terça-feira, 17 de setembro de 2013

Flores Raras

"Flores Raras" não precisa caber num catálogo de "filmes homossexuais" porque cabe no dos grandes filmes de amor e porque já pertence a uma época em que a orientação sexual talvez seja, enfim, inessencial." (Contardo Calligaris)


Compartilho da mesma opinião de Calligaris sobre o último filme de Bruno Barreto. "Flores Raras" faz com que você se apaixone pelas protagonistas e ao mesmo tempo se irrite com elas, sem deixar de torcer pelo romance das duas. Não faria diferença alguma se a história ocorresse entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens. Em certo sentido, faz lembrar do belo filme de Ang Lee, "O segredo de Brokeback Montain"(2006), uma das mais bonitas histórias de amor já contadas no cinema. Eram dois homens, mas isso, de fato, era o que menos importava. "Flores Raras"  foi inspirado no livro "Flores raras e banalíssimas" de Carmem L. Oliveira, que conta a história da passagem da poeta americana Elizabeth Bishop pelo Brasil, entre os anos 50 e 60 e, consequentemente, de seu envolvimento com a arquiteta Lota de Macedo Soares.


O filme vale a pena, em especial, pelas atrizes. A narrativa não traz nada de inovador, mas é incrível a química entre Gloria Pires e a atriz australiana Miranda Otto. O contraste entre a morena, intempestiva e comunicativa Lota com a delicada, alva e retraída Bishop é enfatizado em muitos momentos. Vale a ressalva de que, embora sejam personagens reais, houve toda uma criação das atrizes e do diretor. Ao que parece (pelo menos nas fotos), Bishop não era nada bela como Miranda Otto, nem tão pouco parecia  delicada e frágil.

Algo que me chamou a atenção no filme, e que é raro encontrar nas produções daqui, especialmente nas novelas, é que os personagens são mostrados trabalhando. A personagem de Lota trabalha muito, movimenta-se o tempo todo. Bishop também. Entre um copo de uísque e outro, a poeta escreve e re-escreve seus poemas. Nos filmes americanos isso é muito comum, podem reparar. Todos de alguma forma são mostrados ao fogão, ou cuidando do jardim, ou no trabalho, enquanto vivem seus dramas pessoais. 

Na vida real, durante o tempo que estiveram juntas, Lota e Bishop produziram suas obras- primas. Bishop ganhou o prêmio Pulitzer por "North and South" e Lota projetou o Aterro do Flamengo. Como toda relação muito apaixonada, esta não acabou bem (o final do filme, bem dramático, de fato, ocorreu). No entanto, como também enfatizou Calligaris, foi uma relação de amor que permitiu que o melhor de cada uma viesse à tona. Fez com que eu me lembrasse de outra relação passional bastante conhecida, a da artista plástica Marina Abramovic com Ulay. Ulay inspirou (muito, e de forma positiva) a obra de Marina.

Enfim, "Flores Raras" é um filme que instiga. A pensar sobre o amor. A querer ler Bishop. E a aplaudir Glória Pires. De pé.

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