domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre o casamento de Danielle Winitts e outras histórias...

Lya Luft escreveu sobre o assunto na VEJA de hoje. Que assunto? O machismo, olha só. Algo que parece tão anos 50 e está aí, tão atual. Em conversa com um motorista de táxi, ela ouviu dele, um tanto quanto estupefata comentários de que existem mulheres para casar ("limpinhas", que cuidam dos filhos e colocam a comida na mesa na hora certa) e mulheres para se divertir (meninas bonitas, mais sexualizadas). Ouviu também que homem é homem, sabe como é. Precisam se divertir de vez em quando. Ou seja, a mulher "limpinha" em casa não basta.
Não precisa conversar com um taxista para ouvir coisas semelhantes. Já ouvi algo parecido de amigos bem bacanas. Na internet, muitas vezes uma terra de ninguém, sob a proteção do anonimato lê-se coisas bem menos abonadoras a respeito das mulheres. Todos os comentários querendo colocá-las no seu devido lugar (seja qual for ele).
Por exemplo: em um site destes, de fofoca, durante esta semana pipocou a notícia de que Danielle Winitts iria se casar com Jonatas Faro, bem mais jovem do que ela. Entre vários comentários revoltados, um deles pedia para que "essa senhora de idade se comportasse, pois mulheres velhas como ela deveriam se dar ao respeito e estar no bingo (!)". Outro, antecipava o fim próximo do namoro-casamento, pois afinal, ela tinha pago para o garoto estar com ela,  pois era uma "baranga velha e rodada". Detalhe: Danielle Winitts tem 36 anos.
O fato de surgirem boatos a respeito da infidelidade da atriz com o primeiro marido (o modelo Cássio Reis) só agrava a ira e faz dela a Geni da vez. Vagabunda, joguem pedra nela. Como ousa gozar a vida, ainda mais com um cara mais jovem?
Sei lá, em tempos ditos tão mais democráticos, ainda me choca ler comentários deste tipo, do mesmo que fizeram de Geise Arruda no fatídico caso Uniban. Foi vaiada, ameaçada de estupro por um bando de estudantes? Ora essa, ela provocou, onde já se viu ir vestida daquele jeito na faculdade? Eliza Samudio foi assassinada cruelmente pelo goleiro Bruno e sua gangue. O próprio advogado do acusado se pronunciou: ora essa, quem ela era? Maria-chuteira, garota de programa, atriz pornô. Ué, merece ser assassinada por conta disso? Tem menos direito à vida do que uma freira, por exemplo?
Eu achava que o feminismo, 40 anos depois, era uma bandeira um tanto quanto antiquada e cafona nos dias de hoje. Estava errada. A mulher desejar e fazer do seu corpo e desejo o que bem entender ainda é uma afronta. Mulheres assim não são mulheres limpinhas com quem se casa e "se respeita". Danielle, Geise e Eliza não são mulheres que admiro, mas estão no seu direito de fazerem o que bem quiserem sem serem apedrejadas por isso. Pelo visto, muita gente discorda.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vale Tudo, again.


Bóra eu falar novamente da dona Odete e cia. Meses atrás narrei um diálogo de "Vale Tudo" reproduzido por mim e um grande amigo em um restaurante (loucos). Como se não bastasse a tamanha loucura e saudosismo nossos, eis que a novela retorna em reprise (Canal Viva) e vira febre novamente, com os gritos de Raquel Acioly, as bebedeiras de Heleninha e a franja de Solange Duprat. E, é claro, as frases politicamente incorretas de Odete Roitman.
Gilberto Braga, para quem lê este humilde blog, é recorrente em minhas recordações saudosistas. Esqueça os fúteis do Leblon de Manoel Carlos, pois é Gilberto Braga que retrata melhor o que há de mais cáustico e podre entre os ricos cariocas. Seus mocinhos são enfadonhos, mas os vilões são os melhores. Haja visto a própria Odete, Felipe Barreto, Renato Mendes, Laura Prudente da Costa e Olavo Novaes. Seus vilões tinham humor.
Voltando a Vale Tudo, novela de 1988/89, algumas coisas continuam bem atuais, mas muito envelheceu. Não sei se é por conta das imagens antigas, mas algumas cenas estão muito escuras. Tudo era mais pobre, até a casa dos ricos não tinha tanto luxo como hoje. A corrupção continua uma praga que corrói o país, mas o desemprego, o horror dos anos 80, não está mais tão assustador. A classe C e D pode comprar mais e ter acesso a bens de consumo inimagináveis naqueles tempos. Além disso, viagens internacionais que eram quase inacessíveis naquela época, estão bem mais próximas da classe média. Isso tudo, fruto de uma economia estável, algo que era bem distante da realidade em 88. Um luxo, para o rapaz rico (Tiago, filho de Marco Aurélio) era ter uma extensão telefônica no quarto, além de uma televisão. Eram tempos sem computador e celular. Ah, e um grande presente era dar um disco de vinil.
Alguns golpes da vilãzinha Maria de Fátima não seriam necessários.O golpe da simulação de incêndio na revista Tomorrow  para roubar a agenda de Solange, por exemplo. Ela queria apenas o nome do cabeleireiro de uma atriz famosa. Hoje é fácil saber disso pelas revistas, pois os próprios "hair stylist" são celebridades. O mundo todo mudou e é globalizado.
Pessoalmente, minha posição também é outra em relação à novela. Para mim, na época, Raquel, a mãe de Fátima, era uma senhora. Hoje, vejo Regina Duarte quase como uma menina, muito jovem, pois estou mais próxima da idade dela na época (40)  do que a idade de Glória Pires (25, uma garota). Em 1988, eu  estava no início da adolescência, sonhando com a viagem de formatura. Tenho todo este ano registrado em diário e a impressão é de que foi ontem que eu tinha um abrigo colorido da Benetton, parecido com o de Flávia Monteiro. Assistindo, hoje, à novela, vejo que não foi. Já faz 22 anos. Uma verdadeira viagem no tempo.