quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Arquivo (não) confidencial

"Se Mark resolvesse fazer um filminho das minhas mensagens in box, seria um filme pornográfico". Foi assim que um amigo meu, um pândego, comentou o filme de pouco mais de um minuto que o Facebook ofereceu aos seus usuários no mês passado, por ocasião do aniversário de dez anos da rede social. Através de seus misteriosos algoritmos, o facebook selecionou fotos publicadas desde que o usuário entrou na rede (entre elas, as mais "curtidas", claro) e as embalou com um pianinho de chorar. Um agradinho ao narcisismo de cada um, sem dúvida. Não resisti e acessei o aplicativo Look Back (que produzia o vídeo), mas tive de concordar com meu amigo: talvez as mensagens in box (censuráveis, vergonhosas, piegas) estivessem mais relacionadas à trajetória do indivíduo no facebook do que propriamente o que foi publicado. Cheguei a ver filmes repletos de vasos de flores e outros cujos choramingos estavam entre as citações mais curtidas.

Meu filminho foi família.Será que me pareço uma boa moça? Papai, mamãe, sobrinho, irmãos. Muitos amigos queridos não apareceram. Há pessoas, inclusive, importantíssimas, que sequer tenho fotos, quanto mais publicadas.A sensação não foi propriamente de estranhamento, mas há realmente uma distância abissal (que surpresa!) entre o que se publica, o que é mais curtido e o que é, de fato, vivenciado. Meus textos mais queridos são sempre pouco curtidos. No entanto, se posto a foto de um sobrinho ou de um gatinho fofo (que estou sempre prestes a adotar), aí as curtidas vão para a estratosfera. Crianças, novos casais e bichos fofos são sempre os campeões de audiência.

O resultado é que muita gente reclamou e, no final das contas, houve a possibilidade do usuário editar o próprio vídeo. Que bom se a vida fosse assim. Essa pessoa eu recorto, deleto, apago. Esta outra eu trago de volta. Aquela conversa eu esqueço que existiu. Bora editar e colocar uma trilha sonora melhor? O fato é que Mark e seus colaboradores são geniais, sem dúvida. Os filminhos encheram o saco, mas viralizaram no aniversário do FACE, o que era o objetivo. No entanto, se nem palavras escritas (e faladas!) são capazes de dar conta de nossas vivências emocionais mais importantes ao longo de anos, quanto mais um vídeo baseado em algoritmos. O que se conclui é que os sujeitos por trás dos rostos sorridentes dos perfis do facebook ainda são inacessíveis (até para Mark), por mais expostos que estejam. Ainda bem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Minhas inbox seriam propriamente o muro das lamentações... Tantas amizades sem fotografias, como você... Os anos passam, a vida passa e tudo acaba.
Mark, nossa vida é bem mais sombria e deprimente dos as ''fotinhas'' que os outros curtem, ou você acha que alguém poria uma foto pós-pranto noturno de alguém em pré-depressão?

Letícia disse...

Minhas in box são animadinhas, até...rs. E, acredite anônimo, já vi foto de gente chorando!

Anônimo disse...

Esqueci de assinar, rs.. Eddie Saudades de in box animadinhas....rs

Letícia disse...

Vamos animar, senhor Eddie. O comentário anterior foi muito deprê...rs. #psicólogarepressoramodeon