tive notícia. Tá certo que eu achei o príncipe Charles meio feio. No entanto, meu pai me assegurou que ele tinha irmãos mais bonitos (!) e um deles seria o meu príncipe. Péssimo, pai, péssimo. Por alguns anos eu acreditei, até Andrew, o único irmão bonito, se casar com a louca da Sarah Ferguson.


Diana, o fatídico vestido, e o príncipe que virou sapo

                                                          
Algum tempo depois, meu pai se foi de forma trágica e a princesa de verdade, Diana, também. O conto de fadas com Charles, no entanto,  morreu antes dela. Essas lembranças todas aparecem novamente quando sou bombardeada com as notícias do casamento do príncipe William amanhã, com sua "lady Kate". Percebo que sou velha porque a capa da Manchete com o bebezinho loiro de perninhas gordas ainda é bem nítida. E, além disso, não me comovo mais com saga de princesas, nem com príncipes, bonitos ou feios, cabeludos ou carecas. Ainda assim,  certeza que vou dar uma olhadinha no vestido da noiva, anos-luz do repolhudo de 1981.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A saga de João Coragem

Eu conheci o Tarcísio Meira já coroa. No entanto, aos 50 anos, ele estava ainda muito bonito. Foi quando fez o épico Capitão Rodrigo em "O tempo e o vento" e o ambivalente Renato Villar em "Roda de Fogo" em meados dos anos 80.
No entanto, embora eu ainda não fosse nascida na época, o que me fascinava era a imagem de Tarcísio em "Irmãos Coragem", a trama rocambolesca de Janete Clair do início dos anos 70. Quando a tevê Globo fez 25 anos, apresentou uma "versão compacta" da novela e eu, criançona, babava por aquele homem lindo e heróico.
Eis que a novela sai em DVD e eu, mais do que imediatamente adquiro esta trama da era paleozóica da tevê. A trama durou quase um ano. Deu tempo da Regina Duarte engravidar, ter o bebê e a novela ainda estar no ar.
A novela não tinha edição. As cenas iam ao ar praticamente como eram gravadas. A trilha sonora era gravada juntamente com a cena (tipo, o mocinho ia beijar a mocinha ouvindo sua música tema). As externas tinha uma iluminação terrível e as cenas de ação eram toscas (percebía-se que os socos eram de "mentirinha"). Os cortes de uma cena para outra eram abruptos (há que se considerar que no DVD algumas cenas tiveram de ser cortadas), os cenários feios e as roupas pareciam ser de costureira (de fato,deveriam ser). O gerador era tão barulhento que é possível ouvir o barulho nas externas.
No entanto, o texto era bom e os personagens bem construídos, na medida do possível. João Coragem, o personagem de Tarcísio, era o irmão mais velho, justo e ponderado. Jerônimo (Cláudio Cavalcanti), o do meio, era mais esquentado e ligado à política. E Duda (Claudio Marzo), o caçula, era ambicioso e ousado. A trama conta a saga dos três irmãos em busca de justiça contra o coronel do local, o cruel Pedro Barros. Há ainda as paixões dos irmãos: Lara (Glória Menezes), Ritinha (Regina Duarte) e a índia Potira (Lúcia Alves).

A personagem de Glória Menezes enlouquecia o simplório João Coragem pois tinha três personalidades distintas: a recatada Lara, a devassa Diana e a equilibrada Márcia. A trama teria sido inspirada no filme "As três máscaras de Eva" (1957) que deu o Oscar a Joanne Woodward. A resolução da doença da moça é resolvida com uma cirurgia no cérebro (!) nos últimos capítulos.

Passei o domingo assistindo parte da novela e pensando em como o mundo era mais ingênuo e mais simples. No entanto, Tarcísio Meira  enche a tela como o mocinho dos mocinhos. João Coragem continua sendo o meu herói preferido.

terça-feira, 12 de abril de 2011

"Filmes de chorar"

Ah, como é bom chorar no cinema. Todas aquelas lágrimas deslocadas de algum lugar ou momento para  desembocar naquele escurinho "protegido". Ah, agora posso! E dá-lhe olhos inchados.

Sem nenhum rigor, acredito que um dos primeiros filmes "de chorar" foi o "Suplício de uma saudade" nos já longínquos anos 50, com um (ainda) garotão William Holden. Outro que é um clássico da choradeira é "Love Story"(1970), também um representante mór de outra categoria: os "filmes de doença". "Filmes de doença" geralmente também são "filmes de chorar".
Muito se falou a respeito de um sucesso recente do cinema: "P.S. Eu te amo", com Gerald Butler. Não sei se pelo fato das pessoas me avisarem de antemão para preparar o lencinho, eu torci o nariz. Toda cena parecia meticulosamente calculada para ser "a hora do choro". É um legítimo "filme de doença" + "filme de chorar". Clichezão, a gente vê por aqui.

Daí que eu escolhi assistir a um filme novo (deste ano, creio eu), com título de música que toca na rádio AM: "Não me abandone jamais". A escolha se deu pela atriz, a fofa Carey Mulligan. A sinopse, descrita brevemente, era sobre a história da relação de três adolescentes que crescem juntos. Inocentemente, achei que o filme fosse leve. Ledo engano.

Não sei se para qualquer um pode-se dizer que é um "filme de chorar",  nem "um filme de doença", embora envolva hospitais e tudo mais. Há algo de ficção científica, inclusive. O que sei é que devo ter chorado pela vida inteira dentro do cinema. Se você não suporta obviedades, vá conferir. O filme vale pela fofíssima atriz citada acima, mas especialmente pelo rapaz protagonista (Andrew Garfield, de "A rede social"), que tem um olhar de cortar a alma em duas. Há como se falar de amor (além de outros tantos temas no filme) sem parecer um idiota e isso pode, de fato, emocionar.

P.S.: Escrevi um post sobre outro filme bom da "catiguria" aqui: http://letrasdelets.blogspot.com/2008/10/paixo-nos-tempos-do-clera.html: