quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Augusto César e Marty McFly

Augusto César acreditava que Rosana, sua mulher, era uma santa. Esposa devotada, teria sido sequestrada por E.T.s e nunca devolvida. Nenhuma outra estava à altura dela para Augusto e ele ansiou por anos a sua volta. Ao saber que Rosana, na verdade, era uma esposa adúltera e que não havia sido abudzida coisa nenhuma, Augusto teve de encarar o fato que fora abandonado. O que fazer agora com a ficção que criou para explicar a própria dor? Quem era de fato, ele Augusto? Não era mais uma vítima dos E.Ts, nem sua mulher fora escolhida entre tantas para experiências inter-galácticas, dolorosa história que o mantinha como alguém especial. Agora, o que era além de um corno e lunático?

Na década de oitenta, um clássico brincou com a possibilidade da viagem no tempo. Em "De volta para o futuro"(1985), Marty McFly volta ao passado. Ao se encontrar com os pais e envolver-se amorosamente com sua mãe, ele colocou em risco sua própria vida, mas teve um final feliz.

Na vida real, sem máquinas do tempo, somos um pouco como Augusto César, personagem de "A favorita". Temos nossa leitura dos fatos que nunca correspondem à realidade, afinal não temos acesso ao real. Às vezes precisamos acreditar que fomos vítimas, quando, na verdade, fomos covardes. Precisamos acreditar que alguém nos deixou porque nosso amor era especial demais para ser vivido, e não porque ele, de fato, amava outra pessoa. Precisamos acreditar na santidade de nossa mãe, na crueldade ou heroísmo do pai, que fomos os filhos preferidos, ou que não, fomos os rejeitados, tal como muitos heróis sofridos de folhetim.

Às vezes, necessitamos de uma ficção pela vida inteira, ainda que seja totalmente fantasiosa, para nos manter psiquicamente vivos. Outras, reconstruindo nossa história com outro sentido (em uma psicanálise, talvez) podemos ter um futuro diferente. Talvez até melhor, como foi com Marty McFly, ao voltar de sua viagem às origens.

Um comentário:

Anna Oh! disse...

Isso me fez lembrar dos mitos, mitologia grega, da qual o povo necessitava pra obter explicações sobre suas vidas e a natureza. A gente cria, inventa nossa história. E se algum feixe de verdade aparece, o que importa é nosso poder de reconstrí-la msm.

Bjus