quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Loucura e ficção

Em meados dos anos 90, um filme sobre “loucura” fez imenso sucesso popular. Seu protagonista era um jovem Johnny Depp e quem contracenava com ele era, nada mais, nada menos que o “divo” Marlon Brando, após anos de recesso. O filme era Don Juan de Marco e sua trilha sonora grudenta ainda ecoa nos meus ouvidos.


Confesso que, na época, causou-me certo incômodo a mensagem final do longa. Don Juan, na verdade, era um paciente psicótico que, em seus delírios, era um aventureiro irresistível para as mulheres. A parceria deste paciente com seu psiquiatra (Brando) transforma a vida de ambos, especialmente a do médico. Ele, outrora distante da mulher, torna-se um homem mais romântico e menos rígido. Um roteiro bem americano e redondo, com um final feliz. Meu incômodo deu-se justamente por isso: pelo fato da loucura ter sido um tanto quanto romantizada e, de certa forma, confundida com ousadia, como em tantos outros filmes.

O filme sensação da temporada 2010-11 tem sido “O cisne negro”, um dos concorrentes ao Oscar deste ano. É outra abordagem da loucura. O espectador é levado a sentir, juntamente com a protagonista Nina (Natalie Portman) a perda gradual do contato com a realidade. O filme já começa com um jogo de espelhos: Nina e a mulher que se projeta nela (a mãe), Nina e a mulher que ela quer ser (Beth, a bailarina veterana) e Nina e a mulher que seria o seu lado negro (Lilly). Em sua transformação ao longo do filme, ela se vê nessas mulheres e em outras que cruzam seu caminho (no metrô, por exemplo). No universo do balé em que os limites do corpo são enfrentados diariamente, você é convidado a olhar o mundo através dos olhos de Nina (no que contribui, e muito, a movimentação da câmera). Sem exageros, você chega a sentir (especialmente dentro da sala de cinema) as dores físicas da personagem cujo corpo, real ou de forma alucinatória, se transforma. Como pano de fundo, a música cortante de Tchaikovisky.

Muitos criticam o fato do filme ser exagerado. Talvez seja, mas não consigo ver onde. Outra crítica é a respeito do espectador não saber, ao final, o que foi delírio de Nina e o que de fato aconteceu. Ora, mas é justamente esta a idéia. Não há como um filme ser leve, quando se trata de loucura, doença mental, perda de realidade. Loucura, ousadia, enfiar o pé na jaca, é outra coisa bem diferente. Vale a pena assistir “O cisne negro”. Don Juan, só para ver o Johnny Depp.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A noite dos desesperados do BBB

Há um grande filme do final dos anos 60 que retrata com maestria o sofrimento na época da Grande Depressão Americana, pós crise de 29. "A noite dos desesperados" é um filme denso com uma brilhante Jane Fonda entre os papéis principais.
Durante aqueles anos de miséria, havia vários concursos de dança espalhados pelo país, onde o casal vencedor ganhava, desde comida a alguns poucos dólares. Os casais passavam dias dançando e alguns chegavam a morrer por exaustão. Além da dança, eles passavam por uma maratona ao longo da pista. O espetáculo deprimente era assistido por uma platéia ávida por espetáculo, que escolhia seus preferidos, estimulados por uma espécie de animador de auditório que instigava os competidores. O filme foi inspirado em um livro, escrito por um dos seguranças destes concursos, que acompanhou de perto o martírio daqueles jovens. Não há como não associar esse tipo de espetáculo "pré - Andy Warhol" aos shows "de realidade" dos nossos tempos, entre eles o famigerado Big Brother.
Nunca escondi que gosto do BBB. É um programa bem editado e ótimo entretenimento. No entanto, com o amadurecimento "dos jogadores" e do público votante, alguns macetes e jogadas começaram a ficar manjadas e o dono do circo, Boninho, tem tido que inovar. O que acontece é que ele não inova na escolha do elenco (os mesmos tipos estão lá, especialmente os acéfalos), mas exagera no estímulo à baixaria e e na tortura. Nunca houve tantas cenas editadas de uma festa como a do último sábado. O abuso de álcool aconteceu, mas dizem que também houve oferta de lança perfume. Uma das participantes entrou em coma alcóolico e foi atendida por médicos, sendo tudo devidamente gravado e apresentado no pay-per-view. Enquanto isso, o maestro Boninho se divertia e ria no twitter enquanto relatava as baixarias. Ontem, durante a prova do líder patrocinada pela Knorr, os participantes tiveram de se vestir de frangos e a entrarem num forno (Hitler feelings) madrugada adentro, onde recebiam ondas de calor. Cabia aos telespectadores a escolha sádica de qual grupo castigar mais. Muitos atravessaram a noite no twitter, divertindo-se (a là Boninho) com o sofrimento dos "brothers".

Jane Fonda no filme de 1969

Nos concursos dos anos 30, as pessoas, miseráveis, queriam pão. Hoje em dia, querem fama em primeiro lugar, seja a que preço for. Pelo BBB já passaram, a despeito do desprezo dos intelectuais, pessoas interessantes, engraçadas, que emocionavam o público. No entanto, a exposição da sexualidade e da intimidade de forma tão crua e infantilizada como na atual edição chega a me constranger. A crueldade do diretor me deprime. O BBB 11 chega a ser tão triste quanto o show dos casais dos anos 30 que morriam na pista de dança. É, "a nave louca" perdeu a graça para mim.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

E por falar em Oscar...



                                         
Dois dos meus atores preferidos estão concorrendo ao Oscar este ano. O talentosíssimo inglês Colin Firth (já indicado outras vezes) e Mark Rufallo. O primeiro, grande favorito como ator principal por "O discurso do rei" e o segundo, como coadjuvante em "Minhas mães e meu pai", onde corre por fora.

Embora Colin Firth seja "extremamente" inglês, e Rufallo, um americano como uma certa latinidade, vejo coisas em comum nos dois. Ambos imprimem uma certa fragilidade e doçura em seus personagens, aliados a um quê melancólico, além da sensualidade. 
Pois é meninas, nem só de George Clooney vive o universo dos homens maduros e encantadores. Ainda bem, não?