quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O que aconteceu com Geraldo Vandré?

Por desinformação ou, talvez, por alguma informação errada, eu acreditava que Geraldo Vandré, grande artista da MPB, estava morto. Foi com bastante surpresa que descobri, através de um intervalo da Globo News que ele estaria vivo e que, depois de 40 anos, voltaria a falar com a imprensa. Era o programa "Dossiê Globo News".
Geraldo Vandré, para quem não sabe, compôs a obra-prima "Disparada" e o hino de uma geração: "Caminhando (Para não dizer que não falei das flores)". É dele a célebre frase "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Tinha em Vandré, desde a adolescência, a imagem do grande poeta e do engajado político, daquele que não se calava diante do que acontecia no seu país. Lembro-me de meu querido professor de História falando do sofrimento do artista, que teria passado por torturas físicas e psicológicas terríveis por conta de uma canção.Talvez viesse daí a idéia de que ele estivesse morto.
Assisti à entrevista com um aperto no peito. Estava lá um senhor de cabelos brancos de postura encolhida e olhar distante, vestindo uma camiseta com o emblema da Força Aérea Brasileira. Poucas vezes alterou-se durante as perguntas. Não expressava dor, melancolia, raiva, irritação ou doçura. Parecia não haver ninguém naquele corpo. Ele vive sozinho hoje, aos 75 anos com, ao que parece, ajuda da FAB, honorários de sua produção artística e aposentadoria de quando era funcionário público. Não se casou, não teve filhos e tem poucos amigos. Cuida da mãe que ainda é viva.
Ao falar da comoção causada por sua canção emblemática (Caminhando) no Maracanãzinho, ele pede: "deve ter o VT lá na sua estação, eu queria ver". O VT não foi encontrado.
Nega que foi militante e que suas músicas eram de protesto, inclusive "Caminhando". Disse não ter sido maltratado pelas Forças Armadas. Alega não ter gravado mais porque o Brasil ,depois que voltou do exílio não é o mesmo Brasil de 1968. Repete várias vezes algumas frases, há algum resquício de uma pessoa diferenciada intelectualmente aqui e ali, mas é só. O raciocínio parece não chegar a lugar nenhum.
Teria sido Vandré uma criação? O que aconteceu com ele? Uma geração inteira projetou demais em sua figura ou ele perdeu-se em algum lugar? Houve de fato, tortura? Se sim, o que foi feito de Vandré? Utilizo uma frase do próprio para terminar este post: "Vandré foi exilado em 68 e nunca mais voltou".

* Vale apena assistir a esse emocionante vídeo com cenas da época, embaladas por aquela que foi o hino nacional de uma geração.