segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sessão de Terapia - a segunda temporada

“O psicanalista banha-se numa trama cerrada e onde a cura, se cura há, é apesar dele” (J.D.Nasio)


Perguntaram-me, dia desses, se a série "Sessão de Terapia", atualmente em sua segunda temporada no canal GNT, fazia bem ou mal à imagem do profissional psicólogo. Não soube responder, a princípio. Theo Cecatto (Zécarlos Machado), o protagonista da série dirigida por Selton Mello, é um homem atormentado, cujos dramas pessoais interferem (e muito) na condução dos casos clínicos que atende. Não é muito diferente de outros psicólogos retratados na ficção, especialmente no cinema americano. O estereótipo mais comum é do homem (ou mulher) perturbado e não raramente, antiético. O que difere, talvez, o personagem Theo é que ele "se cuida". Dora, a personagem da ótima Selma Egrei, faz as vezes de supervisora-terapeuta. Supervisão e psicoterapia pessoal (em geral realizadas por dois profissionais distintos) são condições essenciais para que o psicoterapeuta possa lidar com os seus chamados "pontos cegos". E este investimento é caro para o profissional, o que reflete no preço da sessão. Para o telespectador comum (que não é da área), isso é uma novidade, o que é bom.

Theo não é psicanalista. Selton Mello não deixou claro a linha que o personagem segue, mas isso transparece pelas intervenções realizadas, pelo setting, pela ausência de divã. É possível observar alguns livros de psicanálise na biblioteca de Theo, entretanto. Estão lá, por exemplo, o clássico "As quatro mais um condições para análise" do lacaniano Antonio Quinet. Theo estaria mais próximo, talvez, dos psicodinâmicos, como o psicoterapeuta (Judd Hirsch) retratado no belíssimo "Gente como a gente" (1980) de Robert Redford, ou do terapeuta de Matt Damon, composto por Robin Williams em "Gênio Indomável" (1997). Não tão alegre como Robin Williams, é claro. Zécarlos Machado compõe um psicoterapeuta melancólico, mais contido, inclusive, que na temporada anterior. Meu olhar feminino até o considera mais bonito agora, tamanha a beleza do personagem.

Entre os pacientes (todos muito ricos), o meu preferido é Otávio (Cláudio Cavalcanti). A morte do ator, pouco antes da série estrear, colabora para a comoção. A cena em que o "poderoso" Otávio, com as mãos trêmulas e pouco familiarizado com o celular, lê a mensagem enviada pela filha por quem tem adoração, é perfeita. Não há como não chorar.

Na temporada anterior, todos os pacientes do pobre Theo tinham a agressividade como principal "defesa" e o terapeuta "apanhou" por toda a temporada. Júlia (Maria Fernanda Cândido) também era agressiva, embora sua principal resistência ao caminhar da psicoterapia fosse a transferência erótica desenvolvida pela figura do terapeuta (e correspondida por ele, diga-se). Na atual temporada, com exceção (talvez) do garoto Daniel (Derick Lecouflé), os personagens também se apresentam com uma armadura de força até que um sintoma se apresente. No caso de Carol (Bianca Comparato), uma doença grave: o câncer.

Talvez a sessão mais bonita, ao menos para mim, enquanto psicóloga, foi a de sexta, com Dora. Embora não seja psicanalista (pelo menos, eu acho que não), Dora faz uma questão importante a Theo: "Quem você quer salvar?". Está aí em jogo o desejo do analista. Será que afinal, um analista deve desejar alguma coisa na condução de um caso? Esta é uma questão que atormenta a nós, psicólogos, dia a dia, especialmente os psicanalistas.

Em resumo e em resposta à pergunta que abre o post: apesar dos pesares, acredito que a série leva a público, como já escrevi no ano passado, um pouco do que é a rotina de um psicoterapeuta. Há muito de ficção e exagero, claro, mas nenhum dos casos (re)tratados é inverossímel. Selton Mello afirma, inclusive, que a procura por psicoterapia aumentou muito após a estréia da série. Isso é importante, e é bom. Para quem procura ajuda, para os psicoterapeutas, e para os telespectadores que querem apreciar um bom programa de tevê

* para ler mais, clique aqui  Quem foi que disse que quem é casado com uma psicóloga não precisa de psicoterapia? Tem que ver isso aí...rs.

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