quarta-feira, 23 de março de 2011

A bela fera


Ela não era doce como Marilyn, nem tinha aquele corpão todo. Também não era elegante como Grace Kelly e Audrey Hepburn. Não cantava e dançava como Doris Day e Judy Garland. Aliás, sua voz tinha algo de esganiçado e era bastante marcante em alguns dos papéis de megera que interpretou. Apesar disso, nunca houve "beleza de cinema" como a de Elizabeth Taylor. Com ela, morre uma época.

Apesar do rosto de anjo, Elizabeth Taylor sempre foi "bocuda". Grandiosa na tela, ela era baixinha (não tinha 1,60!) e invocada. Bem jovem, já falava o que pensava e não tinha papas na língua. Sempre foi conhecida por ser autêntica e fiel aos amigos por mais controversos que eles pudessem ser. Os fãs de Montgomery Clift, Rock Hudson e Michael Jackson, apenas para citar alguns, são gratos a Liz pela generosidade que ela dedicou a eles.

Clift era sua alma gêmea no cinema. Com ele, ela formou um dos casais mais belos em um filme. Foi saindo da casa dela que ele sofreu um acidente quase fatal que deformou seu belo rosto. Ao saber do acidente (em uma das colinas de Hollywood, cheia de curvas), ela correu a pé até o local. O carro estaria destruído com o ator dentro dele. Ela teria aberto o carro e o encontrado afogado com sangue e um dos dentes quebrados. Não teve dúvidas, abriu a boca dele e tirou o dente, salvando sua vida! Além disso, quando, falido e problemático, nenhum estúdio queria arriscar cobrir seu seguro de vida, Liz chegou a dar o seu salário como garantia para que ele filmasse com ela.
Rock Hudson tinha AIDS no auge da paranóia mundial (não se sabia exatamente como era o contágio, por exemplo) e Liz aparecia abraçada a ele. Após sua morte, batalhou junto ao governo republicano e reacionário de Ronald Reagan por verba para pesquisas. Foi uma pioneira. Seu trabalho junto às pesquisas sobre a AIDS cresceu.
E o que dizer de Michael Jackson? Mesmo depois das acusações de abuso sexual e escândalos diversos, Elizabeth Taylor vinha a público acompanhada por ele em eventos, sempre o defendendo. Recusou-se, em 2009 a participar do espetáculo televisivo que a família Jackson organizou por ocasião da morte do cantor. Disse, inclusive no twitter, que sua dor não precisava ser pública.

Ela era uma "criatura do cinema", crescendo aos olhos do público. No entanto, Liz não parecia fake. Adoecia, assumia-se alcóolotra, viciada em comida e carente. Era de uma beleza inimaginável, mas de uma histeria palpável, comum à maioria de nós, mulheres. Seu obituário estava pronto há anos devido as suas inúmeras doenças, mas ela fazia pouco disso. Sua morte não chega a ser uma surpresa, mas não deixa de ser triste, especialmente para os fãs do (bom) cinema.