terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Minhas dez novelas do coração (2001-2010)

Gosta de listinhas? Final de ano é uma época de fazer listas: do que foi feito no último ano, do que pretendemos alcançar no ano que vem. Bóra falar de tevê? Embora ande meio decepcionada com meus teledramaturgos preferidos, resolvi fazer minha listinha de dez mais. Com vocês, as dez melhores novelas da década, na opinião da humilde blogueira.


10) "O Clone"(Glória Perez, 2001) - Para muitos, a melhor novela da década, do que discordo veementemente. O mundo acabara de ver as torres gêmeas serem bombardeadas por dois aviões e os árabes taxados como inimigos públicos número um , devido ao terrorista Osama Bin Laden. E lá vem Glória Perez nos apresentar Jade, a marroquina muçulmana com sotaque de garota de Ipanema, que se apaixona por um ricaço brasileiro, o Lucasssssss. E dá-lhe ponte aérea Brasil-Marrocos como se fosse Rio-São Paulo. A novela virou febre (de pulserinhas da Jade a expressões ditas por Nazira). Giovana Antonelli fez moda com seu cabelão, a dança do ventre e os olhos pintados de cajau. Houve também a grata surpresa de Débora Falabella e sua Mel. Fantasiosa em demasia para o meu gosto, mas a parte dramática teve bons momentos.Tio Ali ( Stênio Garcia) e suas pérolas virou meu ídolo.
09) "Da cor do pecado" (João Emanuel Carneiro, 2004) - Um bom novelão das sete, talvez a melhor da década. João Emanuel brinca com os elementos clássicos do folhetim, sempre com um bom núcleo de comédia. Foi a primeira novela global com uma protagonista negra: Thaís Araújo. Reynaldo Gianechinni viveu os gêmeos Paco e Apolo e havia a família Sardinha, uma família que quase virou série independente, tamanho o sucesso.
08) "Senhora do Destino" (Aguinaldo Silva, 2004) - Fora "Tieta", uma adaptação da obra de Jorge Amado, foi a única novela de Aguinaldo Silva de que realmente gostei. A Maria do Carmo de Suzana Vieira era uma chata, mas tínhamos a Nazaré Tedesco de Renata Sorrah. Suas cenas com Elizângela, a antiga companheira de "vida fácil" Djenane, foram antológicas. Leandra Leal deu show como sua enteada, ao lado do doce Leonardo Vieira. Última novela de Raul Cortez, já bastante doente. José Wilker arrancou risadas com seu bicheiro "do bem" Giovanni Improta ("o tempo ruge e a Sapucaí é grande").
07) "Mulheres Apaixonadas" (Manoel Carlos, 2003) - A última novela decente de Manoel Carlos. Um milhão de personagens intercalavam suas histórias com a de Helena, a diretora do colégio particular Era. Única Helena de Cristiane Torloni, que era uma chata. Destaque para as meninas fofas que se amavam (Aline Moraes e Paula Picarelli), a doce Salete (Bruna Marquezine), a "Helouquisa" (Giulia Gam) e o MADA, a politicamente incorreta Dóris (Regiane Alves) e a maravilhosa estréia de Dan Stulbach e sua raquete do mal.
06) "Caminho das Índias" (Glória Perez, 2009) - Ganhou o Emy de melhor novela do mundo. Nada desprezível, não? Como sempre, Glorinha fez aquela misturêra básica: esquizofrenia, psicopatia, costumes indianos, etc, etc. Conseguiu fazer uma trama bem amarrada, apesar das licenças poéticas exageradas. Primeira vez que eu gostei de uma mocinha da Glória Perez: Juliana Paes fez muita gente chorar com sua Maya. E o Raj de Rodrigo Lombardi roubou a cena e a mocinha do esquecido Bahuan de Márcio Garcia.
05) "A lua me disse" (Miguel Falabella, 2005) - Miguel Falabella em boa forma, embora a novela não tenha sido aquele sucesso todo. Última novela das seis que assisti. Falabella é nosso Pedro Almodóvar com suas mulheres escandalosas e cheias de cores. Havia o homem travestido, a cantora de bar, a índia e as negras arrogantes. Nada politicamente correto. Arlete Salles era Ademilde, a mulher lutadora que havia sido abandonada pelo noivo e buscava um amor pela internet. Wagner Moura era o melhor mocinho de todos, com seu doce Gustavo. E Adriana Esteves era a mocinha destemida. Uma delícia de novela, ri demais.
04) "Paraíso Tropical" (Gilberto Braga, 2007) - A novela começou devagar, mas engrenou bem depois, caindo no gosto do público. Foi o ano de Wagner Moura. Além do herói Capitão Nascimento, ele arrebatou a mulherada com seu vilão deliciosamente canalha Olavo Novaes. Uma dupla inesquecível com a Bebel, de Camila Pitanga ("na minha cara está escrito: CAL-ÇA-DA!") roubou a cena da novela, que ainda contou com Alessandra Negrini, com suas gêmeas Paula e Thaís.
3) "Belíssima" (Silvio de Abreu, 2005) - O tema era a beleza e a tragédia. Tanto é que a novela, não por acaso, começa na Grécia. O mote condutor era a rivalidade entre a rica e malvada Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e sua neta Vitória (Cláudia Abreu). O laço familiar que as unia só é descoberto nos últimos capitulos. Destaque também para o ambivalente André Santanna de Marcelo Antonny e para a família grega espalhafatosa que contava com Irene Ravache, Lima Duarte e Cláudia Raia. Primeiro papel cômico de Gianechinni, o Paschoal.
2) "Celebridade" (Gilberto Braga, 2003-2004) - A trama era inspirada no clássico filme "A Malvada". Dissimulada aspirante a atriz (Anne Baxter) toma o lugar de sua ídola no teatro (Bette Davis). Sai Anne Baxter, entra Claudia Abreu. Sai Bette Davis, entra Malu Mader. O fio condutor da novela é o sentimento tão universal da inveja. Claudia Abreu também roubou a cena de Malu, lindíssima como a produtora Maria Clara Diniz. Márcio Garcia segurou bem o papel de comparsa de Laura, o Michê. E como era irresistível o personagem Renato Mendes, de Fábio Assunção...
1) "A favorita" (João Emanuel Carneiro, 2008) - Que beijinho doce tinha Flora. Tanto que Patrícia Pillar enganou meio mundo como sendo mocinha da novela. Na verdade, a mocinha era a espalhafatosa Donatella de Cláudia Raia, que comeu o pão que o diabo amassou. João Emanuel inovou em muita coisa na elaboração do roteiro da "Favorita", primando pela coerência dos personagens. Mariana Ximenes, Cauã Reymond, Glória Menezes, Elizângela e impagável Ary Fontoura estavam ótimos. Isso sem contar a dupla de protagonistas. Flora foi a pior vilã de todas, pois odiava a própria filha, um tabu, mesmo entre vilãs de novela.

Concordam com a lista? Comentem aí! Há novelas boas de outras emissoras, mas como não as assisti, não posso opinar. Convenhamos que os últimos anos não foram os melhores da teledramaturgia.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Há um moreno na sua vida...

Que atire a primeira pedra a mulher que nunca foi a uma cartomante (ou ao menos sentiu-se tentada a ir). Desde os 15 já ouvimos falar de alguma "boa" que acerta tudo ("não tinha como ela saber, juro") e que geralmente mora numas quebradas, em alguns cantos da cidade que sequer imaginávamos existir. Além de ler cartas, algumas lêem a mão, são benzedeiras e ensinam simpatias. Mil e uma utilidades, portanto. Outras, dizem, falam sobre você mesmo que  não esteja presente (é só levar uma peça de roupa, por exemplo). Algumas tem fila de espera ("só tem horário pra Agosto do ano que vem!") e Fulana de Tal vem do Cafundó do Judas para consultar com essas tais. Pois é, quem é que não quer saber do futuro?

No entanto, não precisa ir a uma delas para que ela, a vidente, saiba que você sofre de amor. Cartomante que é cartomante fala do triângulo amoroso. Ele vai largar de você para ficar com ela ou vai largar dela para ficar com você? Há sempre uma outra e ela tem inveja de você, cuidado. É que você tem "estrela", gera muita inveja mesmo.

Uma carta vai chegar e vai haver uma festa. Há sempre um moreno ou um loiro, ou os dois. Um deles usa uniforme (tanto faz se de carteiro, médico ou militar). De qualquer forma, chegará um novo homem em sua vida, esqueça o do triângulo amoroso se ele te faz sofrer.
Brincando com essas inseguranças femininas e outras questões mais complexas, Woody Allen fez seu último filme ("Você vai conhecer o homem dos seus sonhos" - You Will Meet a Tall Dark Stranger). Extremamente irônico e cáustico, o diretor nos faz rir, às vezes de forma melancólica, de nós mesmos e deste mundo cão. Curiosamente, às vezes cartomantes são necessárias para que acreditemos, de fato, que  nossa estrela vai brilhar. E que mesmo os mais realistas e céticos fazem-se enganar sem precisar delas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO

"Você acha que ele está como você por conta de sua inteligência?" - pergunta alguém a Jenny (Carey Mulligan), a personagem central de "Educação"(2009). Taí uma pergunta que me instigou, entre tantas deste filme. Identifiquei-me, em certo aspecto com Jenny, a adolescente que queria ser adulta, ávida por cultura e novas experiências. Jenny é aluna de um colégio conservador na fria Inglaterra pré Beatles e Rolling Stones que se envolve com um homem com o dobro de sua idade.
A estética sessentinha (do início dos anos 60) é encantadora, assim como a trilha sonora. O roteiro foi escrito por Nick Hornby (Alta Fidelidade), um cara que já provou entender das inseguranças dos rapazes na faixa dos 30-40 e que se arriscou a escrever sobre uma menina adolescente. Na verdade, ele se baseou em um artigo auto-biográfico da jornalista Lynn Barber, e é bem difícil (pelo menos para mim) identificar o seu estilo no filme. No entanto, ele ajudou a escolher algumas músicas da trilha, outra de suas especialidades, vide a maravilha que é a coletânea de Alta Fidelidade, uma pequena obra prima.
Jenny é uma adolescente nerd que vive um dilema: o que escolher, a carreira na universidade de Oxford ou uma vida cheia de ousadias e novidades junto a um homem bem mais velho que ela? A estreante Carey Mulligan lembra (de longe) a doce Audrey Hepburn e já virou queridinha dos fashionistas com seus vestidinhos retrô.
O título que o filme teve na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi "Sedução". O título em inglês é "An education", mais próximo do título definitivo que ganhou no Brasil. Voltando a pergunta que dá início a este post, o longa questiona o quanto tem valor, de fato, a educação formal de uma mulher nos anos 60 e (por que não) hoje também .Jenny, ao que parece,  acreditava que David, o charmoso trintão, gostava dela por ela ser culta, ouvir música francesa e ser especial. Seria isso, de fato? Ou o encanto estaria no fato dela ter apenas16 anos? Um filme com um enredo aparentemente simples mas que faz pensar. Sobre meninas, mulheres, relações, escolhas e renúncias.