terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cidades pequenas: ame-as ou deixe-as?

Quem nasceu e cresceu em cidade pequena sabe bem o que é estar constantemente sob o olhar alheio. Sendo a moça mais rica da escola, o filho do prefeito, o padre da principal paróquia ou o discreto vigia do banco, em algum momento, por excessos ou silêncio, sua vida será comentada. Um filme dos anos 50 fez muito sucesso por tratar dos dramas vivenciados em grau máximo pelos moradores de uma cidade chamada "Peyton Place", que ganhou no Brasil o irônico título de "Caldeira do Diabo". Sem ir tão longe, Dias Gomes escreveu maravilhosamente sobre o microcosmo das pequenas cidades como Asa Branca (em Roque Santeiro) e Sucupira (em O Bem Amado). Aguinaldo Silva seguiu a mesma linha em suas tramas regionalistas.

Em uma cidade pequena, o supermercado do centro é um ponto de encontro, assim como a missa, a pizzaria ou a pista de atletismo em que as pessoas caminham de manhã e à tarde. É praticamente impossível sair de casa sem esbarrar com um rosto familiar. Aliás as pessoas, conhecidas ou não, sabem quando você trocou de carro, de namorado ou viajou. É comum ouvir: "vou te contar uma novidade, mas você já deve estar sabendo, a cidade inteira já sabe..."



Quando você é criança ou adolescente, a pequena cidade é o seu universo. Para algumas pessoas adultas, aliás, esta crença permanece. A vida amorosa  das pessoas que vivem nesses lugares é um livro aberto. Mesmo não tendo trocado um oi com Fulano, você sabe quantas namoradas ele teve e por quanto tempo. "Fulano está com Beltrana, mas não adianta, ele sempre vai gostar de Sicrana, a primeira namorada..." Ah, como podem ser românticas as novelas imaginadas por moradores de pequenas cidades...

Muita gente que mora em cidade pequena, saindo ou não para estudar fora, sonha em mudar para uma cidade maior, a capital, de preferência. Tem-se a impressão que é "lá que as coisas acontecem" e que "algo está sendo perdido" se você continuar no interior.  Afinal, chega de ser tão visto, eu quero ser um número, quero pintar o cabelo de roxo, quero sair com quem eu quiser sem ninguém saber, quero ir ao teatro, quero ir para a balada em dia de semana! Isso sim, é vida.

A cidade grande pode ser maravilhosa porque podemos brincar de "homem invísível" e, se não quiser mais ver alguém novamente, abrir um alçapão e sumir. E ainda ver aquele show incrível, conhecer um bar ótimo, encontrar aquele ator de novelas na fila do banco e desfrutar continuamente de novos sabores e sons. E ganhando dinheiro, obviamente.

Mas daí vem a nostalgia. Uma saudade repentina do sotaque caipira, do dono da farmácia que viu você crescer, daquele velho conhecido do colégio que lembra que sua letra era redondinha, do ex-namorado que te trata com carinho, das mais diversas pessoas que te abraçam forte e te contam sorrindo que "teve aula com sua mãe" ou "voou com o seu pai". Ah, a cidade pequena pode te oferecer olhares vigilantes, mas também testemunhas da sua história. E isso, olhem só, é bom.

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