domingo, 9 de setembro de 2012

Brilho eterno de uma mente sem lembranças?

 "Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos"
(Friedrich Nietzsche)


Juliette Binoche e Mathieu Kassovitz em "A vida de outra mulher"(2011)

Fisgada por um filme daqueles "bonitinhos", eis-me aqui, novamente, escrevendo sobre o tempo e a memória. O sotaque francês seduz, Juliette Binoche também, mas "A vida de outra mulher" (2011) não é um filme, digamos, leve. Em certos aspectos faz lembrar muito o brasileiro "O homem do futuro", especialmente em relação aos (muitos) clichês e à trilha sonora bacana, mas ele vai além, é mais denso. E, assim como acontece no longa brasileiro, os atores é que fazem valer o filme, mais do que propriamente o roteiro, que  não é  lá muito original.

Juliette Binoche é Marie, uma mulher que, aos 41 anos, acorda sem se lembrar de nada que acontecera nos últimos quinze anos. Emocionalmente, ela ainda é uma jovem em início de carreira apaixonada e idealista, e não uma mulher bem sucedida, rica e com o casamento em crise. Aos poucos, as circunstâncias vão apresentando a ela (e ao espectador) como foram suas escolhas entre os 20 e os 40 anos que a fizeram chegar onde está. As memórias que Marie têm vão até a primeira noite que teve com o marido, até então seu namorado, no auge do apaixonamento.

A questão que fica é: e se você esquecesse de todas as suas dores, de todas as relações mal acabadas, de todo o ressentimento vivido, como seria sua vida? Haveria mais leveza, você se arriscaria mais?

(...)eu não tinha este coração que nem se mostra.
    Eu não dei por esta mudança,
   tão simples, tão certa, tão fácil:
  Em que espelho ficou perdida a minha face?"
 (Retrato - Cecília Meireles)

Tal tema já foi muito bem trabalhado no já "novo clássico" "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (2004), onde uma clínica oferece às pessoas a experiência de poder esquecer, deletar todas as memórias referentes a um acontecimento ou alguém. O enredo permite a reflexão acerca da repetição. Se eu apagar uma vivência, eu não correria o risco de passar por ela novamente como se fosse a primeira vez? De nada adiantaria eu apagar uma experiência dolorosa, uma vez que outras viriam.Afinal, não é repetindo e elaborando que eu posso seguir em frente?

Em "A vida de outra mulher" Marie tem a chance de rever seu casamento com a mesma paixão dos primeiros dias de relacionamento. Nela, não há a desconfiança e a mágoa que existe no marido. Se eles vão acabar juntando novas e pequena mazelas diárias novamente até chegarem ao mesmo ponto anos depois, não sabemos. Há somente a oportunidade, para Marie, de uma "mente sem lembranças". Não é um típico "filme de chorar", mas prepare os lencinhos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo Lê!Fiquei com muita vontade de assistir!
Beijo
Lelê

Letícia disse...

Assista, Le. Vai gostar! Um beijo, querida.