quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Cristianos

Este post nasceu de uma associação livre. Estava eu ontem assistindo ao Big Brother Brasil (sim, sim, eu vejo aquele programa) quando foi apresentado um clip do macho-alfa de edição, Cristiano. Além dos atributos óbvios do rapaz, fiquei pensando no nome dele. Cristiano não é um nome comum hoje, mas já foi sucesso há uns 30 anos atrás, por conta de Francisco Cuoco. Cristiano Vilhena foi um dos personagens mais famosos de Janete Clair, o herói ambivalente e atormentado de "Selva de Pedra" (1972).

Na época de Selva de Pedra, havia poucos atores trabalhando numa televisão ainda rudimentar. Nos papéis de galã, alternavam no batente o próprio Cuoco e Tarcísio Meira. Tarcísio ficava com os heróis mais épicos (vide João Coragem e, mais tarde, o capitão Rodrigo) e Cuoco com os mocinhos introspectivos e melancólicos. Carlão, o malandro de "Pecado Capital" (1975) viria mudar isso.

Em Selva de Pedra, Janete Clair quis reeditar o drama de um filme clássico dos anos 50, "Um lugar ao sol". Rapaz ambicioso e pobre, que trabalha com família religiosa, decide tentar a sorte junto ao tio, que mora na cidade grande e é milionário. Ele começa a namorar uma moça pobre e, quando esta engravida, vem a atrapalhar seus planos de ascensão. No filme, o grande amor do rapaz é uma moça rica que circula nas altas rodas, o universo de seu tio. Na novela, o rapaz de fato ama sua namorada pobre. Janete Clair dá um final feliz a história original, que é trágica. O papel da mocinha coube a uma jovem Regina Duarte. Cuoco não é tão bom como Montgomery Clift, que faz o papel na tela grande, mas comoveu como Cristiano. Noveleira que sou, toda vez que ouço Cris, me lembro de "Selva de Pedra", até mesmo assistindo ao BBB.
Graças ao youtube, compartilho uma bela cena dos capítulos finais. Diziam que Cuoco era canastrão. Perto dos atores de hoje, ele merecia o Oscar.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Todas as cenas de amor são ridículas?

No ar, mais uma novela do meu autor preferido: Giberto Braga. Há poucos autores que ainda gosto; Gilberto está entre eles. No universo braguiano não podem faltar a podridão de uma elite, as mazelas da classe média, os vilões ardilosos e as relações de inveja e disputa. Como esquecer de Raquel x Maria de Fátima, Maria Clara Diniz x Laura, Yolanda x Júlia Matos? Agora, ao que parece, será Leo x Pedro. O mocinho x o bandido. Torcendo para que o Leo de Gabriel Braga Nunes não nos faça ter saudades de Renato Mendes e Olavo Novaes.

No entanto, o papo deste post não é sobre o vilão, mas sobre os mocinhos. Como é difícil fazer o mocinho em qualquer novela, não acham? Mocinho e mocinha. Sobre Marina Drumond (Paola Oliveira), a heroína, os primeiros capítulos já fizeram questão de ressaltar o quanto ela é corajosa, batalhadora e moderna. Capaz de co-pilotar um avião e até beijar um rapaz que mal conhece depois de quase morrer. E Pedro, o herói de Eriberto Leão, encarnou uma versão tupiniquim de Keanu Reeves em "Velocidade Máxima". Demais para a minha cabeça. O pior de tudo não foi isso, mas o amor à primeira vista entre o dois. Por que as novelas insistem nisso, santo Deus? A cena em que os dois se declaram apaixonados foi pouco convincente, não conseguiu emocionar. A gente não vê isso, não parece crível. A paixão existe, sem dúvida, a maior parte de nós, maiores de 13 anos já passou por isso uma vez na vida. São os diálogos é que parecem inacreditáveis. Os americanos são melhores nisso, especialmente nas séries.

Não acho que as cenas de amor precisem ser ridículas. A maioria é, mas não precisam ser. É possível serem até um pouco piegas, mas não é necessário que sejam patéticas. O próprio Gilberto Braga escreveu cenas memoráveis para a corajosa mocinha Solange Duprat (Lidia Brondi) em Vale Tudo. Há cenas de paixão explícita entre ela e o Afonso de Cássio Gabus. E são realistas, mais de 20 anos depois. E Miguel Falabella escreveu um mocinho de arrepiar: o Gustavo de Wagner Moura em "A lua me disse". Adriana Esteves fez Heloísa, a heroína convincente que comeu o pão que o diabo amassou. As cenas entre os dois são lindíssimas.

Se alguém mais se lembra de cenas de amor emocionantes, palpite. Enquanto isso, deleitem-se com Capitão Nascimento apaixonado. Wagner Moura é rei, mas havia um bom texto por trás.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Anos Incríveis

Não sei por qual razão, estabeleceu-se que adolescente é um ser imbecil. Se não há essa crença, como explicar o fato de que muitas obras de ficção atuais o tratam como tal? De filmes americanos a Malhação, qual é a linguagem utilizada com adolescentes? Personagens pobres, enredos, idem. Peralá, falta de vivência não implica em imbecilidade, certo?
Foi nesse clima pessimista que assisti "As melhores coisas do mundo" de Laís Bodansky, apesar dos muitos elogios recebidos. Fiuk, éca, esbravejou meu lado preconceituoso. Sem esperar muito, fiquei extremamente feliz com o filme. Kevin Arnold ficaria orgulhoso.
Adolescentes são pessoas, não caricaturas. Estamos mais propensos, nesta época, a ter comportamentos não tão bacanas. É só lembrar da nossa própria adolescência e pensar em como pessoas legais faziam e diziam coisas cruéis, inclusive a gente. Ditadura do grupo é terrível, o colégio é o universo e o primeiro amor é o único. O primeiro pé na bunda a gente também nunca esquece e se "a fila não anda" queremos  morrer. Eu tinha uma fita K7 inteira com "Take my breath away" e "Every breath you take", o melô do apaixonado obsessivo, a trilha de uma morte iminente. Em tempos sem facebook e derivados, eu roubava fotos 3x4 de carteirinhas da escola.
O que quero dizer é que o filme de Laís Bodansky me fez pensar na minha adolescência. Apesar da globalização e da internet, o adolescente dos anos 2000 não estão muito distantes de adolescentes de outras épocas. Algumas feridas doem do mesmo jeito. Embora seja óbvio, a diretora mostra que  adolescentes podem ser personagens encantadores e complexos. Algo da adolescência permanece em nós já adultos, mas jamais teremos aqueles mesmos olhos novamente. Ou seja, "As melhores coisas do mundo" é um filme para assistir e guardar.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

E feliz 2011...


Neste início de 2011, lembrei-me de uma comédia que assisti lá nos anos 90 e que acabou virando um (novo) clássico: "O feitiço do tempo". Aparentemente despretensioso, o filme faz a festa dos psicanalistas, embora esteja longe de ser um Bergman.
De forma bem resumida, Phil (Bill Murray), o protagonista repórter, fica preso no dia que mais odeia: o dia em que é obrigado a cobrir uma festa local em uma cidade pequena. Imagine você acordar todo dia do mesmo jeito, na mesma hora e saber tudo o que vai acontecer, com quem vai falar e como. Os roteiristas da "Grande Família" fizeram uma adaptação da história com Nenê ficando presa em um mesmo dia. E dá-lhe Chico Buarque embalando Marieta Severo com "Cotidiano". O episódio é quase tão bom quanto o filme, contando ainda com Rogério Cardoso como "seu" Floriano.
Bem, mas o que isso tem a ver com 2011, com o blog, conosco? Sem precisar recorrer a ficção, será que vamos fazer de 2011 uma cópia de 2010, 2009 ou, sei lá,  2000 e...2? Com o tempo, parece que os anos vão ficando meio iguais e se não tiverem um marco para os identificarem, não os diferenciamos (vide o ano da formatura, do casamento, do primeiro filho que nasce). Bom, e se não houver marcos? E se as viagens de verão forem sempre para o Guarujá? E se o apartamento tiver  a mesma decoração desde 98? E se as lamentações forem sempre as mesmas (homem é tudo igual, como estou gorda, como estou cansaaaada, como ganho mal)? Nêga, os anos viram uma massa só. E em Dezembro diremos que mais um "passou voando".
O personagem Phil, após várias tentativas, se livra do "feitiço do tempo". Que nos livremos dos nossos "feitiços" e que possamos criar em cima de nossas repetições compulsivas. 2011 pode ser diferente, tentemos nos inspirar. "Dos cacos, farei um vitral", já escreveu a grande Adélia Prado...