domingo, 22 de julho de 2012

Something

"Something in the way she moves
Attracts me like no other lover"

O beatle poeta George Harrison compôs esses inpirados versos da canção "Something" supostamente para Pattie Boyd, que foi sua mulher de 1966 a 74 (quando passou a ser musa de outro ícone, Eric Clapton).  De alguma maneira, a canção fala daquela "coisa" que o objeto amado tem e que não sabemos descrever, expressar em palavras. É simplesmente "aquele algo mais".

"E ela é bonita?" - pergunta a moça aflita, ao saber que o ex está com outra. Pergunta clássica, embora não faça muito sentido. A dor, afinal, ameniza se a atual for mais ou menos bonita? É comum também a frase de desdém: "E nem bonita ela é, nem bonita." E daí?

Às vezes é algo na forma como "ela" (ou ele) se movimenta, diria Harrison. E tem pessoas que se movem lindamente, sem necessariamente terem uma beleza estonteante. Lembrei da música dos Beatles ao assistir o filme "Minha semana com Marilyn" (2011), em que a normalzinha Michelle Williams interpreta ninguém mais, ninguém menos que  Marilyn Monroe.

Marilyn/Norma Jean era muito bonita. Tinha uma pele de bebê e olhos muito azuis. Isso, sem contar o corpo cheio de curvas. Não tinha a beleza simétrica e natural de Elizabeth Taylor, Grace Kelly ou mesmo Brigite Bardot, mas era linda. No entanto, nenhuma atriz do cinema clássico se movia com tamanha graça e sensualidade como Marilyn. Audrey Hepburn tinha graça, mas não tinha o sex appeal. Para entender do que falo, o trecho a seguir dispensa palavras. Trata-se de várias cenas de bastidores de "Something got to give", o filme inacabado de Marilyn, que seria o último de sua vida.



É difícil interpretar um ícone porque será sempre uma imitação e o original é imbatível. O filme de Michelle Williams poderia ser mais outro dos inúmeros sobre Marilyn, mas não é. A atriz foi, merecidamente, indicada ao Oscar de melhor atriz (2012) pelo papel. Estudou minuciosamente a forma como Marilyn se movia (em cena e fora dela). Foi um trabalho arriscado, pois poderia se tornar facilmente uma caricatura, o que não acontece. O filme em si é leve, mas vale pela composição de Michelle.

Assim como Marilyn, mas sem tanta notoriedade, há pessoas que se movem maravilhosamente por aí e cujas fotos não fazem justiça. Toca perguntar agora não se "a outra é bonita" mas, afinal, "como ela se move?". Muito sábio, este George Harrison.

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