segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Elia Kazan, o cineasta do desejo

A 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo apresenta, entre outros filmes clássicos, uma seleção de um dos meus diretores preferidos: o controverso Elia Kazan.

Kazan era um cineasta turco, que dirigiu várias obras inesquecíveis em Hollywood como "Uma rua chamada pecado "(1951) e "Sindicato de Ladrões" (1954), além do belíssimo "Vidas Amargas" (1955) que marcou a estréia de James Dean no cinema.Como ex-comunista, denunciou colegas de seu ex-partido no Comitê de Investigações sobre Atividades Anti-Americanas, o que teria marcado sua vida para sempre (ele ficou conhecido como delator e traidor pelos colegas). Ao receber um Oscar em homenagem a sua carreira em 1999, metade do auditório o aplaudiu e metade ficou em silêncio, em franco sinal de protesto.Os brasileiros devem se lembrar desta cena, pois foi no mesmo Oscar que nossa querida Fernanda Montenegro concorreu para melhor atriz.

A obra de Kazan é marcada pela sensualidade, tanto que ficou conhecido por ser o cineasta "do desejo" (e da impossibilidade deste). Contrapôs como ninguém os conflitos individuais e a história, mostrando em seus filmes como os fatos históricos interferem nos dramas pessoais, não sendo mero fundo cenográfico, como na maioria dos filmes.

Além do diretor ser um dos meus preferidos, assim também  é o filme que comentarei a seguir:

O Clamor do sexo - Splendour in the grass (1961)



Este é um filme para guardar; talvez um dos que marcaram mais intensamente minha vida. Mesmo para quem não gosta de filmes clássicos, vale a pena tentar assistí-lo porque não envelheceu, nem parece datado. Além disso, o casal protagonista (Natalie Wood e Warren Beauty) é lindíssimo, talvez dos mais belos da história do cinema, competindo de perto com Alain Delon e Romy Schneider. É, inclusive, histórico, pois marca a estréia do jovem Beatty na tela grande.

A história se passa nos anos 20, antes da Grande Depressão Americana no conservador estado do Texas, EUA. O filme é, basicamente, a história de amor e desejo de dois adolescentes, contrapondo-se às tradições, interesses e valores morais de uma época. A temática passa longe de ser simples. Elia Kazan trabalha o roteiro de forma densa e complexa. Algumas cenas originais do filme foram cortadas, por serem consideradas fortes demais para a época. Consta que o primeiro beijo "francês" (de língua) em um filme hollywodiano foi dado por Warren Beatty e Natalie Wood.

O título do filme em português não tem nada a ver com o original em inglês. "Splendour in the grass" ou "Esplendor na relva" é o título original, que aliás faz parte do poema lido por Natalie Wood em uma das cenas mais comoventes do filme.
O filme ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962.

 A fofoca dos bastidores é de que Natalie Wood teria se apaixonado perdidamente por seu colega de cena (Beatty) e deixado o marido (Robert Wagner) para viver sua paixão. Beatty, que foi um garanhão por anos em Hollywood, logo enjoou de Natalie, abandonando-a. A atriz, abalada, teria tentado o suicídio. Mais tarde, ela voltaria com o ex-marido, com que ficou até o fim da vida.

* Este post foi adaptado de outro, que  já foi publicado em 2006 no meu antigo blog, citado aí do lado. Elia Kazan, cinco anos depois, ainda figura como meu diretor do coração.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Você ainda aguenta uma comédia romântica?

Minha teimosia taurina me impele a locar comédias românticas mesmo elas sendo irritantes. Assisti a tantas que adivinho as frases, a hora da cena do aeroporto, o momento em que o cara galinha se transforma em príncipe porque encontrou seu "verdadeiro amor". O objetivo das locações é sempre o mesmo: um filme leve para um dia preguiçoso; algo como uma revista CARAS cheia de figuras para você NÃO pensar. O duro é que eu me irrito e não relaxo. Assim como assistir a novelas, que eu adorava. Os clichês, enfim, tem me tirado do sério. Até os da revista CARAS.

Voltando às comédias românticas, existem as variações. Por exemplo, a comédia dramática. Há momentos engraçadinhos, mas o objetivo mesmo é que você chore. Neste gênero estão os péssimos (desculpem) "Doce Novembro" e "P.S. Eu te Amo". Estes estariam na categoria de "filme de doença", também comentado neste post. Ou a moça ou o rapaz do jovem casal tem uma doença grave e blá, blá, blá. Love Story rules.

Daí que eu resolvi assistir "Sobre amor e outras drogas" (2010), filme sobre o qual havia lido críticas bem ácidas e alguns elogios. É "um filme de doença" e é também um filme em que o cara garanhão transforma-se em moço "bão" porque encontrou o verdadeiro amor. No entanto, embora longo, eu não estava rezando para o filme acabar logo.

Muito, acredito, deve-se ao casal protagonista Anne (fofa) Hathaway e Jackie Gyllenhaal. Os dois tem uma química danada e você esquece que ele já tinha sido o marido gay atormentado dela em "O segredo de Brokeback Montain" (aliás, um dos melhores filmes de amor já feitos). Além disso, gostei da crítica nada sutil à indústria farmacêutica de forma geral e à abordagem do mal de Parkinson, uma doença neurológica degenerativa, que, no filme, acomete precocemente a mocinha Maggie.

Eu já havia jogado a toalha em relação às comédias românticas, mesmo com elencos carismáticos. Anne Hathway provou-me o contrário.Sou ainda capaz de sorrir com clichês sem me irritar. No entanto,tenho saudades de Norah Ephron e Meg Ryan. Não existe comédia romântica melhor do que "Harry e Sally". "500 dias com ela" chega bem perto, mas não ganha.