domingo, 16 de maio de 2010

O segredo dos seus olhos

"Brasileiro não tem memória", dizem muitos. Eu concordo em partes quando converso com pessoas que nem sabem que houve uma ditadura no Brasil, ou que elogiam Fernando Collor e Sarney. Em contrapartida, sinto que nossos vizinhos chilenos e argentinos sofrem de reminescências. A impressão que tenho é que são povos mais melancólicos, passionais, saudosistas. Fazendo uma comparação grosseira, o ritmo símbolo do Brasil é o samba, enquanto que o da Argentina, por exemplo, é o trágico tango.Tudo isso para falar do filme mais emocionante que assisti nos últimos, sei lá, dez anos. "O segredo dos seus olhos" (2009), filme argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro merece, de fato, todas glórias que recebeu. Há uma melancolia cortante que percorre todo o filme, apesar de te fazer rir com gosto em muitos trechos.

Os dois personagens masculinos principais sofrem com suas lembranças, associadas às mulheres que amaram e com as quais não puderam vivenciar e concluir uma história. O pano de fundo é o cinzento ano de 1974, auge da ditadura argentina (e também brasileira). O filme trata de histórias dolorosamente interrompidas. Em suma, trata-se de um filme de amor, ainda que seja também um drama e um bom suspense. Riso e choro se alternam na sala de cinema.

Apesar da estrela do filme ser o ótimo Ricardo Darín  (ator fetiche do diretor Juan Jose Campanella), a fragilidade impressa  por Pablo Rago comove. Aliás, esta ator participou de outro grande filme argentino, ganhador do Oscar de 86, o belíssimo "A história oficial", também passado nos tempos da ditadura. É um legítimo filme "de cinema", para assistir no escuro, olhando para uma tela grande, sem pausas para recuperar o fôlego. Vale a pena.