sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

E um feliz Ano Novo...

Há alguns anos, um amigo ortopedista comentou, apreensivo, que iria dar plantões no Natal e Ano Novo. "É a pior época" - ele disse. "Muitos acidentes violentos, muitas mortes, muitos traumas". Psiquiatras também se preocupam aos finais de ano. Invariavelmente, os consultórios lotam em Novembro e Dezembro; é preciso abrir horários extras e encaminhar pacientes. Aí, é de outro trauma que se fala. Dores adormecidas costumam ser atualizadas em Dezembro. Amores que se foram, pessoas queridas que não estão mais presentes, dinheiro curto em uma época que são estimuladas as compras desenfreadas, além da convivência, muitas vezes nada harmônica, com dramas familiares não elaborados. Aí em  Janeiro, após o "mágico" dia primeiro, contabiliza-se mortos e feridos e dá-se início a uma nova empreitada.



" (...)que por decreto de esperança,
 a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver (...)


É hora de citar Drummond e acreditar que um caderno novo, com folhas em branco, se abre. E aí lotam as academias e os consultórios dentários. Resoluções de ano novo sempre incluem parar de fumar, entrar em forma e ir ao dentista, entre outras tantas coisas. Que mantêm-se até a página dois.
 
Esperam-se e planejam-se mudanças radicais sempre que um ano começa. "Desta vez, será diferente", pensamos. Não costumamos nos perguntar: "por que foi tão repetitivo até então?" Por que, afinal, pago a academia e não vou? Por que reclamo do meu trabalho e continuo nele? Por que me mantenho em uma relação que me faz tão infeliz? O que, afinal, desejamos? Sabemos mesmo? Queremos renunciar a um modo de ser ou continuar agindo exatamente da mesma maneira?
 
O velho tio Freud já falara da força, por vezes, mortífera, da repetição. Entender e re-significar o enredo repetitivo do filme de nossas vidas ajudaria a escrever uma nova história. Isso só não basta, é claro, mas é um caminho.
 
Bem, uma vez que há o ritual do recomeço, que possamos encarar 2013 como uma oportunidade. Se não é possível fazer a tal "guinada", que estejamos mais em paz com nossos próprios desejos, muitas vezes tão misteriosos. Feliz ano novo. Que o façamos NOVO à nossa maneira.

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