sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A noite dos desesperados do BBB

Há um grande filme do final dos anos 60 que retrata com maestria o sofrimento na época da Grande Depressão Americana, pós crise de 29. "A noite dos desesperados" é um filme denso com uma brilhante Jane Fonda entre os papéis principais.
Durante aqueles anos de miséria, havia vários concursos de dança espalhados pelo país, onde o casal vencedor ganhava, desde comida a alguns poucos dólares. Os casais passavam dias dançando e alguns chegavam a morrer por exaustão. Além da dança, eles passavam por uma maratona ao longo da pista. O espetáculo deprimente era assistido por uma platéia ávida por espetáculo, que escolhia seus preferidos, estimulados por uma espécie de animador de auditório que instigava os competidores. O filme foi inspirado em um livro, escrito por um dos seguranças destes concursos, que acompanhou de perto o martírio daqueles jovens. Não há como não associar esse tipo de espetáculo "pré - Andy Warhol" aos shows "de realidade" dos nossos tempos, entre eles o famigerado Big Brother.
Nunca escondi que gosto do BBB. É um programa bem editado e ótimo entretenimento. No entanto, com o amadurecimento "dos jogadores" e do público votante, alguns macetes e jogadas começaram a ficar manjadas e o dono do circo, Boninho, tem tido que inovar. O que acontece é que ele não inova na escolha do elenco (os mesmos tipos estão lá, especialmente os acéfalos), mas exagera no estímulo à baixaria e e na tortura. Nunca houve tantas cenas editadas de uma festa como a do último sábado. O abuso de álcool aconteceu, mas dizem que também houve oferta de lança perfume. Uma das participantes entrou em coma alcóolico e foi atendida por médicos, sendo tudo devidamente gravado e apresentado no pay-per-view. Enquanto isso, o maestro Boninho se divertia e ria no twitter enquanto relatava as baixarias. Ontem, durante a prova do líder patrocinada pela Knorr, os participantes tiveram de se vestir de frangos e a entrarem num forno (Hitler feelings) madrugada adentro, onde recebiam ondas de calor. Cabia aos telespectadores a escolha sádica de qual grupo castigar mais. Muitos atravessaram a noite no twitter, divertindo-se (a là Boninho) com o sofrimento dos "brothers".

Jane Fonda no filme de 1969

Nos concursos dos anos 30, as pessoas, miseráveis, queriam pão. Hoje em dia, querem fama em primeiro lugar, seja a que preço for. Pelo BBB já passaram, a despeito do desprezo dos intelectuais, pessoas interessantes, engraçadas, que emocionavam o público. No entanto, a exposição da sexualidade e da intimidade de forma tão crua e infantilizada como na atual edição chega a me constranger. A crueldade do diretor me deprime. O BBB 11 chega a ser tão triste quanto o show dos casais dos anos 30 que morriam na pista de dança. É, "a nave louca" perdeu a graça para mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Letícia em seu momento de sensatez!!!!!! Ufa...
Tava demorando para alguém dizer que o rei estava sempre nú e que entretenimento é OUTRA coisa! Os animais só sofrem com o tráfico pq pessoas, infelizmente, os compram. As subcelebridades só brilham pq o povo jura por Deus que eles são importantes, louvando-os ou, na negativa, criticando-os e tirando sarro. Gastemos nossos tempo com coisas BEEEM legais! Clau